OSCAR 2018: Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By My Name)

Para abraçar o filme é preciso uma sensibilidade especial, uma delicadeza e um romantismo que pode não ser para todos

02/01/2018 10:19 Por Rubens Ewald Filho
OSCAR 2018: Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By My Name)

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Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By My Name)

Itália, 17. Direção de Luca Guadagnino. 2h12, Sony. Estréia no Brasil em 18 de janeiro. Roteiro de James Ivory. Baseado em livro de André Aciman. Com Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg, Amir Casar, Esther Garrel, Peter Spears.

Sou grande admirador do diretor italiano Luca Guadagnino (Palermo, 71) que descobri meio por acaso ao ver seu impressionante trabalho que foi Um Sonho de Amor (Io Sono L´amore, 09), que fez certa carreira no Brasil. Fiquei tão entusiasmado que escrevi o seguinte: “Me apaixonei por este filme, escrevendo sobre sua beleza (que acabou ao menos tendo uma indicação ao Oscar de figurino, BAFTA e Globo de Ouro de filme estrangeiro e atriz do Sindicato Italiano). Naturalmente é para quem gosta do velho cinema italiano. Raramente vê-se um diretor com um olhar tão particular, tão original quanto o deste italiano Luca (que tinha feito antes vários documentários, sendo que dois deles com a mesma atriz daqui a vencedora do Oscar, Tilda Swinton). Fazia tempo que não via alguém com a capacidade de um Visconti, de utilizar a cenografia, os espaços (vazios ou mobiliados) de forma tão dramática. No fundo é uma mansão que é protagonista e também o retrato de uma família de classe alta burguesa de Milão, que esconde seus segredos (durante a guerra ajudaram os fascistas e exploraram judeus) diante da decisão do patriarca (o antológico Gabriele Ferzetti) de passar o comando para o filho e o neto. A inglesa e estranha Tilda (ela faz uma russa que se casou com o italiano) apoia o filho mais velho que resolve abrir um restaurante refinado numa montanha em San Remo, junto com um amigo dele de origem camponesa. A princípio achei que havia uma relação gay entre eles, mas depois é que vem a revelação, o chef fica atraído é pela mulher madura e os dois vivem uma relação alucinada e passional (a fotografia é esplêndida, mas o que impressiona é como o diretor escolhe detalhes, momentos, que deixam a marca no espectador). Sem dúvida, foi um dos poucos filmes que vi nos últimos tempos que é elegante, delicado, passional, fora do comum.”

Depois disso o mesmo diretor fez outro filme que fui descobrir por acaso no IMDB e consegui uma cópia. Com o título ruim de Um Mergulho no Passado (A Bigger Splash,15), feito novamente com La Tilda, mais Ralph Finnes e Matthias Schoenaerts e Dakota Johnson. Na verdade, é uma refilmagem do célebre A Piscina, clássico com Alain Delon, Romy Schneider (69, de Deray) que dava ênfase a um tom de thriller. Tilda perde a voz num melodrama passado numa região escondida da Itália, na ilha Pantelleris, na Sicília, aonde um casal está passando férias. O resultado é interessante, mas bem inferior ao anterior.

O fato é que este atual Me Chame Pelo Seu Nome foi gerado pela presença de um diretor britânico muito antigo e venerável que é James Ivory (americano de nascimento em 1928), fez carreira no cinema britânico ao se unir como casal com o produtor britânico, Ismail Merchant (1936-85). Fizeram grandes filmes juntos, entre eles o clássico gay Maurice (87) e vários outros de qualidade, muito premiados (Uma Janela para o Amor, 85, Retorno a Howard´s End, 92, Vestígios do Dia, 93). Foi ele quem descobriu o roteiro original e o adaptou, guardando os direitos. Ia fazer o filme sozinho, mas foi convencido a liberá-lo para o também gay Luca (que até abusou na fidelidade ao texto, de tal forma que cortaram da história dois encontros que os dois protagonistas teriam como adultos - ao menos o garoto - e como resolveriam a situação deles! O IMDB menciona como possível essa continuação já falando mesmo no elenco. Mas tem mais, também Luca já terminou de rodar, um remake de Suspiria, o suspense /terror de Dario Argento, que deve ter de novo Dakota e Tilda, além de Chloe Grace Moretz. E para 2018, promete Rio, com Jake Gyllenhaal e Benedict Cumberbatch, sobre um repórter que visita o Rio e descobre plano estranho com seu melhor amigo!

Voltando a este filme atual, ele estreou no Festival de Sundance onde foi bem mas não excepcional tanto que foi passando em branco pelos festivais (Toronto, Berlim, San Sebastian) para ser consagrado com o apoio dos críticos norte-americanos e uma salva de palmas de 10 minutos no Festival de Nova York (foi por enquanto indicado para Globo de Ouro de drama e a dupla de atores, Timothée (de pai francês e mãe judia, nasceu em Nova York, este também em Lady Bird tem hoje 20 anos) e Arnie (de família muito rica, tinha 29 quando fez o filme, estreou fazendo papel duplo de gêmeos em A Rede Social, mas também teve fracassos terríveis com O Agente da Uncle e O Cavaleiro Solitário onde foi o Lone Ranger). É Timothée que concorre a prêmios o que para mim é um exagero. Ele tem um tipo muito magro, fraco, realmente com cara de hippie francês e fica a princípio difícil de convencer com o menor de idade (na Itália, a idade seria 14 anos e o personagem teria aqui 17) que consegue seduzir (ao menos, interessar o parceiro). Shia LeBoeuf acabou não fazendo o filme, o que é um bem para todos. O filme é dedicado ao falecido ator Bill Paxton, que era grande amigo do agente do filme.

A história se passa em 1983, numa cidadezinha no Norte da Itália (aliás poderiam ter encontrado lugar mais bonito e fotogênico do que a cidadezinha de Crema, os heróis ficam se banhando em riacho de águas sujas e andando de bicicleta por uma cidade bem pobrezinha). O diretor Luca que brilha tanto pela força e garra das cenas, permitiu que a narrativa fosse lenta, arrastada, demorada. Cadê a paixão? De qualquer forma, a figura do pai judeu o ator Michael Stuhlbarg descoberto em Um Homem Certo dos irmãos Coen é quem tem um texto bonito e forte que dá sentido ao final.

O fato é o seguinte: fiquei contente com a existência de um brasileiro, que é Rodrigo Teixeira (que se deu bem com o terror A Bruxa, do recente e legal Patti Cakes, além de vários filmes nacionais, mas é praticamente o único a produzir no exterior e de forma bem-sucedida!). Mas para abraçar o filme é preciso uma sensibilidade especial, uma delicadeza e um romantismo que pode não ser para todos.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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