Lanamentos em DVD : Clssicos da Verstil
Que a Verstil prossiga em seu belo trabalho e que o pblico saiba curtir o tesouro que resiste ao fim das locadoras
Não é a primeira vez que eu elogio o trabalho que a Versátil tem feito nestes últimos meses, ou ano, continuando a lançar filmes clássicos ou de arte ou simplesmente de gênero (como os italianos Giallo, filmes policiais com toques de terror e Gore, ou a coleção de filmes japoneses de Samurais, ambos sem precedente no Brasil). O fato é que criaram um estilo que a cada mês vem se tornando mais interessante e bem sucedido, de tal forma que eu já fico esperando com expectativa qual será a surpresa deste mês. Chegaram mesmo neste último pacote a lançarem três filmes novos, quero dizer novos para mim, o que não é fácil. Permitiram que eu assistisse finalmente uma das minhas curiosidades, o ficção cientifica Robison Crusoe em Marte (certamente uma falha na minha cultura cinéfila principalmente porque foi precursor do atual Perdido em Marte. Quase todos tem saído no que chamam de Digipack, ou seja apresentando de quatro a seis filmes por pacote, todos em cópia boa (algumas restauradas) e sempre que possível com extras interessantes (no Pacote Sci-Fi Vol. 2 temos Joe Dante falando de O Homem dos Olhos de Raio X e John Carpenter de Monstro do Ártico). As vezes se dão ao luxo de lançar aos poucos a obra completa de um diretor cult mas que ainda esta longe de ser famoso no Brasil, o francês Jean- Pierre Melville. Chamado a Arte de Melville, traz seu último clássico O Circulo Vermelho, o que o revelou Técnica de um Delator e o raro e inédito no Brasil, Dois Homens em Manhattan. E a raridade, um documentário sobre o diretor, Codinome Melville (antes já tinham lançado dois outros clássicos de Leve, O Samurai com Delon e O Exercito das Sombras, com Simone Signoret, que os americanos consideram sua obra-prima.
Outra edição deste mês é sobre a Arte de Dario Argento, o italiano filho de brasileira, Cult de terror, apresentando seus raros primeiros filmes que fizeram muito sucesso de público na época, aqui e lá fora, O Pássaro das Plumas de Cristal, O Gato de Nove Caudas, Quatro Moscas em Veludo Cinza e ainda Terror na Ópera. Outro filme dele, restaurado, sai em edição solo: Phenomena com a jovem e já bela Jennifer Connelly.
Foi no pacote de faroestes que descobri dois faroestes que tinha deixado escapar (eram de 1949 e 50, ou seja não tinha idade para assistir e até hoje tenho a compulsão de tentar ver justamente essas raridades de outra época). No caso foram duas boas surpresas, ambos ainda em preto e branco, o que explica porque nunca circularam nem na nossa TV: Golpe de Misericórdia (Colorado Territory , 49) da Warner, é outra demonstração de como Raoul Walsh era um grande diretor pouco reconhecido. A inexpressividade de Joel McCrea, um dos mais famosos heróis de westerns Classe A (na verdade é justamente sua cara de nada, portanto confiável, que é a chave de seu sucesso!). Desta vez faz um bandido que sai da cadeia e quase se regenera quando encontra uma loira fatal (embora não convença como mestiça de índio, a loira Virginia Mayo, está no esplendor da beleza e sensualidade!). Dizem que é refilmagem de outro clássico dele, Seu Último Refúgio (High Sierra com Bogart), mas a semelhança é muito vaga e esnobe. Quase todo feito em locações, a Estrada de Ferro de Durango, no Colorado, mas também rodando cenas em Sedona , Arizona, Gallup, Novo México e também no rancho do estúdio em Calabasas, California. Aproveito aqui para fazer o mea culpa e concordar com Inácio Araujo, que sempre achou Walsh um mestre.
O outro filme não é propriamente um faroeste, mas um drama de época da MGM, O Testamento de Deus (Stars in my Crown, 50), de outro excelente diretor pouco reconhecido Jacques Tourneur (Sangue de Pantera), que faz um ode religiosa na figura de um pastor (McCrea, agora de bonzinho) que se torna modelo de vida numa cidadezinha do Oeste logo depois da Guerra Civil. Dean Stockwell faz o filho pequeno, a bela e esquecida Ellen Drew a mulher e a sequencia mais forte é quando ele interfere num linchamento da KKK de um negro porque desejam ficar com uma mina que tinha em suas terras. Os religiosos crentes e protestantes vão adorar o filme que na verdade consegue ser convincente e até inspirador. Era a cara da Metro!
Que a Versátil prossiga em seu belo trabalho e que o público saiba curtir o tesouro que resiste ao fim das locadoras.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.