REVENDO NOS CINEMAS: Morangos Silvestres (Smultronstallet)

Resistiu bem ao tempo, este que foi dos primeiros grandes sucessos de crítica do grande cineasta Bergman

04/03/2016 12:49 Por Rubens Ewald Filho
REVENDO NOS CINEMAS: Morangos Silvestres (Smultronstallet)

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Morangos Silvestres (Smultronstället)

Suécia, 57. 91 min. Diretor: Ingmar Bergman (1918-2007). Elenco: Victor Sjöström, Ingrid Thulin, Bibi Andersson, Max Von Sydow, Gunnar Björnstrand, Folke Sundquist, Gunnell Lindlom, Gio Petré.

Sinopse: O professor Isak Borg deverá receber uma homenagem numa cidade próxima. Vai de carro até lá acompanhado da nora (que está grávida e prestes a se separar do marido que não deseja filhos). Também tem sonhos estranhos sobre o passado e a morte próxima, enquanto relembra o verão mais feliz de sua juventude.

Resistiu bem ao tempo, este que foi dos primeiros grandes sucessos de crítica do grande cineasta. Curiosamente o mestre sueco foi descoberto pelo critica paulistana por ocasião do Festival de Cinema do Quarto Centenário em 1954, pelo filmes Noites de Circo, em particular pelos críticos Rubem Biáfora e Walter Hugo Khouri, ambos do jornal O Estado de S. Paulo e também cineastas. Isso antes que chamasse a atenção no Festival de Cannes do ano seguinte. Curiosamente é este filme com que o público o adotou para o resto da vida. Foi um acerto total Bergman chamar para o papel central, Victor Sjöström (1879-1960), um antigo e famoso diretor do cinema mudo que também fez carreira em Hollywood. Ele dá o tom certo ao personagem, nunca deixando a história cair em qualquer sentimentalismo.

Foi muito inovador na época o uso dos flash-backs (pela primeira vez se fazia o personagem velho interagir com figuras jovens de seu passado) e mesmo a famosa sequência de sonho inicial (muito bem realizada, com um relógio sem ponteiros e uma simbologia bastante clara). Tem uma excepcional fotografia PB e um elenco esplêndido de atores favoritos do diretor (até ponta de Von Sydow num posto de gasolina). Consegue abordar o tema da velhice, da proximidade do fim, do arrependimento (o velho sempre foi frio e egoísta), sem cair em qualquer clichê. O título se refere aos morangos que eram colhidos silvestres na casa de verão de sua infância.

Foi indicado ao Oscar de Roteiro Original (mas só em 1960 e nesse mesmo ano foi votado pelo Globo de Ouro de filme estrangeiro mas junto com outros filmes incluindo Orfeu do Carnaval). Em 58, ainda levou o Urso de Prata em Berlim e premio especial pela carreira para Sjostrom e premio da Mostra Paralela em Veneza (na época um filme podia concorrer a vários festivais!).

Ainda no mesmo ano ele anteriormente também fez outra obra-prima O Sétimo Selo alegoria em tom medieval da Morte, que seria igualmente clássico. Bergman contou numa entrevista que teve a ideia do filme quando fazia uma viagem de carro entre Estocolmo e Dalarna, parando em Uppsala onde nasceu e cresceu, quando aproveitou para visitar o Jardim da antiga casa de sua avó. Foi quando pensou que podia fazer um filme em que tudo parece realista mas você abre uma porta e dentro é como se ainda estivesse em sua infância. Ai abre outra porta e volta a realidade. E assim por diante, passando por diferentes períodos de sua existência. Foi assim que o filme foi concebido.

Segundo o fotografo Gunnar Fischer várias cenas tiveram que ser feitas em interiores por causa do estado de saúde de Sjostrom (inclusive usando o que ele chamou de back projection /projeção de fundo de qualidade duvidosa porque não se sabia se ele sobreviria no dia seguinte). Mas correu tudo bem, desde que ele parasse de trabalhar as cinco da tarde e tomasse seu copo de uísque. O roteiro já foi escrito pensando nele como o protagonista e única alternativa, que Bergman considerava seu ídolo. Mas não teve coragem dele mesmo fazer o convite e esse trabalho coube ao então diretor da indústria sueca de cinema. A princípio ele recusou depois aceitou discutir o roteiro. Disse que iria pensar no assunto, mas no dia seguinte exigiu apenas uma condição: justamente o uísque. Bergman escreveu o roteiro do filme quando estava internado em um hospital. Foi o seu vigésimo trabalho como diretor. A filha dele Lena Bergman faz ponta com uma das gêmeas.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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