O cronista Gilberto Schwartsmann faz uma navegação por seus anos de escritor habitual de jornal, de 2013 a 2020, o ano X do século XXI, em Acta diurna (2020). Digamos que em muitos dos textos de Gilberto o mundo cultural espia o cérebro do autor: espia a sensibilidade deste cérebro para com as coisas do mundo. Introduz-se com um poema de amor em que contracenam Goya e Vermeer para que o escritor presenteie a mulher amada. Depois, uma conversa com Carlos Jorge Appel, um dos agitadores culturais da cidade, um vaivém em que se busca concretizar o lançamento do volume de crônicas.

Gilberto vai por todos os cantos da cultura em suas expressões mais belas, que estão na arte. Há a literatura, sim. E ressurge muitas vezes o cinema, tão vilipendiado pelos cultos mais esnobes. Potemkin, evoca Gilberto, “um dos filmes mais impressionantes a que assisti na minha vida”, com “duas cenas que marcaram a história do cinema”. E, entre os “ratos da pandemia”, o autor de crônicas revisita Amarcord, onde “tudo é humano, lírico e bem-humorado”. Entre a montagem de atrações do russo Eisenstein e a poética delirante do italiano Fellini, as crônicas vão navegando. Mas a crônica é feita de palavras, a crônica é um ato amoroso para com a palavra. Gilberto poetiza: “são próprias à boa leitura as manhãs ensolaradas de outono, em que não percebemos nem a força do vento sobre as folhas das árvores.”

Há coisas feias que surgem nestes tempos de política áspera e virulenta e de vírus na cola de todos nós: mas o espírito de gentileza de Gilberto Swartsmann produz uma certa libertação, porque “a arte liberta”.

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)