Os Melhores e Piores do Ano 2015

Veja o que aconteceu no mundo do cinema em 2015

30/12/2015 21:58 Por Rubens Ewald Filho
Os Melhores e Piores do Ano 2015

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Os Melhores e Piores do Ano 2015

Foi um ano difícil em todos os sentidos e em todo o mundo. Também para o cinema. A impressão é que a Internet e o streaming (vide Netflix) está provocando mudanças nos hábitos das pessoas de tal forma que nos EUA hoje em dia o Video on Demand já esta rendendo mais do que antes o DVD rendia (que parece hoje só destinado aos colecionadores e as crianças que gostam de rever muitas vezes os filmes de animação). Mesmo com o mega sucesso de alguns blockbusters (atualmente com Star Wars - uma prova de que quando bem produzido e planejado pode-se realizar um filme de ação e fantasia de qualidade que consegue agradar a todo mundo. E antes com a inesperada qualidade de Jurassic World, que reciclou a trilogia anterior e conseguiu render mais de um bilhão de dólares em todo o mundo).

Enquanto isso o cinema norte-americano parece sobreviver das rendas conseguidas em países antes fechados a Hollywood, como a China e a Rússia (são eles que hoje sustentam a indústria. Como ambos os países conseguem ser mais corruptos do que nos aqui, fico imaginando como devem estar lucrando os burocratas locais!). A verdade é que o filme médio esta morrendo, não tem mais público. Muito em breve serão todos lançados diretamente pelo streaming (fazendo no máximo uma passagem rápida por algumas salas apenas para qualificar para premiações). Enquanto o Netflix é o exemplo mais claro, já no Brasil, da política de se lançar diretamente pela internet filmes de qualidade (como é o caso do Beasts of No Nation, um trabalho de qualidade e importância mas também documentários, séries e até mesmo produções inéditas que seriam comerciais apesar de péssimo qualidade, como o faroeste de Adam Sandler The Ridiculous 6). Naturalmente o nosso governo faminto de dinheiro deve mexer no seu custo impondo impostos que Deus sabe onde irão parar...

Na verdade, não me recordo de um ano tão caótico, tão difícil quanto este, inclusive a nível universal, nem de uma seleção de filmes de arte de tão medíocre qualidade. Fico assustado com o pouco público das salas (durante a semana quando tem mais de três pessoas é um milagre!). Filme brasileiro então - que não seja comédia - não tem atingido um público arisco e que ainda não descobriu que estamos produzindo muito (mais de cem filmes por ano!) e muitos deles de qualidade e valor (naturalmente tem os documentários descartáveis), mas também alguns politicamente polêmicos e vários talentosos e promissores,ainda que o brasileiro não aprenda a dar títulos atraentes a seus trabalhos. Por exemplo, quem vai se interessar em assistir algo chamado “Ausência”. E assim logicamente fracassa um dos melhores do ano! Até Que Horas Ela Volta, sucesso no exterior principalmente na Europa, não passou dos 400 mil espectadores e assim mesmo porque se esperava que ele ficasse nos finalistas do Oscar (o único premio americano no qual foi indicado é o Critic´s Choice!). Nem com a interpretação impecável de Regina Casé ajudou...

Juntando tudo isso com a pirataria livre e solta, não apenas aqui, mas no fundo somos reflexos do que sucede com os americanos (tanto que quase todos os filmes que deverão ser finalistas do Oscar já estavam disponíveis em meados deste dezembro). Com a violência descontrolada de praticamente todo o Brasil, o caos do trânsito, a falta de dinheiro, quem vai sair de casa para ir a uma sala de cinema? Só mesmo um novo Star Wars seria capaz de um milagre desses...

Então ao fazer a lista dos melhores esbarramos nesse problema. Os chamados blockbusters foram melhores este ano de tal forma que filmes como Perdido em Marte (que tem grande chance de dar finalmente um Oscar para seu diretor Ridley Scott) como o inesperado sucesso (Mad Max: Estrada da Fúria) tem grande chances de levarem Oscars! Assim como Star Wars: O Despertar da Força e Jurassic World, eles representam o que o público gosta e apóia. Sem esquecer outros do gênero, como o excelente Missão Impossível: Nação Secreta (o melhor da série) e o desvairado mas divertido Velozes e Furiosos 7 (que contém a melhor homenagem e mais comovente que já vi a um astro falecido, no caso Paul Walker). Sem esquecer os filmes da Marvel,  Vingadores - A Era de Ultron (os super-heróis dominaram a TV e hoje atualmente há pelo menos series em cartaz com personagens do gênero).

Lógico que houve outros lamentáveis e alguns esnobados pelo público (como No Coração do Mar, apesar da presença do Thor!) talvez porque não saibam mais quem é Moby Dick... Mas acho que é a lista de melhores menos concorrida em muitos anos. Vamos lá:

1- De Jean-Luc Godard: Adeus à Linguagem - Este é o 127 filme do veterano critico e diretor que completou 85 anos agora em Dezembro e ainda continua ousado e atrevido e antes de tudo bem humorado! Ele desafia os limites do polêmico 3D num filme que ainda confunde e esclarece!

2- Os 33 de Patricia Riggen (diretora mexicana) - Infelizmente ninguém viu e a crítica esnobou esta comovente e até poética recriação do que foi a luta pela sobrevivência dos mineradores chilenos que ficaram presos debaixo da terra. A melhor presença do brasileiro Rodrigo Santoro no cinema internacional.

3- Selma Uma Luta pela Igualdade (Selma) de Ava Duvernay - Esnobado pelo Oscar (levou apenas canção, Glory) outro dirigido por mulher. É um filme forte e comovente, o melhor já feito sobre Martin Luther King e a marcha pela igualdade racial na cidade de Selma. Claro que ninguém viu no Brasil, apesar de não termos preconceitos!

4- Sicário: Terra de Ninguém de Dennis Villeneuve - Esta é a confirmação do talento do diretor canadense de Quebec, de Incêndios e Suspeitos. Olho neste moço que tem um estilo todo especial de dirigir e que deve fazer o novo Blade Runner, culminando com este esplêndido drama de fronteira, muito bem interpretado e de grande impacto. Elogios especiais para Benito del Toro e Emily Blunt!

5- Whiplash - Em Busca da Perfeição (Wiphlash) de Damien Chazzelle - Foi o meu filme preferido do Oscar do ano passado. Um drama de baixo orçamento expandido de um curta metragem sobre estudante de musica, MIlles Teller, que tenta agradar professor (J.K. Simmons, Oscar de coadjuvante). Quem já estudou e enfrentou professores, ou aprendeu música, vai se identificar. Simples mas forte e tocante.

6- O Jogo da Imitação (The Imitation game) de Morten Tyldum - Um diretor desconhecido acertou em cheio numa nova adaptação de um fato real: cientista brilhante que ajudou a desvendar o código secreto nazista é perseguido na Inglaterra por ser homossexual. Benedict Cumberbatch, o Holmes da TV, foi indicado como ator, mas ganhou Oscar apenas de roteiro adaptado. Mas me impressiona muito mais do que outro inglês que saiu premiado, o bonitinho e medíocre A Teoria de Tudo.

7- Birdman - ou A Inesperada Virtude da Ignorância de Alejando G. Iñarritu - Está na moda no Brasil colocar sub títulos que logo serão descartados. Este foi um filme muito especial que deveria ter dado o Oscar para Michael Keaton. Mas o diretor mexicano foi o primeiro a levar o Oscar (ainda mais num momento onde se faz campanha lá sobre os emigrantes!). A Fotografia é esplendida (de outro mexicano) e o resultado mais experimental do que outra coisa.

8- O Ano Mais Violento (A Most Violent Year) de J.C. Chandor - Quase ninguém assistiu mas é drama policial/mafioso muito interessante, bem interpretado pelo Oscar Isaac, o piloto de Star Wars, inspirado em fatos reais, em Nova York, em 1981, quando negociante enfrenta a Máfia na tentativa de abrir um negócio de combustível. Até Jessica Chastain está bem...

9- Kingsman: Serviço Secreto de Matthew Vaughn - Dos filmes de aventura e ação este é meu favorito. Bem produzido, bem humorado, não chega a ser sátira, mas uma aventura de ação à moda inglesa bem melhor do que o James Bond 007 deste ano (que decepcionou). É sobre nova organização britânica de espionagem (com Colin Firth, Samuel Jackson). Quem perdeu procure assisti-lo.

10- Divertida Mente (Inside Out) de Peter Docter e Ronnie Del Carmen - A Pixar está passando por fase ruim mas deve levar tudo que é premio por esta animação (não para crianças pequenas demais) intelectualizada sobre as emoções internas (medo, alegria, raiva etc.) que tomam vida, na tentativa de influenciar os pequenos. O filme me perturbou a primeira vez que assisti, mas fui rever e da para entender que será um novo clássico do gênero.

 Outros filmes interessantes do ano

- O Abutre - um filme B forte e marcante. Jake Gyllenhaal esta virando ator Cult, também por sua marcante mas injustamente esquecida participação em Nocaute/Southpawn).

- Malala - Impressionante documentário sobre vencedora do Nobel da Paz.

Foxcatcher - Uma História Que Chocou o Mundo - Bobagem no título, já que o mundo nem ficou sabendo desta história muito americana sobre milionário psicótico (o ótimo Steven Carrell). Para mim, o ator do ano foi Mark Ruffalo pelos vários trabalhos (The Normal Heart, Sentimentos que Curam, o ainda inédito aqui Spotlight Segredos Revelados).

- Amor a Primeira Vista (She´s Funny that Way) - Retorno a direção de Peter Bognadovich, numa comédia simpática a moda antiga e que ninguém viu!

Expresso do Amanhã (Snowpiercer)- Aventura de talentoso diretor coreano, Joon Ho Bong, original e que tem tudo para virar Cult.

- Acima da Nuvens (Clouds of Sels Maia) - Surpreendente drama francês do bom diretor Olivier Assayas. A grande Juliette Binoche faz estrela de cinema que tem problemas ao reviver personagem de teatro. Curioso porque traz a melhor interpretação da carreira de Kristen Stewart que não parecia ser capaz disso!

- Beasts of No Nation - Drama do prestigioso diretor e roteirista Cary Fukunaga (famoso pelo primeiro ano da série True Detective). Rodado na África, baseado em fatos reais, mostra garoto pré adolescente que perde a família e virar guerrilheiro. O ótimo Idris Selva faz o seu chefe.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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