RESENHA CRTICA OSCAR 2016: Trumbo: Lista Negra (Trumbo)

Quem nunca ouviu falar desta trgica pgina da Histria de Hollywood vai aprender muito assistindo o filme, que correto e esmera-se em cobrir todas as lacunas

15/01/2016 22:56 Por Rubens Ewald Filho
RESENHA CRÍTICA OSCAR 2016: Trumbo: Lista Negra (Trumbo)

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Trumbo: Lista Negra (Trumbo)

EUA, 15. Direção de Jay Roach. Roteiro de John McNamara baseado em livro de Bruce Cook. Com Bryan Cranston, Diane Lane, Helen Mirren, John Goodman, Michael Sthulbarg, John Getz, Alan Tudyk, Louis C.K. , Roger Bart, Elle Fanning.

Há dois tipos de espectadores que vão se interessar por esta aguardada biografia do mais famoso roteirista de Hollywood Dalton Trumbo (1905-76), os fãs de cinema e os historiadores que terão uma súmula extremamente completa do que foi o período de Caça as Bruxas do McCarthismo nunca antes revelado em tantos detalhes (houve tentativas de contar esta história, a mais famosa foi com Robert DeNiro, Culpado por Suspeita/Guilty by Suspicion, 91 de Irwin Winkler, mas o personagem como David Merrill era fictício). Além de inúmeros documentários sobre o tema, há alguns pontos importantes:  1)Trumbo foi o primeiro a quebrar a lista negra dos estúdios graças a intervenção de Kirk Douglas que decidiu creditar seu nome em Spartacus e logo depois Otto Preminger fez o mesmo com Exodus; 2) Por isso ele voltou a atividade dirigindo (sua única vez) um longa baseado em obra de sua autoria, que foi Johnny Gotta Gun, exibido aqui como Johnny Vai à Guerra, 91, que até hoje considero uma obra-prima de incrível impacto; 3) Finalmente Trumbo foi o pioneiro em quebrar a lista negra que o impediu a trabalhar creditado vendendo seus roteiros que eram creditados a amigos, que passavam por testas de ferro. Assim conseguia sobreviver. Outros depois também seguiram trabalhando dessa forma. A diferença é que Trumbo era mais famoso e competente (ainda que também arrogante e falastrão). Havia sido indicado por Kitty Foyle, 41, mas o escândalo ocorreu quando a Academia deu o prêmio de melhor roteiro para um certo Robert Rich (pseudônimo), que era apenas o testa de ferro de Trumbo. O filme se chamava Arenas Sangrentas (The Brave One, de Irving Rapper, 56) e aparece em alguns cenas aqui. Ninguém foi buscar o prêmio e só anos depois é que a estatueta foi finalmente parar nas mãos de Trumbo. O longa mostra o anúncio do prêmio feito por Deborah Kerr. Outro caso parecido foi anterior, o de A Princesa e o Plebeu de Wiliam Wyler que lançou Audrey Hepburn como estrela e lhe deu um Oscar. A Academia deu o Oscar para Ian M.Hunter, mas depois fez justiça ainda que tardia, dando a estatueta para a viúva de Trumbo, em 93.

Entre os filmes mais famosos que Trumbo escreveu (há 69 créditos), Trinta Segundos Sobre Tóquio, 44, O Roseiral da Vida, 45. Mas depois fez escondido o clássico Mortalmente Perigosa, 50, Por Amor também se Morre, 51 de John Berry, Seu Último Comando de Preminger, 55, Como Nasce um Bravo, 58, Calvário da Gloria com Shirley MacLaine, 59, O Último Por do Sol com Kirk Douglas, 61 e Sua Ultima Façanha, 62 também com Kirk, Adeus as Ilusões com Elizabeth Taylor, 65, Havaí 66 com Julie Andrews, O Homem de Kiev, 68, Papillon, 73, Além da Eternidade de Spielberg, 89.

O roteiro atual faz um esforço para situar bem a história, mostrando que nos anos 30 entrar para o Partido comunista parecia uma oportunidade de lutar contra o Fascismo e Nazismo que estavam dominando o mundo. E também fugir da Depressão Econômica que ainda minava a America. Outra coisa: a Rússia soviética foi aliada dos EUA na Segunda Guerra Mundial e o próprio governo pediu que Hollywood fizesse filmes louvando a coragem de seu povo. Anos depois quando começa a Guerra Fria, de repente tudo mudava e automaticamente quem escreveu os roteiros favoráveis a URSS era culpado por isso!

Outra coisa que não chega a ser tão explorada é o fato de que todo esse circo montada no Congresso americano foi provocado por um senador McCarthy que era um vigarista e escroque (o futuro demonstraria isso e finalmente cairia em desgraça mas isso não impediu o mal que provocou). O fato é que ao menos em teoria na democracia americana cada um teria direito de votar livremente e apoiar qualquer partido! Todo o carnaval da Lista Negra foi criado porque os atores e diretores, ou seja, as celebridades, eram ótimas porque apareciam em jornais (no filme ao mostrar Kirk Douglas dando o prêmio para Princesa e o Plebeu aparece um cara narigudo que nada em a ver com o verdadeiro! A figura de Edward G. Robinson outro astro que para sobreviver teve que dedar amigos é a princípio bem negativa, assim como Robert Taylor, Gary Cooper e Ronald Reagan, que dão testemunhos patrioteiros. E o futuro presidente Nixon que era assessor do senador.

Mas adiante no filme dão a palavra a Robinson, que apresenta uma nova dimensão a tragédia, onde na verdade todos acabam sendo vitimas. A questão é que quando chamado a depor no Congresso a pessoa ou denunciava seus colegas e amigos, ou se preferissem calar-se, eram condenados por desacatar o Congresso e mandados para a cadeia (como sucedeu com Trumbo e outros). O que delataram pagariam por anos acusados de traidores (como sucedeu com Edward Dmytryk e principalmente Elia Kazan). Como disse, foi o momento mais triste e injusto de toda a história de Hollywood, um lugar que não é conhecido por seu heroísmo e lealdade.

A maior qualidade do filme é provavelmente a excelente interpretação de Bryan Cranston, aquele fenômeno que viveu de fazer comediazinhas (como em Malcolm) até o dia em que lhe ofertaram Breaking Bad, que mudou inteiramente sua vida e a percepção de seu talento. O roteiro se preocupa em humanizar o personagem dando sequências onde ele é questionado pela esposa (Diane Lane, sem chances) ou os filhos. Fora disso colocaram como antagonista do herói a colunista de fofocas Hedda Hopper (1885-1966) que a sempre luminosa e divertida Helen Mirren (indicada também para o Globo e o SAG). Mas eu senti falta de ao menos mostrarem um trecho de Johnny Vai à Guerra (por que um distribuidor atual não o importa? Não é blockbuster, mas novas gerações irão admirá-lo).

Quem nunca ouviu falar desta trágica página da História de Hollywood vai aprender muito assistindo o filme, que é correto e esmera-se em cobrir todas as lacunas.

PS.: Um detalhe foi feito em 2007 um documentário sobre Trumbo, por Peter Askin de boa qualidade, baseado em peça de teatro escrito pelo filho do biografado que também fez o roteiro Christopher Trumbo. O elenco é de primeira: Joan Allen, Brian Dennehy, Nathan Lane, Josh Lucas, Michael Douglas, Paul Giamatti, Liam Neeson, Donald Sutherland. Outros em depoimentos como Kirk Douglas, outros em cenas de arquivo. Sua estrutura é um pouco confusa e menos clara do que o longa de ficção, mas o forte é ver esses atores famosos dizerem os textos de Trumbo de uma forma sincera e forte, as vezes excepcional. Até mesmo com atores que a gente tem a tendência de subestimar ou desprezar (como é o caso de David Straithain e Donald Sutherland). Por causa dessa intervenção por vezes o documentário às vezes é mais eficiente que a biografia encenada. 

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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