RESENHA CRTICA: A Montanha Matterhorn (Matterhorn)
Esta produo holandesa de diretor estreante outra daquelas pequenas joias que felizmente o cinema ainda continua a produzir


A Montanha Matterhorn (Matterhorn)
Holanda, 2013. 87 min. Direção e roteiro de Diederik Ebbinge. Com Tom Kas, René Van´t Hof, Porgy Franssen, Ariane Schluter, Helmert Woundenberg, Elisa Schaap.
Vencedor do prêmio do público em Rotterdan e no Festival de Moscou, melhor diretor estreante em San Sebastian, indicado para o prêmio de diretor novo em São Paulo (é a Mostra que distribui o filme aqui!) esta produção holandesa de diretor estreante é outra daquelas pequenas joias que felizmente o cinema ainda continua a produzir (e que alegria ainda encontrar um filme sensível, original, afetivo, quase sem diálogos e ao mesmo tempo oportuno e emocionante). Achei curioso que grande parte das criticas europeias (o filme parece ainda não circulou nos EUA, nem nos grandes centros) prefere não contar a história toda com medo talvez de afastar os espectadores mais velhos e possivelmente mais conservadores, calvinistas como o próprio protagonista.
De qualquer forma, acho que transcende mais que uma historia gay, é muito europeia, feita com trilha musical erudita e um certo respeito mesmo dos opositores. Talvez manipulativa e se pensando bem, um pouco inverossímil. Mas em geral cinema é isso mesmo. Assim se conta a história de um senhor, Fred (Kas), que vive sozinho no interior da Holanda, numa cidadezinha sentindo muito a falta da esposa e do filho. E procurando seguir os horários burocráticos, servindo o jantar para ele na hora marcada, seis da tarde. Não chega a ser comédia, mas há toques de humor na situação com Fred frequentando a igreja, brigando com o vizinho Kamps (Porgy) e tentando ajudar um sem teto (René), que não fala (melhor dizendo sempre uma mesma palavra, Ye). Parece ter sofrido uma lesão na cabeça e aceita a hospedagem na casa de Fred, que significa um abrigo (este o leva para a Igreja, também para ajudar em festinhas para criança, ou seja, tem ação na comunidade). Ainda que curiosamente o filme tenha um aspecto de parado no tempo, sem época determinada. Mas logo se percebe que a crise de solidão de Fred é complicada por sua atração homossexual, que não tem coragem de se revelar nem quando vai num clube gay. Matterhorn é a montanha gelada que servirá de ápice para o filme.
Depois pensando com mais vagar, fiquei imaginando que o filme talvez tivesse mais força se não fosse com a temática gay, fosse simplesmente sobre solidão e amor, sem classificação. O que não lhe tira os méritos.


Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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