OSCAR 2014: Antes da Meia-Noite (Before Midnight)

Fazendo jus a seu prestígio, o filme foi indicado ao Oscar® de roteiro original

08/02/2014 22:22 Por Rubens Ewald Filho
OSCAR 2014: Antes da Meia-Noite (Before Midnight)

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Antes da Meia-Noite (Before Midnight)

EUA, 13.Direção e roteiro de Richard Linklater. Com, Julie Delpy, Ethan Hawke, o menino Seamus Davey Fitzpatrick, Jennifer e Charlotte Prior, Walter Lassaly.

 

Apesar de estar em cartaz há algumas semanas, foi numa sala cheia (e com fila) que eu finalmente assisti este inesperado sucesso do cinema independente americano (nos EUA até agora rendeu 6.500 milhões de dólares nada mal para um filme modesto). Como os dois filmes anteriores não foram grande sucesso por aqui, só posso supor que eles ficaram famosos graças ao Home Video e TVs por assinatura que lhe agraciaram um novo público, principalmente o feminino que se identificou com a historia de um casal em três tempos. Fazendo jus a seu prestígio, o filme foi indicado ao Oscar® de roteiro original, como já havia sucedido anteriormente com Antes do Por do Sol (também foi indicado ao Globo de Ouro, Independent Spirit, roteiro e atriz, Gotham, ganhou críticos de LA e NationalL Society of  Critics). 

O primeiro foi Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995). Mostrava como durante uma viagem de trem pela Europa, um americano conhece e se interessa por uma francesa que ele segue e namora pelas ruas de Viena. Foi  premiado com o Urso de prata no Festival de Berlim e na época custou a encontrar um público (acertou mais na Europa). Um filme romântico para pessoas  na faixa de vinte e poucos anos, que serve também como um tour pela cidade de Viena. Já tinha suas marcas registradas: praticamente sem coadjuvantes, é muito falado, sua apreciação vai depender de você gostar ou não do casal central. O diretor escreveu o texto com Kim Krizan, mas dos filmes seguintes também estariam envolvidos no script o casal central de atores, Ethan (que também tem dois livros publicados como romancista) e a francesa Julie (que escreve os roteiros dos filmes que dirige). Eles todos seriam indicados ao Oscar® de roteiro pelo filme seguinte: Antes do Por do Sol (Before Sunset, 2004). Nove anos depois do primeiro encontro num trem,o americano Jesse vai para Paris lançar um livro e reencontra Celine. Será que o amor pode renascer?  Richard Linklater,  nesse meio tempo acertou  com o cult A Escola de Rock. No fim do primeiro filme, o casal  promete se encontrar dali a seis meses (mas não tem o endereço ou nada um do outro). O encontro finalmente acontece em Paris, onde ele foi lançar um livro que contava justamente a história dos dois. Saem andando por Paris, o que é sempre um prazer (em parques, pela Rive Gauche, de bateau mouche), com a câmera perseguindo o casal. E eles  vão conversando, trocando informações (ele foi ao encontro, ela não pode porque morreu a avó, ambos ficaram marcados por isso, mas agora o rapaz está casado – mal – e com filho pequeno). Certamente é o filme americano mais falado desde Meu Jantar com André, de Louis Malle há quase 40 anos atrás. Mas o casal colaborou no roteiro e parece extremamente à vontade, em particular Julie, que nunca esteve melhor no cinema (ela canta até uma música dela, mesmo porque  andou gravando discos como compositora). Prejudicado por um final um pouco abrupto, o filme é muito simpático  e bem feitinho (cortado e decupado a moda antiga, nada de câmera solta girando em volta deles).  Acabou porém virando Cult e dando origem ao filme atual .

A verdade é que todos continuam fiéis a proposta inicial, e o casal central não para de falar. Acho engraçado que eles não descem a detalhes e pormenores do relacionamento, ou dificuldades objetivas. Tudo é uma conversação quase literária em que discutem genericamente sobre opções de vida e os anos todos que passaram junto enquanto Celine fazia de conta que não via as infidelidade de Jesse (que ele nunca confirma ou desmente). Eles estão agora numa parte menos conhecida da Grécia (e o filme não tem nada de turístico, nem mesmo no hotel que é bem classe média!).Com alguns amigos (o mais velho deles, um senhor que faz o papel de Patrick, é seu primeiro filme como ator, embora tenha uma carreira magnífica como fotógrafo de alguns clássicos como Zorba, o Grego (e todos os outros grandes de Cacoyannis), o musical Joanna, Pleasantville, num total de 106 creditos!).

Começa com Jesse levando o filho do casamento anterior ao aeroporto (a outra não aparece, mas sabe-se que odeia Jesse, em compensação o filho se dá bem com Celine, que o aconselhou na hora de dar um primeiro beijo! Sem maldade). Agora eles têm um casal de filhas (vividas por irmãs na vida real) e continuam conversando e não param mais.  A atração sexual ainda é forte, mas a crise depois de nove anos ameaça acabar com tudo. Achei uma boa solução dramatúrgica a história da maquina do tempo que conclui o filme de forma satisfatória. De qualquer forma, dá para sentir que Celine amadureceu mais do que Jesse, que ainda se agarra a valores já superados. E sua vaidade de escritor (enquanto ela ainda esta se afirmando não se sabe bem como).

Um detalhe bonito: o filme é dedicado pelo diretor à lembrança de  uma mulher chamada Amy.Segundo ele, Amy foi a inspiração para o primeiro filme, Antes do Amanhecer. Eles passaram uma noite conversando e falando na Filadelfia mas eventualmente perderam contato.  Antes deste terceiro filme, ele finalmente teve noticias dela e soube que esta tinha morrido anos atrás num acidente de tráfico. Por isso a dedicatória.

Como nos filmes anteriores, nada é improvisado na hora. Há tomadas longas, às vezes de 14 minutos, que eles interpretam irrepreensivelmente como se fosse filme de Stanley Kubrick!   Certamente resultado de muito ensaio e repetições. O diretor realmente prefere um resultado bem construído e justificado. Não há planos ao menos no momento para um outro filme, mas nunca se sabe... Do jeito que estão evoluindo, a sensação é que outros capítulos serão bem vindos.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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