A Babilonia do Seculo XX: A Paris de Fitzgerald
Sim, claro: o americano Francis Scott Fitzgerald foi bastante conhecido nos meios literarios de seu tempo


Sim, claro: o americano Francis Scott Fitzgerald foi bastante conhecido nos meios literários de seu tempo. Mas sua glória póstuma é anos-luz mais transbordante: ninguém mais torce o nariz para a faceirice de seu texto, faceirice que hoje aparece como vulcões verbais à Baudelaire.
Babilônia revisitada (Babylon revisited; 1931) é um de seus contos mais aludidos. Está ambientado em Paris, depois da quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque de 1929. Um americano chega a Paris em busca de sua pequena filha, que está sendo criada pela cunhada dele, desde a morte trágica de sua esposa, mãe da menina; nos diálogos e nas lembranças do protagonista, ressurgem os anos douradamente loucos em que Charlie, o homem que chega a Paris, e sua amada Helen viveram tempos de transbordamento e libertinagem. Fitzgerald acompanha com delicadeza e aguda poesia narrativa os rumos de culpa e lubricidade de suas personagens, as que estão vivas e quem já morreu, sucumbindo aos tempos. As evocações não são flashbacks, mas se dão nos âmbitos dos discursos diretos e indiretos trazidos pelas criaturas em cena.
A frase inicial do parágrafo final, depois que Marion, a cunhada, impede Charlie de resgatar a filha, é amarga mas traz a gota de esperança: “He would come back some day; they couldn’t make him pay forever.” (“Ele voltaria algum dia; não poderiam fazê-lo pagar para sempre.”). Uma reflexão sobre os limites da culpa e do castigo.
O cineasta americano Richard Brooks filmou o conto de Fitzgerald com o título de A última vez que vi Paris (1954). Brooks trocou o final interrogativo do original literário por saídas conciliatórias no fecho de seu filme: a dura Marion é dobrada e deixa que Charlie leve a filha.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)


Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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