Os Melhores Filmes Brasileiros de 2016

Rubens Ewald Filho avalia o mundo do cinema deste ano e comenta quais são os melhores filmes nacionais

27/12/2016 21:45 Por Rubens Ewald Filho
Os Melhores Filmes Brasileiros de 2016

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A Crise

A cada ano vou ficando mais rigoroso e apocalíptico. Acho difícil ter tido um ano com filmes tão banais, tantos fracassos de bilheteria (principalmente em Hollywood) e apesar dos recordes de bilheteria da Disney (com a Marvel, as animações, os filmes da Lucas) antevejo para breve uma perigosa mas inevitável mudança. É excepcional o sucesso da Netflix, primeiro lá fora, depois aqui, de tal forma que coloca em perigo não apenas as tevês abertas como também as tevês por assinatura. É impressionante de que toda semana nos EUA, de dez filmes estreando, apenas um ou no máximo dois conseguem se pagar. Mesmo a Disney tem tido fracassos, mas o prejuízo deve ajudar a equilibrar a balança interna.

O que eu acho fundamental é que nem todos perceberam ainda que Hollywood entrará em breve numa crise, porque o poder, o talento, a qualidade mudaram de dono. Ate agora eram os chefes de estúdio que produziam filmes com enorme orçamento. Mas fazem cada bobagem. Simplesmente porque não são do ramo. Não são como os antigos chefes de Hollywood que sempre amavam seu trabalho e procuravam acertar no melhor. Agora eles são antigos advogados, agentes, executivos. Que se preocupam com os milhões que vão ganhar. E só agora começam a perceber que quem deve mandar é o talento, o artista e não o negociante. São eles agora que escrevem e produzem e dirigem para a HBO, a Netflix e as outras que a seguirão. Nesse aspecto pode vir a ser o que de mais importante já aconteceu com a indústria do cinema. Ainda que nos próximos anos venha a acontecer reviravoltas inesperadas e também falências.

Isso para mim explica como tem sido curiosa a produção de filmes, ainda mais complicada com a atitude da Academia do Oscar em ser mais abrangente, moderna, com mulheres e minorias raciais. Mas pouco podem fazer, eles não mandam na industria, que continua realizando os filmes que lhes parece mais comercial. Não melhor.

Os melhores brasileiros

Por estranho que possa parecer ate que foi um bom ano para o cinema brasileiro. Não foi adiante o momento em que conseguiram fazer grandes comédias populares (e a maior parte dos sucessos foram horríveis) e o público continuou evitando filmes mais sérios, muitos deles de qualidade. Não perdeu o preconceito. Ainda precisa rir mesmo que de baixo nível. Esta é uma lista pessoal onde relembro os melhores nacionais de 2016.

- Boi Neon, de Gabriel Mascaro. É muito interessante como continuam a surgir talentos no Recife, que hoje em dia produz os mais interessantes filmes brasileiros. Bastante atrevido e original, erótico e polêmico, também de uma grande beleza e profundidade.

- Aquarius, de Kleber Mendonça Filho. Outro recifense talentoso, que provocou uma polêmica desnecessária numa disputa política que acabou mal para todos. Cannes já errou não lhe dando prêmios e o elenco protestando contra o impeachment acabou perseguindo o filme que um júri mal formado tirou de representar o Brasil no Oscar, como devia ter sucedido (o filme acumula diversos prêmios de revistas francesas e traz a melhor interpretação da carreira de Sonia Braga). Moderno, diferente, humano, urbano, é quase uma continuação do filme anterior O Som ao Redor (12). Errou feio o governo que perseguiu Aquarius e indicou um filme fraco e mal realizado como Pequeno Segredo.

- O Silencio do Céu, de Marco Dutra. Certamente um dos melhores filmes do Festival de Gramado, se não o melhor, confirmando o talento do jovem diretor Marco Dutra (que tem trabalhado com Juliana Rojas, como em Trabalhar Cansa). Mas ate agora é sua obra prima, um policial rodado no Uruguai com um ator argentino, o ótimo Leonardo Sbaraglia com uma trama policial forte e a presença talentosa de Carolina Dieckman e Chino Darin (filho de Ricardo Darin). O produtor é o mesmo Rodrigo Teixeira do ótimo A Bruxa.

- Sob Pressão, de Andrucha Waddington. Tem feito tão poucos filmes que a gente esquece como o diretor é talentoso e competente, desde os tempos de Eu, Tu, Eles (2000). Deveria ter tido maior repercussão este filme tenso sobre hospital carioca, entre o fogo da polícia e dos traficantes. Excelente elenco com destaque para Julio Andrade, Marjorie Estiano, Stepan Nercessian.

- Rua Barata Ribeiro 716. Sou grande admirador desde os tempos de Todas as Mulheres do Mundo do diretor, escritor (sua recente autobiografia é brilhante) Domingos de Oliveira. Que pena que o público ignorou esta comédia dramática auto biográfica em que Ricardo Blat faz o jovem Domingos morando num apartamento título, onde aproveita a vida bebendo e namorando mulheres. Uma delícia muito brasileira. Azar de que nem soube descobrir o filme. Outros filmes de Gramado: Elis, de Hugo Prata. Não chega a ser uma biografia completa da inesquecível Elis Regina. Mas alguns lapsos ficam perdoados pela escolha incrível da atriz que a interpretou a incrível Andréia Horta. Não sei qual o santo que baixa nela, mas o resultado é formidável. Como um dos curadores de Gramado, tivemos a sorte de selecionar outros bons filmes: O Roubo da Taça, uma comédia muito divertida, que não encontrou o público que devia. E deu o prêmio de melhor ator para Paulo Thiefentaler. A Taça é a Jules Rimet e vocês não sabem o que perderam. El Mate de Bruno Kott é outro filme talentoso mas que ainda não estreou. Outra comédia, Tamo Junto, de Matheus Souza confirma o talento do ator/diretor/roteirista.

- Meu Amigo Hindu foi o filme de despedida do grande diretor brasileiro/argentino Hector Babenco. Ele sabia que tinha pouco tempo de vida e contou uma história autobiográfica sobre um garoto indiano que encontrou em hospital. Ainda assim não poupou o espectador ou sequer os amigos num filme cru e também poético. Gostava e admirava muito Babenco e o filme me comoveu muito.

- Entre Idas e Vindas, de José Eduardo Belmonte. Dentre as comédias românticas, esta foi minha favorita. Sempre com a presença eficiente e estelar de Ingrid Guimarães, é basicamente um filme de estrada, com encontros e desencontros, a presença de duas ótimas atrizes nacionais (Alice Braga, Rosanne Muholand) e de Fábio Assunção e seu eficiente filho.

- Mãe Só Há Uma, de Anna Muylaert. Depois do sucesso merecido do filme anterior, Que Horas ela Volta?, Anna experimenta com outro drama familiar, só que mais duro com menos humor. O retrato de um adolescente em conflito com sua sexualidade ao mesmo tempo que descobre que foi criado na família errada.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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