DOSSIE BOND 13 1/2: 007 NUNCA MAIS OUTRA VEZ

Filme que marcou a volta de Sean Connery, mas nao faz parte da franquia oficial

06/04/2021 18:36 Por Adilson de Carvalho Santos
DOSSIE BOND 13 1/2: 007 NUNCA MAIS OUTRA VEZ

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Para entender melhor como um filme de 007 pôde ser feito sem nenhum vínculo com a série oficial é necessário voltar ao final dos anos 50, quando o interesse pelos livros de Ian Fleming despertou o interesse de Hollywood. O produtor irlandês Kevin McClory procurou Fleming com a proposta de desenvolverem juntos uma história então inédita, sem conexão com os livros já editados. O roteiro original seria a primeira produção de cinema com o personagem de James Bond. McClory e Fleming se juntaram com o roteirista Jack Whittigham e criaram o conceito da SPECTRE (Special Executive for Counter-Intelligence Terrorism Revenge & Extortion) – uma organização criminosa internacional oposta ao que o MI6 representa, e liderada pelo maléfico Ernest Stravos Brofeld. Na história, Largo é o segundo em comando e tem a seu serviço duas belas mulheres: A assassina Fatima Blush e Domino, sua protegida. A ideia de McClory era desconectar os vilões do perfil caricatural representado pela SMERSH nos primeiros livros, que prendia as tramas ao convencionalismo da guerra fria onde a União Soviética era o Império do mal.

Contudo, Fleming fechou acordo com Albert Broccoli & Harry Saltzman para adaptar seus livros e abortou o compromisso verbal com McClory. Isso não o impediu de utilizar as ideias desenvolvidas em conjunto com McClory e Whittigham (sem creditá-los) em um novo romance entitulado “Thunderball” publicado em 1961 e adaptado por Broccoli em 1965. McClory entrou com um processo judicial que levou três anos para se resolver, concluindo com um pagamento de indenização aos co-criadores excluídos por Fleming, os direitos dos personagens por estes idealizados, o crédito de produtor associado em “007 Contra a Chantagem Atômica” e a garantia de refilmá-lo depois de 12 anos do lançamento deste. Ao longo das duas décadas seguintes, a relação entre McClory e Broccoli se deteriorou, com diversas negociações frustradas que impediam Broccoli de usar nos filmes de Bond os elementos criados por McClory. Este por sua vez esbarrava em diversos obstáculos para seguir com sua refilmagem, o que só começou a se concretizar quando o produtor Jack Schwartzman, da Warner Brothers, entrou no projeto que deveria se chamar – a princípio – “James Bond of The Secret Service”, mas a EON Pictures impugnou o título por ser muito semelhante a “On Her Majesty’s Secret Service”, filmado em 1969. A EON Pictures conseguiu impor também as seguintes restrições : McClory não poderia usar o nome do personagem no título do filme, nem mesmo o código 007, não poderia também usar a clássica sequência de tiro na direção da câmera empregada no início de todos os filmes de 007. De forma a se distanciar ainda mais, o roteirista contratado por McClory, Lorenzo Semple Jr (o mesmo da série clássica de “Batman”) se baseou no roteiro original de McClory, e não no roteiro filmado em 1965 para “007 Contra a Chantagem Atômica”.

Apesar de pensarem primeiro em George Lazenby para voltar ao papel de James Bond, os produtores conseguiram o impossível: Convenceram Sean Connery a voltar ao papel, ele que dissera doze anos antes, que jamais interpretaria novamente. Connery aceitou com a condição de que seu Bond deveria ter a mesma idade que ele (na época 52 anos) e por isso, o filme começa com seu personagem aposentado do serviço secreto, mas tendo que voltar à ativa depois de um atentado contra sua vida. Connery contribuiu com várias ideias para o roteiro e fez diversas sugestões na escalação do elenco como o premiado ator austríaco Klaus Maria Bandauer para o papel de Largo e Max Von Sydow (ator de diversos filmes de Ingmar Bergman) como Brofeld. As filmagens ocorreram em Monte Carlo, no sul da França, em Nassau e na Inglaterra com direção de Irving Keshner (do excelente “O Império Contra Ataca”) depois da recusa de Richard Dooner (Máquina Mortífera, Superman o Filme ) . Na sequência submarina filmada nas Bahamas a equipe passou por perigos reais como o surgimento de tubarões e uma imensa caverna submersa que poderia ameaçar a segurança de elenco e membros da equipe de filmagem. O compositor francês Michel Legrand (duas vezes Oscarizado) ficou responsável pela trilha sonora do filme que veio a ser batizado por sugestão da esposa de Sean Connery como “Never Say Never Again” , em vista da recusa de Connery em voltar ao papel que lhe dera fama e para o qual estava afinal de volta. O elenco ainda traria Rowan Atkinson (o Mr.Bean) em seu primeiro papel no cinema e a ex modelo Kim Basinger (Batman, Los Angeles Cidade Proibida) em um de seus primeiros papéis na telona. Um dos papéis de grande destaque no filme ficou com Barbara Carrera. A atriz nicaraguense, que foi uma das modelos mais bem pagas do mundo, recusou o papel de Octopussy para trabalhar com Sean Connery, ficando com o papel da assassina Fatima Blush. Conta-se que a atriz teria dispensado a necessidade de dublê de corpo para filmar as cenas de amor com Connery.

O filme estreou no circuito quatro meses depois de “007 Contra Octopussy”, anunciado como a volta do verdadeiro James Bond, uma batalha de marketing que nunca foi vista, nem mesmo quando a primeira versão de “Cassino Royale” chegou aos cinemas em 1967, na mesma época que “Com 007 Só Se Vive Duas Vezes”, já que o primeiro era praticamente uma paródia. A mídia, em 1983, anunciava como “Bond vs Bond”, um duelo de produções rivais na qual o filme de Broccoli se saiu melhor, rendendo internacionalmente em torno de $187 milhões contra $163 milhões do filme de McClory. Este chegou aos cinemas brasileiros em 30 de dezembro de 1983, sendo a última vez que os nomes James Bond e Spectre foram usados em uma mesma produção, até que a morte de McClory muito tempo depois possibilitaria a realização de “007 Contra Spectre” estrelado por Daniel Craig em 2006.

 

James Bond retorna ao DVDMagazine na semana que vem com “007 Na Mira dos Assassinos”.

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Sobre o Colunista:

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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