Já que até agora ainda não estreou nas salas de cinema do Brasil, No Coração da Escuridão (First Reformed), não foi tão mal de bilheteria nos EUA (onde passou em maio do ano passado, chegando a 3 milhões e 400 mil dólares). E alguém importante gostou do filme o suficiente para conseguir indicá-lo para estar na lista dos melhores, no caso, concorrendo a melhor roteiro original. O que vem a ser com toda evidência uma homenagem ao famoso roteirista e ocasional diretor Paul Schrader, que tem uma carreira irregular, mas com frequência ilustre, afinal foi ele quem criou o clássico Taxi Driver para Scorsese, assim como Touro Indomável, Gigolô Americano, Vivendo na Corda Bamba, A Última Tentação de Cristo, A Marca da Pantera, Mishima, num total de 24. E o mais interessante é ver neste drama, muito bem realizado, sua preocupação tradicional sobre a religião católica ou protestante, que consegue dar vida aqui numa história bem curiosa e muito bem interpretada.

Embora o ator Ethan Hawke tenha quatro indicações ao Oscar, este é sem dúvida o melhor momento de sua carreira, criando uma figura discreta, mas visivelmente trágica ao interpretar um padre de meia idade, que trabalha para uma muito antiga e muito bem conservada igreja que vive de turismo (e de glórias do passado). Ethan faz Toller, extremamente envelhecido (como nunca vimos antes no ator), mas talvez justamente por isso em seu melhor momento. Ele tenta ajudar um rapaz de certa idade que engravidou a namorada (quem tem papel pequeno, mas num dos melhores momentos, é Amanda Seyfried) que ficou grávida. Mas o rapaz não aceita as mudanças do tempo e da sociedade, Ethan parece incapaz de ajudá-lo (a sequência mais bonita é com o casal numa imagem poética de viagem a pelo céu). Lento, bem arrumadinho, tão triste quanto a vida de qualquer um, este filme merecidamente está entre os melhores trabalhos de Schrader (1946-). Será bacana se ele conseguisse finalmente ser consagrado.