OSCAR 2018: The Lovers
Embora sejam comuns filmes sobre casamentos e descasamentos, ele me pareceu muito sutil e capaz de provocar compreensão dentre os sócios da Academia
The Lovers
EUA, 17. 97 min. Direção e roteiro de Azavel Jacobs. Com Debra Winger, Tracy Letts, Aidan Gillen, Melora Walters, Tyler Ross, Jessica Sula, Lesley Fera. Sem previsão de estréia no Brasil.
Este é daqueles filmes modestos que não fez muito sucesso na temporada de verão mas tem um apelo muito forte, por causa do retorno da quase lendária ex-estrela Debra Winger (nascida em 55, foi indicada três vezes ao Oscar por A Força do Destino, 83, Laços de Ternura de 84, Terra das Sombras, 93). Se tornou uma criadora de casos e se afastou da carreira se casando com primeiro com Timothy Hutton e até hoje com Arliss Howard. De 2003 em diante fez papeis nada marcantes e atualmente está na série de TV The Ranch. Por causa do seu temperamento insuportável, virou uma lenda e só agora teve um papel de estrela novamente. Bastante envelhecida, tem um trabalho bem controlado e humano aqui ao lado de Tracy Letts, dez anos mais novo que Debra, que é mais famoso como escritor de peças que viraram filmes (Possuídos com Ashley Judd, Killer Joe com Matthew McConaughey e Álbum de Família, com Meryl Streep. O último é Superior Donuts, que veio a ser adaptado como série de TV com Judd Hirsch e Katey Sagal). Alto, ruivo, gordo, ele não é especialmente atraente, mas é um ator muito competente, no novo Lady Bird de Greta Gerwig, Elvis & Nixon, Indignação com Logan Lerman e outros.
O diretor deste filme é para mim desconhecido já que filmes anteriores nunca passaram no Brasil, Azazel Jacobs dirigiu Terri, 11, Mamma´s Man, 08, The Good Times Kid, 05. Na história Debra e Letty são um casal que leva vida normal de subúrbio, cada um com seu emprego de rotina e cada um com um amante em andamento, Debra com um britânico (preste atenção que o papel é feito por Aidan Gillen, famoso vilão de Game of Thrones) e Letts, sofre com uma bailarina destrambelhada (Magnólia, Sociedade dos Poetas Mortos). Ambos vivem escondendo seus amores até quando meio por acaso voltam a transar e recomeçam com uma ligação até animada e bem sucedida. Até o momento em que vem visitar o filho ainda muito jovem e sua namorada e acha tudo aquilo uma hipocrisia, na verdade porque é jovem demais para entender os meandros do amor.
Gostei particularmente da interpretação do casal, sempre low profile, mas consistente e de maneira que é trata as reviravoltas de uma relação amorosa, as vezes complicada demais para ser explicada. Deve ter sido por causa disso que o diretor pediu uma trilha musical sinfônica e romântica, digna dos anos 50 e que hoje pode vir a incomodar. Mas diz muito claro a que veio. Embora sejam comuns filmes sobre casamentos e descasamentos, ele me pareceu muito sutil e capaz de provocar compreensão dentre os sócios da Academia.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.