A Menina do Outro Lado da Rua
Numa pequena cidade no estado canadense de Quebec, a garota Rynn Jacobs (Jodie Foster), de 13 anos, mora sozinha no casarão alugado pelo pai. Mente sobre seu passado, vira alvo de maus-tratos cometidos pela proprietária da casa, Sra. Cora Hallet (Alexis Smith), e passa a ser aliciada pelo filho desta mulher, um homem mais velho, o sádico Frank Hallet (Martin Sheen). O que ninguém desconfia é que ela guarda um segredo aterrador.
A Menina do Outro Lado da Rua (The little girl who lives down the lane). França/Canadá, 1976, 91 min. Suspense. Colorido. Dirigido por Nicolas Gessner. Distribuição: Obras-Primas do Cinema
Tornou-se cult por excelência este filme setentista de mistério e suspense psicológico, um dos mais intrigantes do cinema e um dos meus preferidos, com Jodie Foster no início de carreira, bem garotinha, na época com 13 anos. Ela interpreta a menina enigmática do título, que vive isolada numa casa grande, sem contato com a família. Diz ter pai, que ele é poeta, está trancado no quarto escrevendo (ou descansando), mas nunca o vemos. Conta mentiras sobre a idade para parecer mais velha, tem atritos com a dona da casa, uma mulher intragável e violenta (papel marcante de grande atriz Alexis Smith) e é seduzida pelo filho dela, um sádico que tortura animais, apontado pela comunidade como pedófilo (Martin Sheen, em aparição rápida, mas especial). Rynn adota uma vida independente, como de adulto, porém dúbia, cercada por mistério e com comportamentos estranhos, a ponto de não revelar seu segredo nem para o novo namoradinho com quem está saindo.
Numa linha tênue entre o suspense e o terror, o filme cria um clima próprio, obscuro e angustiante, para também discutir um tema polêmico, a pedofilia (em plenos anos 70). Tudo o que assistimos saiu das páginas do livro que deram origem a este cult movie, um best seller mundial de Laird Koenig traduzido no Brasil para “A menina do fim da rua” (de 1973). O autor adaptou o romance para um roteiro, filmado com precisão pelo diretor húngaro Nicolas Gessner, seu trabalho mais importante – é dele também a fita policial com Charles Bronson “Alguém atrás da porta” (1971). Quando um escritor é contratado para adaptar a sua obra original como roteiro para cinema, há garantia de manter e fidelizar os elementos centrais da história, como aqui.
Rodado em Quebec, Canadá, e no estado de Maine, EUA, o filme traz uma interpretação particularmente boa de Jodie Foster, novinha de tudo. Neste mesmo ano, 1976, ela havia feito três outras produções notórias – as comédias “Quando as metralhadoras cospem” e “Um dia muito louco” e a obra máxima do cinema “Taxi driver”, ao lado de Robert De Niro, pelo qual recebeu a primeira indicação ao Oscar, de atriz coadjuvante.
Inédito em DVD, saiu agora em cópia restaurada pela Obras-Primas do Cinema, com bons extras.
Sobre o Colunista:
Felipe Brida
Jornalista e especialista em Artes Visuais e Intermeios pela Unicamp. Pesquisador na área de cinema desde 1997. Ministra palestras e minicursos de cinema em faculdades e universidades. Professor de Semiótica e História da Arte no Imes Catanduva (Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva) e coordenador do curso técnico de Arte Dramática no Senac Catanduva. Redator especial dos sites de cinema E-pipoca e Cineminha (UOL). Apresenta o programa semanal Mais Cinema, na Nova TV Catanduva, e mantém as colunas Filme & Arte, na rede "Diário da Região", e Middia Cinema, na Middia Magazine. Escreve para o site Observatório da Imprensa e para o informativo eletrônico Colunas & Notas. Consultor do Brafft - Brazilian Film Festival of Toronto 2009 e do Expressions of Brazil (Canadá). Criador e mantenedor do blog Setor Cinema desde 2003. Como jornalista atuou na rádio Jovem Pan FM Catanduva e no jornal Notícia da Manhã. Ex-comentarista de cinema nas rádios Bandeirantes e Globo AM, foi um dos criadores dos sites Go!Cinema (1998-2000), CINEinCAT (2001-2002) e Webcena (2001-2003), e participa como júri em festivais de cinema de todo o país. Contato: felipebb85@hotmail.com