Dossie Bond 4: 007 Contra a Chantagem Atomica

Quarto filme da franquia e o 9o livro publicado por Ian Fleming, em Marco de 1961 e em circunstancias desastrosas

21/12/2020 17:10 Por Adilson de Carvalho Santos
Dossie Bond 4: 007 Contra a Chantagem Atomica

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Foi o primeiro filme de 007 que eu assisti em minha vida. Eu devia ter uns 12 ou 13 anos e o filme era exibido pela Rede Globo. Era o quarto filme da franquia e o 9º livro publicado por Ian Fleming, em Março de 1961 e em circunstâncias desastrosas, que ecoaram até bem recentemente. Movimentada aventura em que o super-espião viaja às Bahamas para recuperar duas ogivas nucleares roubadas a mando de Emilio Largo, o segundo homem forte da organização Spectre, em um plano de extorsão global.

Era 1959 e o produtor Kevin McClory havia proposto uma história original para um filme de James Bond e que se chamaria “James Bond, Secret Agent” com Richard Burton no papel de 007. Um roteiro foi escrito por McClory e Jack Whittingham em conjunto com Fleming, mas este mudou de ideia e preferiu assinar com Harry Saltzman e Albert Broccoli para a realização de “007 Contra o Satânico Dr.No”. Fleming, contudo, utilizou as ideias de McClory (a organização SPECTRE substituindo os vilões comunistas, o vilão Brofeld etc...) para a história rebatizada de “Thunderball” e que publicou sem dar crédito a McClory e Whittingham. O resultado foi uma ação judicial que só foi resolvida, depois de três anos, dando a Fleming os direitos de autoria sobre o romance, mas atribuindo a McClory os direitos pela adaptação cinematográfica, além de 50 mil libras de indenização. Para Fleming, o desgaste emocional da peleja legal contribuiu para o ataque cardíaco que viria a sofrer. Consequentemente, esse é o único filme da franquia em que Broccoli & Satzman não recebem crédito de produtores, que foi para Kevin McClory, restando apenas a menção como produtores executivos.

Quando Guy Hamilton alegou estar desgastado depois de “Goldfinger” e declinou do convite para a direção de “Thunderball”, que recebeu no Brasil o nome de “ 007 Contra a Chantagem Atômica”, Terence Young, que dirigiu os dois primeiros filmes de Bond, foi chamado de volta. Também retornou para a série Maurice Binder, que havia desenvolvido a abertura de Dr.No, mas ficou de fora de “Moscou Contra 007” e “Goldfinger”. Binder estabeleceu o que se tornaria padrão nas sequências de abertura dos filmes e permaneceu no posto em todos os demais filmes de Bond até “007 Permissão Para Matar” (Licence to Kill) de 1989.

Fleming, que foi oficial da marinha britânica, retirou o nome “Thunderball” de um termo militar que se refere à nuvem em forma de cogumelo criada nos testes atômicos, que seria o resultado das ações da SPECTRE, se esta fosse bem-sucedida em detonar as ogivas roubadas. Em um exemplo de vida imitando a arte, “Thunderball” foi o nome código usado em 1976 por uma operação israelense de resgate realizada em Uganda.

O 4º filme de Bond teve um investimento bem alto em sua produção, tendo custado mais que a soma dos três filmes anteriores e foi o primeiro filme da série gravado no sistema Panavision.O grande interesse de Kevin McClory em mergulho levou às várias sequências realizadas debaixo d´agua, realizadas nas Bahamas nos estúdios de Ivan Tors, sendo este um prolífico produtor de TV nos 50 e 60 tendo realizado séries como “Aventura Submarina” , “Os Aquanautas”, e “Flipper”. Em uma dessas sequências em que Bond se vê de frente para ameaçadores tubarões, havia uma tela de proteção para proteger os atores. Connery – de acordo com o diretor Terence Young em entrevista - se assustou realmente quando um tubarão se aproximou demais de uma área desprotegida na cena em que 007 mergulha na piscina na mansão de Largo. Na cena em que Bond sai do tanque e um dos tubarões se atira em direção a 007, este estava morto e guiado por cabos de aço.

Foi o primeiro filme da série a ganhar o Oscar de “melhor efeitos especiais” para John Stears em 1966. O filme anterior, “Goldfinger” ganhou o Oscar de efeitos sonoros. Já a trilha sonora foi composta por John Barry que só a concluiu quase 30 anos depois com o lançamento da trilha-sonora expandida. Na época, a segunda metade do filme saiu sem música, já que quando a gravação foi requerida, Barry ainda a estava compondo. Já a canção tema usada na abertura foi cantada por Tom Jones em substituição a Dionne Warwick que chegou a gravar a canção “Mr.Kiss Kiss Bang Bang”, mas que foi refeitada pelos produtores que receavam utilizar como tema uma canção que não trouxesse o título do filme no nome. Ainda foi gravada uma outra versão dessa canção gravada por Shirley Bassey, e uma versão diferente de “Thunderball” na voz de Johnny Cash também foi rejeitada pelos produtores.

A Premiere Mundial de “007 Contra a Chantagem Atômica” foi em 9 de Dezembro de 1965 em Tokyo, Japão. No Estados Unidos, o filme estreou 12 dias depois em Nova York. A United Artists contratou um piloto com a mochila-a-jato, usada por Bond no filme, para fazer um vôo promocional por sobre o Paramount Theater em Manhattan. Contudo, tanto o piloto quanto os publicitários da United Artists acabaram sendo presos pois não haviam solicitado permissão com as autoridades locais.

 

As Bondgirls de “Thunderball” Luciana Paluzzi foi rejeitada para o papel de Domino, mas ficou com o papel de Fiona Volpe, que no roteiro original seria irlandesa e se chamaria Fiona Kelly. Assim, o sobrenome foi modificado para se adequar à atriz italiana. O personagem, no entanto, não aparece no livro. A principal Bondgirl foi interpretada por Claudine Auger , ex- miss França em 1958, quando tinha 15 anos. Seu forte sotaque desagradou os produtores logo no início das filmagens. Assim, esta teve suas falas dubladas por Nick Van der Zyl – que também dublou Ursula Andress em Dr.No. Auger , depois de “Thunderball” trabalhou em vários filmes na Europa mas nenhum deles com a projeção de um 007. O papel de Domino teve os nomes de Raquel WelchJulie Christie e Faye Dunaway atrelados ao projeto. Welch deixou a disputa pelo papel para fazer “Viagem Fantástica” e Dunaway voltou a se interessar por outro papel de Bond-girl em “Octopussy” que veio a perder para Maud Addams. Já Paluzzi foi uma bela atriz italiana que começou a carreira no rastro do sucesso internacional de suas compatriotas Sophia Loren e Gina Lollobrigida. Curiosamente, Martine Beswick, que interpretou uma das ciganas em “Moscou Contra 007”, atua em “Thunderball” como Paula Caplan. Embora não tenha sido creditada, é de Beswick a silhueta de dançarina na abertura de “Dr.No”.

 

O Vilão : O grande inimigo de Bond em “Thunderball” é Emilio Largo, segundo em comando da SPECTRE, interpretado pelo ator italiano Adolfo Celi, que também teve suas falas dubladas, no caso por Robert Rietty, para disfarçar seu forte sotaque siciliano. O motivo pelo qual atores italianos ocupam papéis chave dentro da trama é que no roteiro original Bond enfrentaria a máfia italiana. Celi, que foi casado com a atriz brasileira Tônia Carrero faleceu em Fevereiro de 1986 vítima de ataque cardíaco e dirigiu três filmes gravados na América do Sul : America Caicara (1950), Tico-Tico no Fuba (1952) and Alibi, L' (1969).

 Houve durante muito tempo rumores de que a voz do vilão Ernest Stavro Brofeld, ouvida no filme, pertencia a Joseph Wiseman (o Dr.No), outras fontes creditaram a voz a Eric Pohlmann. Em “Moscou Contra 007”, o ator Anthony Dawson apareceu como o vilão arqui-inimigo de Bond, mas eram apenas suas mãos acariciando um gato persa branco .

 

Os Veículos : Entre os veículos usados no filme, destaca-se o Astor Martin, também usado por Bond em “Goldfinger”, um Thunderbird 1965 usado por Largo em Paris era adorado por Fleming; a mochila-jato da empresa Bell Aerosystems , originalmente fabricada para fins militares, na sequência de ação pré-créditos sobre a qual Bond diz que “todo homem elegante devia ter um” mas que não é pilotada por Connery no vôo, mas sim pelo engenheiro Bill Suiter; e o iate de Largo, chamado “Disco Volante” (em espanhol Disco Voador) que foi adaptado a partir de uma embarcação chamada “The Flying Fish”, que custou $500.000 para ser adquirida em Porto Rico, sendo depois transferida para Miami para receber as modificações que incluía a dupla seção que podia realmente ser dividida conforme visto no final do filme.

 

O Sucesso e o futuro da Spectre. Se corrigido pela inflação, “Thunderball” é o Bond de melhor arrecadação com um total de $585.684.000 – de acordo com o site Box Office Mojo – e ficando como a 27º maior bilheteria de todos os tempos. Membros do elenco e da equipe de filmagem deram várias entrevistas para promover o filme, exceto Sean Connery que só consentiu em dar uma única entrevista, no caso para a revista Playboy. Connery considerava este seu filme favorito da série, o que deve ter sido real já que mais de dez anos depois de ter deixado o papel e de ter dito que jamais voltaria a ser Bond de novo, Connery aceitou o papel de volta para a refilmagem de “Thunderball” entitulada “Nunca mais outra vez” (título sugerido pela esposa de Connery), realizada em 1984 por Kevin McClory que decidiu fazer um filme mais fiel à história original que ajudara Fleming a escrever, e sem qualquer envolvimento ou interferência de Albert Broccoli. Bob Simmons, o dublê regular na série aparece rapidamente no começo do filme como o assassino vestido de mulher que luta com Bond antes de sua fuga com a mochila a jato. Antes de levar o soco, contudo, o assassino é interpretado por Rose Alba. É Simmons quem apareceu nos três primeiros filmes, na abertura dos filmes que se tornou marca registrada da série mostrando Bond caminhando e depois atirando na tele objetiva da câmera. A partir daqui, Connery o substitui. Entre as aparições especiais estão Henry Ford II, neto de Henry Ford cuja empresa forneceu vários veículos usados no filme e o próprio Kevin McClory ambos aparecendo rapidamente como figurante. Desde então nenhuma outra produção da franquia poderia fazer qualquer menção à Spectre, o que só foi corrigido com a morte de McClory, quando Barbara Broccoli consegui negociar para a realização de “007 Contra Spectre”, estrelado por Daniel Craig, em 2017, pondo fim a uma cisão criativa iniciada há mais de 50 anos.

 

James Bond volta ao DVDMagazine na semana que vem com “Com 007 Só Se Vive Duas Vezes”.

 

Assista ao canal “Adilson Cinema” no Youtube.

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Sobre o Colunista:

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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