As Sensacoes Inconclusas duma Obra-Prima

O frances Georges Bernanos escreveu Um sonho ruim (Un mauvais reve) em 1935

01/03/2021 18:12 Por Eron Duarte Fagundes
As Sensacoes Inconclusas duma Obra-Prima

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O francês Georges Bernanos escreveu Um sonho ruim (Un mauvais rêve) em 1935. Como a narrativa sempre lhe pareceu inacabada, e pretendia retomá-la uma hora dessas talvez, nunca publicou o romance me vida. Fizeram-no, por ele, postumamente em 1950: o escritor faleceu em 1948, três anos depois de voltar do Brasil, onde viveu durante a guerra, para sua França.

De todo modo, trata-se duma dessa obras-primas cujo veio central parece ser mesmo estas características de narrativa que divaga, à deriva, sem buscar um porto de chegada. Como O último magnata (1941), do americano F. Scott Fitzgerald. A natureza de perturbações interiores de Um sonho ruim é pós-dostoievskiana: é a denúncia do século que se instala em suas páginas. Longe das construções mais formalistas de Diário de um pároco de aldeia (1936), o barroco pretendido em Um sonho ruim desapruma todas as sensações narrativas; no entanto, as características do academicismo da virada do século, percebidas pela sensibilidade mística de Bernanos, são um pouco pós-balzaquianas, onde toda a ambientação e a circulação de personagens são maravilhosamente expostas pelo narrador, mais neutro talvez do que em outras obras do autor. Talvez sejam estas peculiaridades entranhas que tenham estorvado Bernanos de levar ao mundo, em vida, o conhecimento de seu romance, que é na verdade um sonho ruim dentro de suas imagens de paraíso e graça desejados desde o final de Diário de um pároco de aldeia.

As longas e contorcidas digressões morais de Um sonho ruim somente se justificam pelo desespero ético-místico de Bernanos. Como escreve seu narrador, “le désespoir seul avait l’amener jusque là”. É o mesmo desespero que se pega ao observador diante de dois livros não filmados de Bernanos, Joana, relapsa e santa (1934) e este Um sonho ruim: mortos os diretores franceses Robert Bresson e Maurice Pialat, haveria no cinema algum outro espírito que pudesse compreender Bernanos?

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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