RESENHA CRTICA: Nise ? O Corao da Loucura
Este um dos melhores filmes brasileiros deste ano
Nise – O Coração da Loucura
Brasil, 16. 96 min. Direção de Robert Berliner. Com Gloria Pires, José Carlos Machado, Luciana Fregolente, Fernando Eiras, Flavio Bauraqui, Claudio Jaborandy, Roney Villela.
Uns poucos conheciam a história da doutora Nise da Silveira por causa de um documentário de mais de 3 horas realizado por Leon Hirzman sobre ela e seu trabalho no filme Imagens do Inconsciente (87). Mas foi boa ideia dar uma dimensão maior a essa figura notável, num projeto dirigido pelo experimentado Roberto Berliner (que fez documentários como A Farra do Circo, Herbert de Perto, A Pessoa é para o que Nasce, Pindorama a Verdadeira História dos Sete Anões). Que fez muito sucesso no maior Festival do Japão, o de Tóquio, ganhando o Grand Prix e melhor atriz para Gloria Pires.
Realizado com poucos recursos, o filme mostra com muita dignidade, realista mas sem cair no exagero, a difícil trajetória de uma médica que vai trabalhar num hospital psiquiátrico no Rio justamente numa época onde os doentes mentais eram submetidos a famigerada lobotomia (relatada por Tennessee Williams em De Repente no Ultimo Verão, até porque a irmã dele sofreu essa intervenção em que os médicos perfuravam o cérebro deixando o paciente tranquilo mas também destruído para sempre). É assim que o filme começa mostrando a doutora descobrindo o novo método sendo festejado como grande solução (lembrem-se que é muito raro se ver críticas aos médicos em qualquer filme!). Mas se eles continuam a ser os vilões sem alma ou caridade, acompanhamos a luta da Doutora Nise tentando reabilitar seus pacientes, ao menos lhe dando certo respeito, também incentivada pelo célebre Doutor Carl Jung com quem mantinha correspondência, criando um atelier de arte, onde eles podiam se exprimir em pinturas ou esculturas, que eram incríveis imagens do consciente.
Há uma visível tentativa de não pegar forte demais e assim afastar o possível espectador, mas também em não adoçar demais a pílula (não há nada de bonito em observar a tragédia da loucura) e por vezes o defeito maior é uma câmera principalmente no começo que balança demais. Mas é desculpável porque o filme é comandado por Gloria Pires (alguém discute que é a nossa melhor atriz de cinema?) ganha força e emoção, com interessantes intervenções musicais e muito ajudado por um excelente elenco de apoio, que mistura desconhecidos com outros já consagrados. Ao final, vemos identificados os artistas e uma aparição da própria Dr. Nise. Tudo confirmando que este é um dos melhores filmes brasileiros deste ano.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.