Em 1984 John Malkovich era um ator iniciante no cinema quando perdemos o icônico cineasta francês François Truffaut. Irônico, que o ator esteja em cena com Fanny Ardant, viúva de Truffaut nesta comédia dramática de excelente gosto capaz de fazer rir e de emocionar com a história de Andrew Blake (Malkovich), um milionário viúvo que perdeu o sabor da vida depois da morte de sua esposa. Como forma de se conectar com o amor perdido, ele aceita trabalhar de mordomo na casa onde conheceu sua esposa, onde em breve a proprietária Natallie Beauvillier (Ardant) – viúva há quatro anos – pretende alugar os quartos. Blake ganha um novo propósito em meio à sua viagem, interferindo na vida das pessoas com quem agora passa a conviver. Além de Madame Bauvillier, Blake se vê diante de pessoas igualmente perdidas como a cozinheira mandona Odille (Emilie Dequenne); ou Manon, a jovem empregada que está grávida (Eugénie Anselin). O filme fala de luto, mas fala sobretudo de resignificar nossos propósitos. O roteiro consegue criar situações que falam com nossas outras histórias graças ao elenco afinado tendo Malkovich à frente do elenco. Se o filme peca por demorar um pouco a desenrolar sua história, também por outro lado cria laços entre os personagens com quem passamos a nos importar. John Malkovich, que é americano, faz um britânico auto exilado na França com bastante naturalidade. O ator de 71 anos filmou o filme em francês, o que foi um desafio embora seja fluente em francês, devido ao grande número de diálogos em francês, que teve de desenvolver, e para isso teve como instrutora, a própria filha do diretor Gilles Legardinier. Este estreia na função, também assumindo como co-roteirista do filme que adapta seu romance, um dos mais vendidos na Europa. Distribuído pela Mares Filmes, o filme é leve mesmo tratando das dores da perda, e nos mostra o quanto tocamos a vida de cada um, e como isso pode fazer a diferença.