A Arte Narrativa de Charlotte Bronte
Charlotte Bronte soube ver com sensibilidade profunda as relacoes humanas na sociedade de seu tempo
Charlotte Brontë soube ver com sensibilidade profunda as relações humanas na sociedade de seu tempo. E soube narrá-las com a clareza e o engenho dos melhores narradores literários do século XIX. Shirley (1848) é um de seus trabalhos menos conhecidos. Mas é um agudo retrato da influência das relações econômicas no universo sentimental novecentista. Mais voltada para esta exterioridade duma crônica social de época que os seus outros livros conhecidos por aqui, Shirley harmoniza a reflexão quase antropológica de Brontë com a tendência íntima de sua literatura; as personagens nunca são títeres, movem-se numa dinâmica única, uma dinâmica narrativa de que a escritora detém a chave.
Há um grupo de criaturas vivendo no início do século XIX (antes, portanto, do nascimento da autora; a ação romanesca se passa em 1811, após um conflito bélico europeu) em Yorkshire, os dias são difíceis porque a guerra determinou o empobrecimento das nações. Ali observamos o desenrolar das atividades do Moinho de Hollow, cujo proprietário, Robert Moore, é inquilino de Shirley Keeldar, dona das terras; Shirley tardará a aparecer no romance. A personagem feminina que ocupa boa parte do texto é uma pobre órfã, Caroline Helstone. Esta menina vai divagar nos amores do aquinhoado Moore, dono do Moinho. Nos últimos movimentos da narrativa o casamento duplo de Shirley com Gérard Moore e de Robert com a órfã encaminha os augúrios novecentistas de Brontë para um certo romantismo romantizado (pleonasmo esquisito mas talvez necessário para indicar uma categoria dentro duma escola literária), certo, mas não lhe tira a força de seu retrato sócio-humano de um certo tempo na Inglaterra.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br