OSCAR 2019: Roma (Idem)

Não estou entre os exagerados que tem achado este filme uma obra-prima ameaçando-o de não apenas concorrer ao Oscar (representando o México), mas de possivelmente ganhar alguns muitos Oscars

17/02/2019 23:16 Por Rubens Ewald Filho
OSCAR 2019: Roma (Idem)

tamanho da fonte | Diminuir Aumentar

Roma (Idem)

México, 2018. 2h15min. Preto e branco. Direção e roteiro do mexicano Alfonso Cuaron. Com Yalitza Aparicio (a ama da empregada), Marina de Tavira (como a dona de casa cujo marido foge), Diego Cortina Autrey, Carlos Peralta, Marco Graf,Daniela Demesa. Rodado em widescreen.

Não estou entre os exagerados que tem achado este filme uma obra-prima ameaçando-o de não apenas concorrer ao Oscar (representando o México), mas de possivelmente ganhar alguns muitos Oscars (o filme do diretor Cuaron já ganhou o Grande Prèmio do Festival Italiano Leão de Ouro e tem sido louvado pela imprensa de tal maneira que o filme provocou crise porque os direitos foram comprados pelo Netflix (ou seja, já estão disponíveis e estão em cartaz no Brasil, criando polêmica com os exibidores de cinema principalmente na Europa que prejudicou muito o festival rival de Cannes). O título poderia ser traduzido como “Amor” nome invertido da cidade de Roma, talvez como homenagem ao grande cinema italiano, isso é uma das coisas que mais me irrita, já que tem bem pouco de realmente a ver com os clássicos da Itália, que seriam os melhores filmes da História do cinema em particular os feitos em preto e branco, com atores geniais e mesmo quando foram amadores, enquanto aqui o elenco é primário, mal interpretado, esforçado sim, mas muito mal realizado. Ou seja, outro daqueles casos que alguém puxa um fato e todo mundo imita ...

Na verdade, não é preciso exagerar. A foto em P&B é bastante bonita e feita em widescreen e dá para sentir que realmente o diretor tentou repetir tudo que sentiu no passado, relembrando e refazendo a vida que teve numa cidade do interior justamente chamada Roma. Há pelo menos três sequências excepcionais, que seriam: 1) A empregada da família, que está grávida, é levada por uma senhora da família para um hospital porque se machucou e pode ter perdido seu filho pequeno, por coincidência, o pai da criança que a renegou porque agora é militar, apareceu numa loja onde a empregada estava! Aqui todo o drama é limpo e forte, quando ficamos assistindo o parto da criança e suas conseqüências.

2) A sequência da empregada que vai ate um campo de treinamento de aspirantes a soldados e que reencontra o casual pai da criança que grosseira a rejeita. Não, aqui não fica como no cinema mexicano da época, famoso pelas lágrimas e trejeitos. Não chega a ser exagero a tragédia, é triste mesmo.

3) Há outra sequência igualmente feliz, que é sobre a heroína, que é forçada a acompanhar a patroa que agora tem certeza que o marido a deixou e os filhos foram abandonados (o fato é muito pouco explorado). Vão parar na praia em Vera Cruz onde a criança vai mergulhar e como seria de se esperar quase tudo vira tragédia de afogamento (os mexicanos sempre gostaram de “melô”, mas o diretor prefere não dar closes, mostra tudo a certa distância, até friamente.

Na primeira parte principalmente a narrativa chega a ser cansativa se fixando na mãe de família bebendo, batendo com o carro, brincando com cachorros, um tiroteio caçando animais e nada de muito importante, nem mesmo contra os policiais e bandidos... Esquisito porque o México sempre teve uma tradição violenta e dramática... Aliás, hoje em dia é dominado por traficantes e bandidos da pior espécie.

 É importante de qualquer forma mencionar Cuaron (1961 ) que tem tido uma ótima carreira desde que foi apoiado por Spielberg. Para quem fez A Princesinha, 95, Grandes Esperanças, 98, o consagrado E Sua Mãe Também, 2001, episódio de Paris, Te Amo (01), Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, 04, Filhos da Esperança, 06, Gravidade (13) e ganhando dois Oscars por Gravidade (montagem e direção). E faz parte do atual grupo de cineastas mexicanos que têm sido consagrados com o Oscar apesar da rejeição do atual governo norte-americano. Ou seja, a atual situação das crianças roubadas ou enjeitadas, não é mencionado neste filme. Perderam grande chance...

Ele planejava o filme desde 2006, era a única pessoa do set que sabia o script de cor e tudo sobre a direção. A cada dia ele dava os diálogos na hora para os atores, segundo ele para tornar tudo mais real e chocante. E as vezes até mesmo gostava de certo caos. Chamou o filme do seu trabalho mais essencial de sua carreira. Detalhe: Roma era o nome de um bairro de Mexico City. É um distrito do bairro de Cuauhtémoc, perto do centro histórico. Setenta por cento dos imóveis mostrado no filme são setenta por cento da família dele. A ideia original era fazer uma espécie de Adão e Eva, mas foi aconselhado pelo diretor de Cannes a realizar algo mais acessível (de qualquer jeito noventa por cento das cenas foram tiradas de sua memória). O filme é dedicado a Libo, que era a empregada da casa. O diretor explica porque fez o filme: “Roma é uma tentativa de capturar a memória de acontecimentos que experimentei a quase 50 anos atrás. É uma exploração da hierarquia social do México, onde classe e herança social, étnica, são tratadas até hoje de maneira perversa. Mas é antes de tudo, um retrato intimo de mulheres que me criaram num reconhecimento de amor como um mistério que transcende espaço, memória e tempo”.

Há um outro detalhe, no fundo a gente torce pelo filme a partir das estrepolias e delírios do atual presidente norte-americano, Mr. Trump, que insistiu muito em construir o tal muro de divisão dos países. Nesse sentido o sucesso do filme lhe passou um merecido baile!

Linha
tamanho da fonte | Diminuir Aumentar
Linha

Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

Linha

relacionados

Todas as máterias

Efetue seu login

O DVDMagazine mantém você conectado aos seus amigos e atualizado sobre tudo o que acontece com eles. Compartilhe, comente e convide seus amigos!

E-mail
Senha
Esqueceu sua senha?

Não é cadastrado?

Bem vindo ao DVDMagazine. Ao se cadastrar você pode compartilhar suas preferências, comentar ou convidar seus amigos para te "assistir". Cadastre-se já!

Nome Completo
Sexo
Data de Nascimento
E-mail
Senha
Confirme sua Senha
Aceito os Termos de Cadastro