A pesquisadora e antropóloga Nara Oliveira faz um ensaio amplo e forte de como se manifestam as práticas culturais e sociais entre-fronteiras na Tríplice Fronteira formada por Brasil (Foz do Iguaçu), Argentina (Puerto Iguazú) e Paraguai (Ciudad del Este). Seu livro Foz do Iguaçu intercultural: cotidiano e narrativas da alteridade (2012) é um de meus achados tardios, e o descobri num posto de venda à entrada das Cataratas. Com diversificado aparelhamento sociológico, que ela incorpora com extrema densidade a suas possibilidades de reflexão, e capaz de adaptar suas bases teóricas a um corpo-a-corpo com a realidade onde ela entrevista imigrantes e nativos percorrendo-lhes as intenções, origens e fins, Nara apaixona o leitor pela lucidez de suas ideias e pela transcendência e perspicácia das imagens que ela cria para seus pensamentos sobre a cidade e os habitantes que escolheu para sua tese dos aspectos regionais-universais duma comunidade como a  de Foz do Iguaçu; uma das imagens é a figura geométrica do poliedro, que, por suas várias faces, identifica algo com a fronteira, qualquer fronteira, mais ainda uma fronteira tríplice. “Uma cidade de fronteira é uma sociedade poliédrica.” Mas o poliedro humano é sempre irregular. “Unidos como metáforas, representam a multiplicidade de culturas, cotidianos, temporalidades e espacialidades. Significam também a interdisciplinaridade onde conceitos e ciências distendem significados originários abandonando linearidades ou fronteiras definitivas.”

A complexidade dum universo social como o de Foz de Iguaçu, mal entrevista ao viajante que circula descontraído por seus hotéis, ruas e lugares turísticos, está na representação antropológica que o texto de Nara faz, captando uma “cidade em todas as suas formas”, para evocar os aspectos de “geografia humana” de um local elaborados pelo pensador italiano Fábio la Rocca. O que são as formas de Foz do Iguaçu? Algumas delas estão no ensaio de Nara Oliveira.

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)