FILMES CLSSICOS NAS TELONAS: O EXORCISTA
Saiba tudo sobre o clssico que o Cinemark exibe nos seus cinemas dias 4, 5 e 8 de abril
Sexta temporada de Clássicos na Rede Cinemark
Os filmes desta temporada são:
- Rocky, Um Lutador - 28 e 29 de março; 1º de abril
- O Exorcista - 4, 5 e 8 de abril
- Mary Poppins - 11, 12 e 15 de abril
- Um Corpo que Cai - 18, 19 e 22 de abril
- Perfume de Mulher - 25,26 e 29 de abril
- De Volta para o Futuro 2 - 2, 3 e 6 de maio
O Exorcista (The Exorcist)
EUA, 1973. 122 min. Diretor William Friedkin. Elenco: Ellen Burstyn, Max Von Sydow, Lee J. Cobb, Kitty Winn, Jack MacGowran, Jason Miller, Linda Blair, Peter Masterson. Ponta de William Blatty como o produtor. Voz de Mercedes McCambridge.
Sinopse: Em 1973, Georgetown, cidade universitária de Washington. D.C. Uma atriz famosa Chris McNeil percebe que Regan, a sua filha de 12 anos está tendo um comportamento assustador e, por isso, pede ajuda a um padre, que também é um psiquiatra. Ele chega à conclusão de que a garota está possuída pelo demônio e solicita a ajuda de outro sacerdote, especialista em exorcismo, para tentar livrar a menina desse terrível mal.
Comentários: Não havia na época filmes sobre esse tema, pessoas possuídas pelo demônio e que padres católicos tentavam exorcizar. Foi o que percebeu o escritor e roteirista William P. Blatty (1928-) que primeiro escreveu o livro (que foi grande best-seller) e depois o roteiro do filme. Ele era grande amigo de Shirley MacLaine e inspirou-se nela para o papel central (Shirley achou melhor recusar porque já mexia com assuntos semelhantes, vida após a morte e que tais). Já tinha escrito para ela filmes como O Harém das Encrencas. O curioso é que antes era especializado em comédias como Lili, Minha Adorável Espiã com Julie Andrews, A Deliciosa Viuvinha com Warren Beatty, O Grande Roubo do Banco com Kim Novak, Um Tiro no Escuro com Peter Sellers, O Homem do Diner´s Club com Danny Kaye. O êxito foi tão grande que desde então virou diretor (A Nona Configuração e O Exorcista III). Ainda vivo, está aposentado.
É difícil imaginar hoje o incrível sucesso e mesmo escândalo que teve o filme, já que os americanos e europeus nunca tinham visto nada parecido. Provocou também inúmeras imitações num tipo de terror que na época foi responsável por desmaios e gritos, ainda que para brasileiro acostumado com rituais de umbanda ou candomblé impressione menos. Em parte também pelo exagero de certos efeitos especiais (difícil levar a sério a menina vomitando verde) e pelo fato da voz do diabo ser dublada (pela veterana atriz Mercedes McCambridge). A última reprise teve certos acréscimos ao filme, como a aparição de uma aranha e outros detalhes tenebrosos.
E o mais engraçado é que foi levado a sério, ganhando Oscars de melhor roteiro (Blatty) e som, sendo indicado também para melhor filme, atriz (Ellen Burstyn, que já havia ganhado em 1975 por Alice Não Mora mais Aqui, de Scorsese), ator coadjuvante (Jason Miller, pai de Jason Patric), atriz coadjuvante (Linda Blair), diretor (William Friedkin), fotografia, direção de arte, montagem. Ganhou Globos de Ouro de filme, roteiro, coadj (Blair), diretor (no caso William Friedkin, que já havia ganhado o Oscar 2 anos antes com Operação França!).
As continuações: Com uma renda tão grande, naturalmente houve continuações, mas nenhuma delas deu certo. No Exorcista II, O Herege, o erro foi dar um tratamento de filme de arte, com um diretor requintado (John Boorman, de Excalibur), mudando a atriz central (Louise Fletcher no lugar de Ellen, com quem era muito parecida) e o padre Lamont é enviado pelo Cardeal para investigar a morte do padre Merrin e descobrir porque Reagan foi possuída pelo demônio Pazuzu. Para coletar informações, Lamont vai até a África para encontrar Kokumo, outra vítima de possessão que havia sido tratado pelo padre. Em vez de fazer uma fita sangrenta, ele preferiu dar uma visão pessoal do mito com cenas estilizadas e não realistas. Richard Burton herdou o papel principal. Quando o filme estreou, o estúdio entrou em pânico cortando sequências inteiras e fazendo uma remontagem apressada.
Já O Exorcista III (The Exorcist III: Legion, 1990) tem Scott apático, numa de suas interpretações menos marcantes, chegou a ser indicado ao Framboesa de pior ator, que não ajuda este esquecido capítulo. O curioso é que o livro original de Blatty, Legion, não tinha nenhum exorcismo, mas isso foi imposto pelo estúdio, assim como o título e a presença de Jason Miller, do filme original. Mas Blatty também não é grande realizador, o que tornou o filme medíocre e esquizofrênico, reciclando velhas ideias junto com outras influenciadas pelo caso real dos serial killer Assassinos do Zodíaco. Ainda assim é menos ruim que as tentativas de ressuscitar a franquia em 2004.
O anterior e Exorcista: O Início (IV) na verdade são os filmes do fim do ciclo. Este aqui tinha a fotografia do grande Vittorio Storaro (dos filmes de Bertolucci e Saura), considerado um dos maiores diretores de fotografia do mundo. A Warner não contente em ter feito já três filmes resolveu também produzir uma espécie de prólogo, que foi dirigido por Paul Schrader. Mas achou pouco assustador e num gesto inédito mandou engavetá-lo e fazer outro, começando do zero, por ouro diretor, que por sinal também estava fora de forma, Renny Harlin (Duro de Matar 2). Virou O Exorcista IV: O Inicio, 04. Difícil achar o outro filme mais fraco, menos assustador e necessário do que este.
Chamaram o ator sueco Stellan Skasgaard para fazer o Padre Merrin (que no filme anterior foi interpretado por outro sueco, Max Von Sydow) mostrando o primeiro encontro dele na África com o demônio chamado Pazuzu. Criaram então uma estória elaborada, passada no fim dos anos 40, no Norte da África, quando desenterram da Areia uma Igreja onde tudo parece muito estranho, começando pela cruz de Cristo que está de cabeça para baixo. Há uma jovem médica em perigo que sobreviveu a um campo de concentração (Izabella Scorupco) e um jovem padre enviado pelo Vaticano (desperdiçado James D´Arcy de Dicionário de Cama). Em nenhum momento há qualquer clima ou tensão. Muito menos sustos.
Resta falar de Domínio, que é aquele de Paul Schrader, que ficou meio incógnito por aqui. Elenco quase desconhecido (a não ser novamente Stellan!), novamente em luta contra o Puzuzu.
Será que o diabo não gostou do Exorcista? Deve ter se divertido com o sucesso do primeiro mas irritado lançou alguma maldição, porque tudo que ganharam perderam depois nas continuações ridículas.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.