Outro Aniversário: Os 15 Anos de Gladiador

Já fazia uma geração inteira que não se realizava um épico sobre a Roma antiga quando surgiu

24/04/2015 15:23 Por Rubens Ewald Filho
Outro Aniversário: Os 15 Anos de Gladiador

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Gladiador (Gladiator)

EUA, 2000. 149 min. Diretor: Ridley Scott. Elenco: Russell Crowe, Richard Harris, Oliver Reed, Connie Nielsen, Joaquin Phoenix, Derek Jacobi, David Hemmings, Djimon Hounsou, Spencer Treat Clark.

Sinopse: Máximus, General do Exército romano que havia sido escolhido como sucessor do Imperador Marco Aurélio, é traído pelo Commodus, que assume o trono, manda matar ele e a família. Mas o herói escapa, vira gladiador e enfrenta o tirano.

Comentários: Já fazia uma geração inteira, mais de vinte anos, que não se realizava um épico sobre a Roma antiga quando surgiu Gladiador, o primeiro filme do gênero a utilizar também efeitos especiais de computador, o chamado “CGI”(Computer Generated Images). E esta super co-produção entre dois grandes estúdios, a Dreamworks e a Universal acabou sendo o grande sucesso do ano de 2000, arrebatando os principais Oscars, inclusive de melhor filme, ator (o neo-zelandês Russell Crowe), efeitos visuais, figurinos e som. Foi ainda indicado como coadjuvante (Joaquin Phoenix), diretor, roteiro, montagem, trilha musical e direção de arte.

 Na verdade, o gênero sempre foi muito popular desde que foi introduzido ainda pelos italianos no tempo do Cinema Mudo (onde se fez um clássico chamado Cabiria, em 1914, de Pastrone que estabeleceu as regras desse tipo de filme) e seu momento de maior popularidade foi durante a década de 50 e 60, quando novamente a Itália produziu aventuras com halterofilistas (o mais famoso deles, o americano Steve Reeves faleceu perto deste Oscar e recebeu até homenagem da Academia sendo citado na festa de entrega dos prêmios). Hollywood tem o mérito de ter feito vários filmes nessa linha, ainda que quase sempre bíblicos (como Ben-Hur, Quo Vadis?) mas o mais famoso e talvez melhor do gênero, foi justamente Spartacus, de Stanley Kubrick (60), estrelado e produzido por Kirk Douglas. O único que não tem Cristo ou Cristãos na história, assim como este Gladiador. E novamente foram os italianos que colocaram uma pedra nesse tipo de filme, com o notório Calígula de Tinto Brass (80).

Foi o chefe da produção da Dreamworks, o estúdio de Spielberg, Walter Parkes, juntamente com o produtor Douglas Wick que tiveram a idéia de realizar o projeto e chamar o diretor Ridley Scott para dirigi-lo. Principalmente por causa do seu grande senso visual, que o levou a fazer clássicos do cinema moderno como Blade Runner, Os Duelistas, Thelma e Louise e ainda depois de Gladiador o grande sucesso popular de Hannibal, a continuação de Silêncio dos Inocentes. Mas para fisgá-lo usaram um truque, lhe mostraram uma pintura chamada Pollice Verso, feita em 1872, (que significa Polegar Abaixado, do artista Leon Gerome. Scott ficou tão impressionado com a imagem de um gladiador romano em pé no centro da arena do Coliseu esperando a decisão do imperador que aceitou o filme mesmo antes de ler o roteiro. Disse ele: “Aquela imagem falou sobre o Império Romano em toda a sua glória e crueldade. Eu soube exatamente ali que havia sido fisgado”. Foi a partir daquele quadro que construíram a ideia do herói Maximus, se inspirando em parte em fatos reais e também num outro filme que contava uma história parecida, a super produção A Queda do Império Romano de Anthony Mann (64), com Sophia Loren, Stephen Boyd, Christopher Plummer (como Commodus) e Alec Guinness (como o Imperador Marco Aurélio aqui interpretado por Richard Harris). Que datava justamente daquele momento a decadência e eventual queda do Império romano que naquele momento ainda dominava todo o mundo.

Gladiador é o mais caro exemplar de sua estirpe em todos os tempos, custando por volta de 103 milhões de dólares, grande parte deles gastos nos efeitos especiais por computador (que reconstroem a Roma antiga, que para deixá-los menos evidentes sempre parece meio obscurecida mesmo quando é dia). Tiveram que resolver além disso, um problema grave: o ator inglês Oliver Reed (que faz o empresário dos gladiadores) morreu inesperadamente durante as filmagens . Ele era alcoólatra e o filme ironicamente traz sua melhor interpretação em anos, que certamente renasceria sua carreira. Deixou cenas incompletas e para certas cenas foi usado um dublê (como no momento chave em que ele ajuda a fuga) e um truque digital, aproveitando imagens anteriores dele (também nesse momento crucial, feito por habilidosa trucagem). Por sinal, a fita é dedicada a ele. A bilheteria americana foi de 187 milhões (não esqueçam da inflação).

O interesse maior de Gladiador para o espectador não é apenas o fato dele ter sido um grande sucesso de bilheteria em toda parte e ter ganhado os Oscars mas principalmente porque alguém teve a sacada de que havia espaço e público para esse tipo de história há muito desprezada (não tenham ilusões, uma pesquisa nos EUA mostrou que a maior parte das pessoas não tinha a menor ideia do que fosse a Roma antiga e por isso que colocaram os letreiros na abertura dando algumas explicações históricas). E chamaram um diretor no mínimo competente e ocasionalmente brilhante, Ridley Scott que soube lhe dar um ritmo intenso e moderno (se repararem bem, todas as cenas de ação são ligeiramente aceleradas, de forma que a violência que poderia ser excessiva fica neutralizada e os atores não fazem muitas acrobacias).Dali em diante esse truque tem sido usado com frequência e cada vez com maior velocidade.

Uma reportagem na revista “Entertainment Weekly” revelou alguns detalhes da produção, como o fato de que o general/gladiador Maximus (Russell Crowe) é uma figura totalmente fictícia. Há outras curiosidades: o polegar para cima no século II era sinal de morte e não de vida como na fita (os produtores mudaram para não confundir a platéia. E porque o diretor se inspirou naquela pintura, “Pollice Verso”). As lutas no Coliseu romano em geral eram para matar criminosos e prisioneiros de guerras anônimos, não matariam um gladiador famoso porque seria era mau negócio, ele dava lucro demais. E a maior parte das lutas terminava com o primeiro derramamento de sangue ou rendição. Também não se misturavam tigres como no filme (esses eram usados para matar prisioneiros e depois cristãos) enquanto as bigas com cavalos eram usadas em corridas noutro lugar, o Circus Maximos, onde cabiam 25 mil pessoas. Realmente os gladiadores viraram celebridades até mais que o filme mostra. Também pela História autêntica, tanto Marco Aurélio quanto o filho Commodus (Joaquim Phoenix, irmão de River, que chegou a ser indicado ao Oscar de coadjuvante e que começou sua carreira como ator infantil usando o nome de Leaf Phoenix) eram ainda mais brutais do que na fita, sendo este realmente incestuoso e por mais estranho que pareça ele realmente ia na arena enfrentar gladiadores e feras. Só que obviamente as lutas eram pré-fixadas, ou seja ele não perdia nunca. Mas não foi ele quem matou o pai como no filme, Aurelius morreu de doença, provavelmente varíola.

A história nesta altura todo mundo já sabe, é sobre um general romano que cai em desgraça quando o Imperador Marco Aurélio o escolhe como sucessor no lugar do filho Commodus (que mata o pai e manda matar o general e sua família). Consegue escapar, é feito escravo e acaba se tornando herói como gladiador em Roma. Depois de hora e meia de fita, ele já se revela ao novo Imperador e ajuda a conspirar para derrubá-lo. Essa figura de Maximus, diz o produtor Wicks, é a verdadeira alma do filme e o grande acerto foi encontrar Russell Crowe como a pessoa certa para interpretá-lo. Pensem bem, hoje em diante não é fácil achar um galã que fique bem de sainha ou toga romana (Crowe tinha também demonstrando sua versatilidade tendo sido indicado ao Oscar no ano anterior por sua composição de mais velho em O Informante). Neozelandês de nascimento, Crowe fez sua carreira na Austrália e foi trazido para Hollywood por Sharon Stone, que produzia o faroeste Rápida e Mortal (The Quick and the Dead), em 95. Depois deste filme ainda acertou com Uma Mente Brilhante, 2001, quando foi novamente indicado ao Oscar. Mas desde então teve uma carreira irregular(esteve horrível cantando em Os Miseráveis e acabou de estrear como diretor em Promessas de Guerra (14). Com seu corpo volumoso e atlético Crowe também não teve problemas com as cenas de luta (que foram encenadas por Nicholas Powell, o mesmo de Coração Valente) e que também teve de treinar atores e dublês, mais mil extras para as cenas de batalha na abertura. As filmagens começaram numa floresta próxima Farnham, Inglaterra (que passa pela Germânia), num lugar chamado Bourne Woods e que naquela momento iria ser desmatado. Scott brincou dizendo que faria isso por eles, pondo tudo abaixo para o filme.

Dezesseis mil fechas flamejantes foram lançadas e controladas pelo supervisor de efeitos especiais Neil Corbould. De lá a equipe se mudou para Quarzazate, no Marrocos, a porta do Deserto do Sahara, que se tornou o local do mercado em que Maximus é vendido, a escola de gladiadores de Próximo e uma arena onde ele tem seu primeiro combate. Depois foram para a ilha fortaleza de Malta, que aproveitou ruínas fenícias para se reproduzir parte do Império Romano em 218 aC. Lá também construíram o interior do Coliseu, a entrada da arena (o resto foi completado por CGI). Foi na edição final que entraram outros dois elementos dos mais elogiados do filme, a montagem de Pietro Scalia e a trilha musical de Hans Zimmer, um primor de orquestração para uma fita de aventura (e que ganhou o Globo de Ouro de melhor do ano).

Quanto ao filme propriamente dito, apesar de ter praticamente três horas, nunca é aborrecido. Ressuscitou um gênero, o épico com tanta competência que o diretor Scott fez varias aventuras meio parecidas, muitas com Crowe (como Robin Hood) mas sem o mesmo sucesso. Tecnicamente hoje já foi superado em suas cenas de ação mas ele se tornou um filme que marcou uma geração e bateu recordes (como a venda de DVDs no Brasil em sua edição especial com dois discos). E hoje já tomou um lugar especial de clássico moderno.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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