Oscar 2016: A Polmica do Ano

Direto de Atalanta, Rubens Ewald Filho comenta a polmica das indicaes

03/02/2016 12:29 Por Rubens Ewald Filho
Oscar 2016: A Polêmica do Ano

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Sempre que me perguntam sobre o Oscar, faço questão de dizer que ele é honesto, você não pode comprar um prêmio e explico porque. Ele não tem a estrutura de uma órgão político, os votantes moram em diversas partes do mundo e nunca se encontram, votam por correio ou coisa que o valha. Mal se falam ou se conversam. Não conseguem trocar favores como sucede com frequência em júris de festivais de cinema e muito mais ainda em lugares onde se reúnem políticos, que no fundo vivem justamente desse toma lá dá cá. Por outro lado, a Academia é extremamente injusta, tem uma enorme tradição de dar Oscars no ano errado para a pessoa certa, mas que com frequência é consolação por omissões passadas. E deixar passar em branco nomes importantes do cinema, que vão de Greta Garbo e Hitchcock a casos mais recentes, como Spike Lee ou Gena Rowlands. Para isso que existem os Oscars especiais que agora infelizmente são realizados em um cerimônia à parte no fim do ano. É um cala boca muito discutível, mas melhor do que nada.

Não acho que a academia mereça ser crucificada como está sucedendo porque este ano não selecionou nenhum negro, em nenhuma categoria. Na verdade, com muita lógica, porque o problema não é esse. A verdade é que a indústria do cinema americano é branca e masculina (por que até hoje somente uma mulher ganhou o Oscar de diretora? E assim mesmo injusto!). As ditas minorias são justamente isso, apenas uma parte pequena e não tão crescente assim quanto deveriam ser... acho que o choque dos finalistas é mais porque a presidente da Academia atualmente é uma mulher e negra, que estava se esforçando abertamente para trazer mais igualdade a premiação e como já no ano passado tinham feito com o filme Selma (que levou apenas Oscar de Canção, embora fosse a denúncia mais poderosa do racismo que Martin Luther King teve que enfrentar em sua vida). Por isso mesmo tomou providências para que a festa deste ano tivesse um apresentador negro - o ótimo Chris - além de um produtor negro, o diretor Reginald Hudlin.

Mas não pensaram no mais importantes, na verdade os possíveis candidatos não eram assim tão fortes quanto se podia pensar. É só ver a lista: Samuel L Jackson está excelente no filme do Tarantino, mas acontece que o filme ficou pronto em cima da hora e em certas premiações não deu nem tempo para concorrer; Idris Elba, outro grande ator, estrelou um filme divulgado pelo Netflix que não é exatamente a cara da Academia; O Creed pelo jeito a Warner não achou que era filme de Oscar e não fez campanha publicitária e Stallone está concorrendo e ganhando agora justamente por uma dessas injustiças a corrigir. Ou seja, o fato é que ha uma série de circunstancias que não tem nada a ver com racismo, ao contrario, a Academia e o próprio cinema americano já deu sinais disso em toda sua História. Eu acho mesmo mais triste constatar que no Brasil os filmes sobre e para negros as vezes já saem direto em Home Video. DVD ou TV por assinatura. E são enormes fracassos de bilheteria desde sempre... isso sim se poderia chamar de uma forma de racismo.

O que a presidenta fez foi mexer nas regras da Academia, procurando arejar mais o sistema, por exemplo fazendo com que os votantes tenham cargos durante dez anos, dali em diante para renovar teriam que provar que estão em ação na indústria do cinema e não aposentados (não seria isso outro preconceito, agora contra velhos?) e aumentar o números de sócios que são convidados pela Academia e não podem se inscrever, principalmente com mais mulheres, negros, latinos e europeus.

Tudo bem, mas levaria anos para mudar e francamente não garante nada. Não quando se ouve atualmente nos EUA onde estou no momento um candidato imbecil a presidência que está sendo muito cotado, ameaçando expulsar todos os mexicanos para sua terra natal. Vejam que curioso ele faz isso, exatamente quando a academia ameaça premiar justamente um fotógrafo mexicano pela terceira vez consecutiva, um fato inédito no Oscar e um diretor mexicano Inãrritu por O Regresso (The Revenant), que ganhou ano passado.

Ou seja, como tudo na vida o buraco é mais embaixo e não será resolvido de forma simplória e simplista, ouvindo atores veteranos que não entendem do assunto, que precisa mudar sem dúvida é verdade. Agora como mudar é que são elas... que engraçado que não é só lá que isso acontece, né? Tanta coisa por aqui que precisa também mudar...

O apresentador, Chris Rock, claro que vai garantir tiradas muito irônicas! Será que não vão reclamar de deixarem de lado o lesbianismo porque não puseram na lista Carol? E por que não mudam logo essa besteira de variar o número de filmes a cada ano, deixa dez e pronto, porque desse jeito dá a impressão de que tem anos bons e anos ruins. Esqueci de mencionar  o mais importante,  que outro grande problema e a própria votação da Academia, que não é o sistema tradicional, mas um que eles trouxeram da Austrália, que é uma confusão danada e o sócio ao votar em dez na verdade apenas os dois primeiros em que votou tem algum peso. Eles tentam explicar e cada vez fica mais confuso e caótico. Isso que  deveria mudar dentre tantas outras coisas.

Rubens Ewald Filho direto de Atlanta, EUA.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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