RESENHA CRTICA OSCAR 2016: A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl)

Eu confesso que achei tudo muito bonito, muito bem fotografado, com delicada direo de arte e j estou temendo pela atual revelao Alicia Vikander, que comea a se repetir

15/01/2016 23:23 Por Rubens Ewald Filho
RESENHA CRÍTICA OSCAR 2016: A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl)

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A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl)

Inglaterra, EUA, 15. 119 min. Direção de Tom Hooper. Com Alicia Vikander, Eddie Redmayne, Amber Heard, Ben Whishaw , Paul Bigley e Matthias Schoenaerts. Roteiro de Linda Cozon inspirado em Livro de David Eberhoff.

Foi um golpe de sorte dos produtores que este filme tenha sido concebido justamente no momento onde seu tema passou a ser discutido na televisão americana, com a série de TV Transparent e principalmente o caso do campeão Olímpico Bruce Jenner que resolveu mudar de sexo, ser um transgender e mudou mesmo de nome se tornando ainda mais celebridade como Caitlyn. O que obviamente chocou e divertiu o público, tirando do armário a questão complexa do que viria a ser alguém transgênero. Enfim, este filme teve críticas divididas, mas provocou boa reação do Globo de Ouro tendo 3 indicações (ator, atriz Alicia e trilha musical de Alexandre Desplat), além do fato de que o ator protagonista tenha ganhado um Oscar de melhor ator no ano passado por Teoria de Tudo, o ruivo Eddie Redmayne (que já tinha feito antes com o diretor Tom Hooper, vencedor também do Oscar por O Discurso do Rei, o infeliz Os Miseráveis, Sete Dias com Marilyn, a série TV Elizabeth I (05). Cismei com esse moço desde que ele esteve péssimo no ficção O Destino de Júpiter (que foi co dirigido justamente por outra transgender). O casal foi também indicado ao SAG. Embora não vá muito bem de bilheteria, o filme deve custar a estrear no Brasil, somente em 25 de fevereiro, sinal de que os distribuidores estão acreditando que serão muito lembrado pelo Oscar.

Eu confesso que achei tudo muito bonito, muito bem fotografado (quase tudo na Dinamarca), com delicada direção de arte e já estou temendo pela atual revelação Alicia Vikander que começa a se repetir. O que achei esquisito é o fato de o filme passa como se fosse verdadeiro, inclusive com um letreiro final presunçoso. Quando na verdade tudo parte para uma ficção romanceada procurando esconder o que houve de mais triste e pesado. Assim o resumo do filme seria o seguinte: Em Copenhagen, em 1926 a jovem pintora local Gerda Wegener usa o marido Einar Wegener (Eddie Redmayne) como modelo de figuras femininas. Isso faz despertar nele antigos fantasmas e começa a se vestir de mulher, chegando mesmo a sair vestido e agindo como uma garota. Chamando a si próprio de Lili Elbe. Tenta mesmo ter um caso com um rapaz e tenta ser cobaia de uma das primeiras operações cirúrgicas de mudança de sexo. Também na triangulação romântica ha um comerciante de arte, Hans Axgil, amigo de infância de Einar, que se envolve com Gerda.

A verdade é que o livro já mudava muita coisa. Não confunda esta Gerdfa Gerda Wegener (Gerda Gottlieb Wegener com a maquiadora alemã chamada Gerda Wegener). Esta é dinamarquesa e o livro lhe deu novo nome, Greta Waud e a tornou Americana. Mas tanto o filme quanto o livro omitem é que Gerda era lésbica ou ao menos bissexual e tinha uma relação com Einar/Lili (o casal era mais como irmãs do que esposos, mas no filme ela aparece como uma esposa sofredora, fiel, que nunca deixou o marido). Também não se mencionam os quadros famosos de Gerda Wegener que eram chamados de Lesbian Erotica. Gerda e Lili não ficaram próximas depois que o casamento delas foi anulado. Os personagens de Hans e Henrik na verdade nunca existiram e foram inventados pelo autor do livro. O namorado de Lili na época de sua morte foi um negociante de arte chamado Claude Lejeune. Gerda não estava perto porque se mudou para a Itália, com um oficial Fernando Porta. Ficou sabendo da morte de Lili uma década depois e disse apenas “minha pobre pequena Lili”. Divorciou-se em 1936 não teve filhos, nem nunca se casou depois. Se tornou alcoólatra e morreu sem um tostão na Dinamarca em 1940.

Quem ia fazer o papel central de Einar era Nicole Kidman e também seria produtora. Procurou uma atriz para ser Gerda, Charlize Theron, que desistiu em 2008. O papel foi oferecido para Gwyneth Paltrow, que também o largou. Falaram em Uma Thurman, mas em 2010, Marion Cotillard foi cogitada porque era amiga de Nicole desde Nine. Em 2011 o papel foi para Rachel Weisz. Alicia Vikander finalmente assumiu o personagem em 2014, quando Tom Hooper assumiu o projeto. Lili Elbe também escreveu uma autobiografia chamada "Man into Woman". Assinado por Niels Hoyermas, quem escreveu foi Ernst Ludwig Hathorn Jacobson, que reuniu as cartas e diários para o livro. Que nada ou quase nada tem a ver com o filme.

A questão para mim é se não se conta a historia direito, porque se dar ao trabalho de gastar tempo e energia e dinheiro nele?

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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