ENTREVISTA: CACO SOUZA
Atena, seu novo filme, estreia em breve


Tendo começado sua carreira realizando documentários, Caco Souza já realizou várias obras de ficção, transitando entre gêneros diversos, sempre preocupado em contar uma história que conduza à reflexão, à discussão, como em 400 Contra 1: Uma História do Crime Organizado (2010), que ganhou o Los Angeles Brazilian Film Festival. Também fez a comédia Solteira Quase Surtando (2018), O Faixa Preta (2022) - cinebiografia de Fernando Tererê, campeão mundial de Jiu Jitsu e o suspense Até a Noite Terminar (2021). Seu trabalho mais recente é Atena, que chega aos cinemas na próxima quinta (31/7), estrelado por Mel Lisboa e Thiago Fragoso, sobre um mulher decidida a fazer justiça por ter sido abusada pelo próprio pai. Em uma agradável conversa no fim de tarde, Caco falou sobre Atena, sua carreira e seu próximo projeto.
Adilson : Você tem na sua filmografia filmes que abordam temas bastante interessante com relação a questão da justiça. Em 400 Contra Um, por exemplo, você abordou ali a luta contra o crime organizado, e agora você traz a justiça de uma outra forma através de Atena, a figura de uma mulher que sofreu abuso e com isso ela quer Justiça, buscando isso com ajuda de um jornalista interpretado por Thiago Fragoso. Você tem essa questão da busca por justiça bem forte em sua filmografia. De onde ela vem ?
Caco: Acho que isso tem um pouquinho do meu lado documentarista. Sempre me interessei por histórias que fossem histórias verdadeiras, histórias que de alguma maneira me tocassem também e por isso talvez essa questão da Justiça. É uma das coisas que me interessa de fato. Através do cinema, consigo trazer o assunto para ser discutido, esse processo das questões sociais.
Adilson: Como foi esse começo de carreira como documentarista ?
Caco: Eu lembro que o que um dos primeiros documentários que eu fiz tinha essa questão dos menores abandonados, uma coisa boa muito triste, lá no início dos anos 90. Viemos a entrevistar 11 ou 12 menores, eu não me lembro exatamente. Um ano depois, desses 12, só tinham dois vivos , e os demais tinham todos sido assassinado, e eram todos crianças de 11, 12, ou 13 anos, a pessoa mais velha que tinha 16 anos, não tinha mais do que isso.
Adilson: São questões muito fortes e em Atena não é diferente. Comparando com 400 Contra Um, como o filme dialoga com estas questões ?
Caco: No caso específico do Atena é abuso de um pai sobre a filha. Isto é muito doido pois está relacionado com o poder, não o exercido pelo homem sobre o cidadão, mas o exercido por um pai sobre a filha, do avô sobre a neta, em outros casos temos questões envolvidos no momento político que o país vivia (No caso de 400 Contra Um), que você tem que subjugar, você tem que lidar com a opinião pública sobre um bando de assassinos, de malfeitores. Assim de alguma maneira posso dizer que esse tipo de assunto me interessa muito como diretor. É importante que as pessoas tomem conhecimento, pois o filme tem esse alcance com o público. o 400 Contra Um, por exemplo, foi mais assistido ultimamente do que na época de seu lançamento nos cinemas.
Adilson: O Atena também se destaca pelo protagonismo feminino, de uma forma diferente claro de outro filme seu Solteira Quase Surtando (2018) sobre uma mulher passando por transformações devido à menopausa. De que maneiras você acha que o que precisamos ainda avançar para ampliar melhor as questões relativas ao protagonismo feminino ?
Caco : É engraçado como homem falar sobre o protagonismo feminino, mas é importante tentar ouvir, cada vez mais importante para a sociedade, então é óbvio que para mim e para você é muito diferente da maneira que uma mulher enxerga , e por isso mesmo precisamos saber entender, retroceder se for necessário, e repensar várias coisas.
Adilson: Qual será seu próximo filme depois de Atena ?
Caco: Vou filmar Corações Naufragados sobre uma jornalista que está dentro de um navio, que é torpedeado na costa do Brasil em 1942 da Costa da Bahia, e ela também tem um protagonismo, o papel de anunciar ao mundo que o Brasil foi atacado pelos alemães na costa brasileira, trazendo assim a guerra. Então assim, eu acho que todo toda essa toda essa temática que interessam a várias pessoas, e fundamentalmente interessam à mulher no sentido de que ela é protagonista de sua história me interessa também como um ser humano. Eu sou um cara muito curioso e eu quero entender o que se passa na cabeça das personagens que abordo como uma mulher correndo contra o tempo por conta da menopausa precoce em Solteira Quase Surtando (2018), eu quero entender o que passa na cabeça de uma personagem que foi abusada sexualmente pelo próprio pai na infância como em Atena (2025), e essa pessoa busca a justiça e tenta ajudar, estou aprendendo uma série de coisas que talvez não soubesse de outra maneira porque o cinema proporciona esse aprendizado.
Adilson: Então o cinema nos traz essa janela para várias realidades, certo ?
Caco: Sim, o Ainda estou Aqui (2024), por exemplo, ajudou muita gente a lembrar que tínhamos esquecido que já fomos uma ditadura violenta , e que a gente quase embarca numa outra uns três ou quatro anos atrás, então assim o cinema está aqui para fazer a gente lembrar que essas coisas acontecem e a contemporaneidade deve discutir e a gente possa processar todas as informações.
Atena estreia nos cinemas na próxima quinta (31/07)


Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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