Navegando na Netflix: Narcos

Rubens Ewald Filho comenta série da Netflix

22/09/2015 14:29 Por Rubens Ewald Filho
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Navegando na Netflix: Narcos

Foi sem dúvida uma grande sacada da Netflix produzir (via a Gaumont francesa) esta primeira série de interesse latino estrelada por um ator brasileiro que visivelmente estava em vias de se tornar um astro internacional como é o caso de Wagner Moura, sem dúvida nosso melhor ator do momento, novamente conduzido pelo diretor que o consagrou José Padilha (que assina apenas dois episódios, assim como Fernando Coimbra, sócio de Padilha (dois outros). Fica difícil dizer qual foi bem a participação de Padilha, que não tem crédito de roteirista e apenas como um dos produtores. Entre os brasileiros também constam o diretor de fotografia Lula Carvalho e apesar do nome Aidran Teijido (Gonzaga, O Palhaço). Assim a primeira vista parece que o principal responsável pelo conceito geral do projeto é Chris Brancato (roteirista e produtor que estranhamente não tem grandes títulos em sua carreira embora tenha escrito por Hannibal, Lei e Ordem, os longas Experiência II, Homens Perigosos).

A primeira impressão que me assustou foi descobrir quantos fatos incríveis e chocantes sucederam na Colômbia, que mal ficamos sabendo por aqui. Da para constatar portando como a nossa imprensa é incompetente em relatar o que sucede em países tão próximos e tão esquecidos. Como aliás se pode comprovar vendo o silêncio que a nossa imprensa hoje deixa de revelar o caos em que vive atualmente a Venezuela! São fatos tão incríveis que realmente é uma boa ideia ilustrar tudo com cenas reais de ver para crer.

Muita gente zombou também do fato de que Padilha gostasse de narrativa em voz off e que isso se repetiria aqui. Antes de tudo reclamar desta forma narrativa é uma estupidez e burrice brasileira. Total preconceito . O que fizeram aqui foi retornar ao estilo de semidocumentário que o próprio cinema americano executou em meados dos anos 1940, com a influencia do Neorrealismo italiano e dos cine jornais. E que produziram filmes memoráveis como Brutalidade de Jules Dassin, A Casa da Rua 92 e Rua Madeleine 12, ambos de Henry Hathaway e Pânico nas Ruas, de Elia Kazan. Ou seja, o narrador no caso o agente americano chamado Steve Murphy (Boyd Holbrook) que praticamente dialoga com o espectador, criando e desfazendo expectativas.

 Outra grita geral foram as criticas ao sotaque de Wagner Moura, que a principio credito a tradição brasileira de desfazer e procurar destruir qualquer um que faça sucesso no exterior, ai esta Carmen Miranda que não deixa ninguém mentir. Não me considero capacitado para avaliar o sotaque, ainda se fosse o argentino tenho mais contato. Mas não o colombiano. Senti, porém, um esforço em falar o castelhano usando inclusive (e isso fica visível) a língua entre dentes que é característica do espanhol. Talvez eu preferisse que o personagem fosse mais ativo e agressivo e desse margem a momentos mais violentos a la Pacino em Scarface. Mas suponho que Pablo Escobar não era assim, as imagens reais dele ate pintam uma figura bonachona. Mas acho Wagner um grande ator e me convence inteiramente (Benicio del Toro, um ator irregular interpretou ele mais soturno num filme disponível em DVD, mas não na Netflix, Escobar: Paraíso Perdido, 14).

Já não posso dizer o mesmo do resto do elenco que me parece irregular, ainda que tenham controlado os latinos a serem menos melodramáticos e novelescos (há poucos outros brasileiros no elenco, só reconheci outro amigo de Padilha, André Mattos, que faz o Ochoa, enquanto a fisionomia mais reconhecível é do porto-riquenho Luiz Guzman, inesquecível vilão de 133 créditos (como José Gacha). Dos latinos só me surpreendeu favoravelmente o rapaz que faz Eduardo Sandoval, que é o colombiano Manolo Cardona, de Contra a Corrente e Coração de Leão. Acho fraco os americanos, ainda que milagrosamente a série mantenha o interesse e nos prende a assistir os capítulos no momento disponíveis (10 no momento, mas já se fala na produção de outro tanto para o ano que vem, ate porque a história se interrompe!). Há, sem duvida, alguns momentos muito fortes (a situação com a apresentadora de TV, o atentado contra o avião, a delirante ideia de construir uma prisão particular).

De qualquer forma, o consenso geral que observei entre os espectadores comuns é que a série é um sucesso que envolve e agrada e surpreende. Eu mesmo admito que foi principalmente por causa dela que assinei o Netflix. E o assisti em apenas duas sentadas. E que os brasileiros tiveram participação tão notável num projeto tão ousado, só pode nos deixar orgulhosos.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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