Navegando na NetFlix: Gracie and Frankie
Rubens Ewald Filho estreia coment�rios baseados na Netflix


Não teve jeito, tive que me render a moda, digo avalanche da Netflix, não dava para resistir a quantidade de filmes e séries disponíveis a um preço acessível (ao menos até o governo lançar suas garras neles, diante da sede implacável de pagar as contas dos que tanto roubaram!). E a necessidade de ficar informado!
A primeira série que escolhi foi esta Gracie and Frankie (comédia em 13 capítulos) recente e candidata ao Emmy. Foi indicada apenas a co-estrela e co-produtora Lily Tomlin, mas é um grande injustiça com Jane Fonda, que está igualmente bem. As duas foram cúmplices no projeto e compartilham extremamente bem o resultado. Jane tem algo de antipático, de frio, que ela não tem a menor vergonha de usar. Ambas envelheceram bem, Lily com plásticas visíveis mas nunca foi um tipo de beleza é basicamente uma comediante que ocasionalmente fazia papeis dramáticos. Já Jane mexeu pouco e com muita dignidade assume seus setenta anos, no que é o personagem mais autobiográfico que já fez desde Num Lago Dourado. Gostei especialmente quando ela a espera de um parceiro para sexo, se olha no espelho e vê o braço caído e flácido, mexendo nele com tristeza e coragem! Não perdeu sua figura carismática que há décadas a havia consagrado como a grande estrela contestadora do cinema norte-americano.
Gracie (Jane) e Frankie (Lily) são casadas há mais de 40 anos e os maridos são advogados e sócios, Jane com Martin Sheen e Lily com Sam Waterston. O primeiro casal tem dupla de filhas já adultas, uma delas esperando o primeiro neto, o segundo um casal adotivo de rapazes, um deles negro, o outro tentando se recuperar das drogas. Eles conviveram por mais de 40 anos até que tem a surpresa realmente inesperada de que ambos pedem divórcio porque resolveram assumir o seu romance homossexual, saem do armário e apesar de tentarem ser civilizados com a situação (não é difícil nem muito mostrada a divisão de bens) fica uma mágoa muito grande que se estende pelos 13 capítulos desta primeira temporada (outro bloco já está em produção). Na verdade podiam ser menos, oito seria o numero ideal, ou nove. Porque alguns se esticam, um com flash backs desnecessários, outros insistindo no casal gay e suas idiossincrasias mais por causa da idade do que a opção sexual. E não era necessário tantos beijos na boca, quando a dupla parece mesmo constrangida (é quase uma réplica ao de Fernanda e Natália, na novela da Globo!). Depois do nono capitulo, a trama perde o fôlego e vai ficando menos eficiente.
Embora seja comédia e tenha momentos engraçados, a série não é um sitcom tradicional, não tem nem mesmo a trilha de risadas de fundo. Mas os capítulos são curtos e fáceis de ver em uma ou duas sentadas, o que é um dos grandes atrativos da Netflix. E situa-se em grande parte no que seria uma casa de praia de San Diego. Não é excepcional como poderia, mas assisti com prazer e facilidade.


Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho � jornalista formado pela Universidade Cat�lica de Santos (UniSantos), al�m de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados cr�ticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores ve�culos comunica��o do pa�s, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de S�o Paulo, al�m de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a d�cada de 1980). Seus guias impressos anuais s�o tidos como a melhor refer�ncia em l�ngua portuguesa sobre a s�tima arte. Rubens j� assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e � sempre requisitado para falar dos indicados na �poca da premia��o do Oscar. Ele conta ser um dos maiores f�s da atriz Debbie Reynolds, tendo uma cole��o particular dos filmes em que ela participou. Fez participa��es em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para miniss�ries, incluindo as duas adapta��es de “�ramos Seis” de Maria Jos� Dupr�. Ainda crian�a, come�ou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, al�m do t�tulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informa��es. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicion�rio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o �nico de seu g�nero no Brasil.

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