Sono de Inverno (Winter Sleep)

Quem suportar o sacrifício de assistir ao filme verá uma única sequência forte e diferente

14/05/2015 12:42 Por Rubens Ewald Filho
Sono de Inverno (Winter Sleep)

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Sono de Inverno (Winter Sleep)

Turquia, 14. 196 min. Direção de Nuri Bilge Ceylan. Com Haluk Bilginer, Melisa Sozen, Demet Akbag, Ayberk Pekcan.

Lançado discretamente numa única sala, este vencedor da Palma de Ouro em Cannes é também recordista, com a exorbitante metragem de três horas e 16 minutos é o mais longo vencedor de Cannes em todos os tempos (para se ter uma ideia, Ben-Hur tem 212 e é um épico, aqui é um filme onde as pessoas ficam conversando em salas fechadas com ocasionais passeios pela neve). Conheço a obra completa apresentada em Cannes do diretor turco Ceylan e não me espantam os dados. Mas acho este seu pior filme. Ele teria rodado mais de 200 horas de material e a primeira montagem teria sido de 4 horas e 30 minutos! Ele teria se inspirado em obras (não identificadas de Tchecov, Tolstoi, Dostoeiwski, Voltaire) com algumas frases deles perdidas na conversa interminável, porque o protagonista seria um ator de teatro e na verdade é interpretado justamente por um veterano do palco, que por sinal tem uma figura forte e poderosa, Haluk Bilginer, que recusou o papel três vezes e está no recente 118 Dias (Rose Water com Gael Bernal), Relutante Fundamentalista de Mira Nair, W.E. o Romance do Século de Madonna, como Al Fayed, Trama Internacional com Clive Owen. E ainda o novo Ben-Hur que esta sendo feito com Jack Huston e Rodrigo Santoro como Cristo!

Às vezes eu acho que acontece um caso de delírio coletivo quando todos passam a reagir do mesmo jeito, seja lá porque...Medo de ficar de fora de um sentimento que parece coletivo, por exemplo. Mas o fato é que tudo que li elogiando este filme é um engodo. Começando pelas paisagens que realmente seriam interessantes se fossem mais bem mostradas, já que se passa na chamada Capadócia, no centro da Anatólia, Turquia, aquele lugar onde as pessoas vivem em casas escavadas dentro de pedras! Só que elas parecem pouco e mal (as conversas são obviamente em estúdio) e mesmo as cenas de neve são poucas e nada especial (nem as dos cavalos).

Os diálogos são intermináveis e pouco interessantes. O ex-ator já cinquentão Aydn vive na região onde é dono de pequenos hotéis que aluga para turistas e vive com sua mulher bem mais jovem, Nihal, com quem discute com frequência e com sua irmã Necla, em crise porque se divorciou faz pouco tempo. Caça ocasionalmente e vive também da renda de casas alugadas para operários, que com frequência não tem dinheiro. Tem uma espécie de capataz que tenta manter a ordem mas a verdade que em meio as longas discussões pouca coisa de notável sucede (o titulo original quer dizer hibernação em Turco).

Quem suportar o sacrifício verá uma única sequência forte e diferente, quando Nihal resolve se meter nos negócios do marido e aprende dura lição. Mas é pouco e a premiação foi exagerada. Mesmo para público de arte, a dose é pesada.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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