RESENHA CRTICA: Eu Sou Ingrid Bergman (Jag ar Ingrid)

Caloroso e bonito, verdadeiro, e consegue o milagre de deixar Ingrid humana e cheia de defeitos, nem por isso menos amada

16/12/2015 12:00 Por Rubens Ewald Filho
RESENHA CRÍTICA: Eu Sou Ingrid Bergman (Jag ar Ingrid)

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Eu Sou Ingrid Bergman (Jag ar Ingrid)

Suécia, 15. 114 min. Documentário. Direção de Stig Bjorkman.

Tão notável quanto o documentário sobre Marlon Brando, atualmente em DVD, esta é quase uma autobiografia documental que revela a personalidade de uma das maiores estrelas que o cinema já teve e que sempre foi especialmente querida no Brasil, a sueca Ingrid Bergman, que teve a boa ideia de registrar tudo o que fazia ou pensava em diários (até então secretos) ou correspondência para amigas confidentes. Ou seja, aqui também se ouve sua voz interior só que, quem assumiu a narração foi a estrela sueca mais famosa do momento, a jovem e bela Alicia Vikander. Outra coisa boa: o filme foi feito com o apoio e a ajuda dos filhos de Ingrid, todos, mesmo os que não apareciam diante das câmeras (como é o caso de Robertinho Rossellini, o mais velho com o diretor). E todos parecem harmônicos e unânimes em louvar a mãe, como personalidade e estrela (a única que virou atriz Isabella Rossellini é a mais loquaz, mas tem ainda a quase desconhecida Isotta e a mais velha do primeiro casamento com um médico Pia Lindstrom, que durante muito tempo foi repórter de TV e até mesmo crítica de cinema).

Na verdade, Ingrid foi uma das mulheres mais belas do mundo e prova disso temos nas imagens da infância a maturidade. Ou simplesmente a mais bela de todas! Certamente a mais sem artifícios, mais natural. Quando surgiu no cinema americano no final dos anos trinta, Ingrid teve um extraordinário impacto na moda. Pela primeira vez se viu uma mulher na tela com a sobrancelhas não depiladas, com um mínimo de maquiagem, feliz de se apresentar ao mundo com sua saudável beleza. Até por isso que quando se descobriu que ela tinha os mesmos defeitos que outros meros mortais houve tal escândalo. Acostumados a vê-la como freira ou santa, o público não aceitou o fato de Ingrid engravidar de outro homem quando ainda estava casada com o primeiro marido. Não importava que o casamento fosse apenas fachada, o importante era manter a moral aparente e o caso de Ingrid com o diretor Roberto Rossellini foi o maior escândalo dos anos 40. É difícil imaginar hoje em dia como era a mentalidade moralista da época, que condenou Ingrid durante anos ao exílio na Europa. Foi acusada no Congresso Americano de adúltera e coisas piores, quiseram impedi-la de viver nos EUA.

Nascida na Suécia, em 1915, Ingrid conseguiu estudar arte dramática graças a herança de um tio. Seu primeiro filme foi em 1934 e em 1937 casou-se com o médico Peter Lindstrom. Fez doze filmes antes de ser descoberta pelo produtor David Selznick , o mesmo de E o Vento Levou que resolveu contratá-la e leva-la para os Estados Unidos. Foi também ideia dele deixá-la o mais natural possível . Para os americanos foi amor à primeira vista, durante anos de 1939 a 48, Ingrid foi uma das maiores estrelas de Hollywood, fazendo filmes memoráveis como Por Quem os Sinos Dobram com Gary Cooper, o premiado como Oscar Casablanca, Mulher Exótica (Saratoga Trunk novamente com Cooper), Os Sinos de Santa Maria, como freira com Bing Crosby,O Médico e o Monstro com Spencer Tracy. Foi a atriz preferida de Hitchcock com quem rodou três filmes (Sob o Signo de Escorpião, Interlúdio com Cary Grant, que se passava no Brasil e Quando Fala o Coração). Mas quando conheceu o cinema revolucionário e realista de Rossellini com Roma, Cidade Aberta e depois Paisá, se apaixonou por esse estilo de filme e se ofereceu para trabalhar com ele. Foram rodar Stromboli, sobre uma refugiada que vai para ilha italiana onde tem esse vulcão. E realmente a vida mudou como se fosse a erupção de um vulcão mundial.

Durante quase uma década ela viveria e trabalharia na Itália, estrelando sem maquiagem os dramas do marido que hoje a critica europeia achava brilhante, mas que nem Ingrid (como confessa no filme) entendia ou gostava. Isso até Renoir a chamar para fazer o romance Estranhas Coisas de Paris (56) e Hollywood a chamar novamente para Anastásia, a Princesa Esquecida, que lhe deu um Oscar de melhor atriz, o seu segundo prêmio (o primeiro foi À Meia Luz, com Charles Boyer). Com Flor de Cacto, em 69, voltou rodar novamente um filme em Hollywood, sem maiores consequências. Chegaria mesmo a ganhar um terceiro Oscar, agora de coadjuvante, por Assassinato no Orient Express e a realizar o sonho de trabalhar com Ingmar Bergman (não eram parentes) em Sonata de Outono. Mas nesta altura já estava doente com câncer (linfoma e no seio) que a matou cedo demais. Morreria em 1982, aos 67 anos. Seu carisma porém continua indestrutível cada vez que ela entra em cena e pede, por favor Sam, toque As Time Goes By...

O filme de Ingrid não esconde as coisas. Mostra sua infidelidade com o famoso repórter fotográfico Robert Capa, com o diretor Victor Fleming de Joanna D´Arc e depois o último casamento com o produtor teatral Lars Schmidt. Mas é caloroso e bonito, verdadeiro, e consegue o milagre de deixar Ingrid humana e cheia de defeitos, nem por isso menos amada. Pelos filhos e pelo público!

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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