Lembrando Kim Basinger

Entrevista de Rubens Ewald Filho com a diva, praticamente inédita!

24/07/2018 00:11 Por Rubens Ewald Filho
Lembrando Kim Basinger

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Originalmente escrito para a revista Ícaro (o único texto que fiz para eles), não foi arquivado antes este texto que fiz por sugestão dos editores, em 1998. Aproveitando o fato de que eu estaria em Cannes e iria entrevistar a estrela naquele momento promovendo L.A. Confidential, que ninguém podia imaginar viria a lhe dar um inesperado e não muito justo Oscar. Era o primeiro filme desde sua maternidade, e a encontrei uma mulher diferente. Mas ainda mais bonita.

Se cruzar com ela na rua é bem capaz de não reconhecer, nem mesmo de virar para trás. Com admiração. Aquela loira de fechar o comércio, como se dizia antigamente, de cabelos longos e silhueta sedutora, não existe mais. Parece estranho, mas junto com as longas madeixas , a recém adquirida maternidade, Kim perdeu muito. Ficou quase irreconhecível sem a marca registrada. Mas arrisco dizer que ficou até melhor. Deixou para trás aquela loiraça meio vulgar, de Nove Semanas e meia de Amor (86), uma versão revisada de Brigitte Bardot. Com lábios grossos e excesso de cabelos. Mesmo chegando perto, você perceber que ela é realmente bonita. Não precisa de artifícios. Naquele momento muito bem para os quarenta e três anos (oficialmente nasceu em 8 de dezembro de 53 em Athenas, Georgia) e os anos não são visíveis. Não há marca debaixo dos olhos, pés de galinhas ou sinais evidentes de plástica. Até as mãos e braços se conversam em forma. Os cabelos curtos não incomodam. Os tempos de símbolo sexual parecem terminados.

Agora a Kim que se apresenta para a entrevista é uma mulher mais tranquila, vegetariana. Que se diz lisonjeada quando ri, encabulada quando alguém confirma que é uma das mulheres mais bonitas do mundo. Parece sincera. Gentil. E numa idade perigosa para qualquer atriz, despreocupada com a maturidade. Casada (então) com o ator Alec Baldwin, parecia determinada a esquecer os maus tempos. O inferno astral, isso tudo ela tem certeza já passou (e claro que se enganou, o divórcio seria com grandes brigas e disputas por causa da única filha). Realmente os anos não foram fáceis, quando ela recusou rodar Boxing Helena/Encaixotando Helena, 93, quando foi obrigada a pagar 3 milhões de dólares e multa e vender uma cidade que tinha comprado para ser centro de criatividade do Estado de Georgia, em Braselton, sua região natal). Para os juízes pouco importou que ela tivesse razão em ter rejeitado o projeto ruim (que como Kim Suspeitava, resultou num lixo!)

Esforçava-se também para apagar a imagem de excêntrica e temperamental (ela e Alec tiveram uma Paixão fulminante quando rodaram juntos Uma Loira em Minha Vida/The Marrying Man, 91 da Disney, que por causa deles atrasou e estourou o orçamento e não foi nada bem de publico). O casamento vocês sabem logo acabou em divórcio e Alec acabou tendo mais mulheres e filhos.

Porém esses são assuntos que Kim não quer (queria) mais falar. Gentilmente desvia o assunto para o Brasil, aonde ela veio várias vezes, visitando amigos e entrando em entendimentos com o desenhista célebre Mauricio de Souza. Não para fazer com ele como se pensou o Mundo Proibido (Cool World, 92) que misturava atores e desenho animado que foi rodado na mesma época. Segundo Kim, havia um projeto nunca muito claro para fazer um personagem dela em quadrinhos, pelo Mauricio que chegou a lhe apresentar os esboços. Não deu certo, mas sobraram as boas lembranças do país. Um projeto que dançou junto com sua cabeleireira.

A história oficial é que de que ela cortou os cabelos exigência para seu personagem do seu filme L.A. Confidential imposto por Curtis Hanson (bom diretor que faleceu cedo, 1945-2016, que ainda faria mais 6 filmes, incluindo o premiado 8 Miles Rua das Ilusões (82) novamente com Kim!). Ela faz uma prostituta de luxo dos anos cinquenta que se disfarçava de Veronica Lake (quem não se lembra, famosa estrela da Paramount, que tornou moda o cabelo loiro e liso caído sobre um dos olhos) no filme ela entretinha clientes ricos. Um fato real, ela confirma, dizendo que realmente existiu em Hollywood um bordel com sósias de estrelas , que muitas vezes tinham ate que passar por operações plásticas ainda iniciantes, para ficarem mais semelhantes com as famosas.

No filme, um pouco esquecido hoje, mas ainda cultuado, Kim se envolve com um policial honesto (o australiano Russell Crowe, outro futuro vencedor de Oscar), e por isso que muda de vida e de corte de cabelo. Uma mudança que ela me diz que deseja(va) realizar há muito tempo, embora tenha estranhado ao se olhar pela primeira vez no espelho. Mais tarde o cabeleireiro dela, do Hotel Carlton, de Cannes, me deu uma versão mais realista. Kim nunca tinha pintado realmente os cabelos, apenas colocado brilho. Mas descobriu tarde demais que ela tinha alergia! Primeiro começando a queimar o couro cabeludo, depois aparecendo espinhas e finalmente a tragédia, o cabelo começou a cair. O jeito foi mesmo pedir a ele para tosar o cabelo conforme exigia o script (o direto bonzinho a aceitava de peruca!). Disse-me já estava conformada com a idéia da mudança, mas acho que exagerei no meu desejo. Quase fiquei careca, confirmou ela.

L.A. Confidential na verdade não me pareceu o filme certo para marcar o retorno da estrela. Já que fazia parte de um grande elenco onde os lances mais importantes estão com gente como os australianos Guy Pearce, James Cromwell e o já mencionado e nervoso e pouco simpático Russell Crowe. Kim faz mais o interesse romântico. O curioso é que o filme foi sucesso em Cannes, mesmo sem prêmio, mas em meio a filmes esotéricos se destacou como um bom policial do chamado gênero Noir. Alias imitando-o de propósito. E, pasmem, ela acabaria ganhando o Oscar de melhor roteiro e atriz coadjuvante, assim como o Globo de Ouro, o único de sua carreira até agora (na verdade, foi uma homenagem a ela feita por Hollywood, competindo com Gloria Stuart, Titanic, Joan Cusack, Será que ele é?, Minnie Driver, Gênio Indomável, e a que devia ter ganho, Julianne Moore, por Boggie Nights). Na verdade, dali em diante nunca fez mais qualquer coisa de grande importância.

Talvez porque ela fosse difícil e escondeu isso de mim. Mas me disse que esse filme exemplifica o dilema de sua carreira atual. Já que recusou a continuação de seu sucesso Nove Semanas e Meia de Amor e alega nem conhecer a substituta Angie Everhart. Sem ironia aparente disse que lhe desejava sorte. Não funcionou, o filme foi um desastre, foi direto para vídeo e ela sobrevive em séries de TV. Mas ela aponta como ridículo maior A Fuga 2 (The Getaway, de 94) que ela fez com o marido Alec (Fuga para onde? Ri ela, só deus sabe). Talvez a saída fosse fazer comédias porque teve ótimas criticas como a repórter de TV de Pret a Porter, de Robert Altman (94). Achou que a filmagem foi um caos, que Altman não lhe explicava nada e não consegue entender como se saiu bem, estando tão insegura (vai ver foi por isso mesmo).

Mas seu assunto preferido foi a filha (depois acidentalmente eu esbarrei na menina que se escondia dos fotógrafos no colo da babá, que foi junta a Cannes). Uma menina loirinha de ano e meio então, nada parecida com o pai e meio careca como a mãe quase ficou... Mas não particularmente bonita. Foi uma gravidez acidentada. Kim passou uma gravidez acidentada. Passou nove anos vomitando (não eram esses detalhes que vocês morriam para saber das estrelas, pois é elas também vomitam!). Não teve leite para amamentar e fez cesariana. Ainda por cima eles esperavam que fosse um menino. Mas nem por isso nossa heroína professa menos amor pela maternidade, embora casualmente afirme que ela e Alec estavam pensando em adotar. Alec não teria ido a Cannes porque é um ativista político de causas liberais e até talvez de tempo integral. Naquele momento nada disso a perturbava. A maturidade parecia lhe cair bem. Kim estava mesmo pronto para dar a volta por cima, esperando pelos filmes certos. Se alguém tem curiosidade nos anos seguintes, Kim faria vários outros trabalhos menores, a saber: Cinquenta Tons Mais Escuros, 18, Dois Caras Legais, 16, I Am Here, 14, A Corrida da Superação, 14, Ajuste de Contas, 13, Terceira Pessoa, 13, Black November, 12, A Morte e Vida de Charlie, 10, Informers Geração Perdida, 08, Enquanto Ela Está Fora, 08 e Vidas que se Cruzam também 08 (no futuro, o casamento aconteceu em 19 de agosto de 93 e se iriam se divorciar em 2002, ficariam apenas com essa garota. Baldwin cumpriria sua amizade se casando com Hilaria (Baldwin) e teriam ainda 4 filhos!).

Moral da historia: seja bonita enquanto pode. O tempo corre demais.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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