Os Gritos do Amor Irrealizado em Charnecas Inglesas

Morte e amor sao a mitologia que envolve o ser nas figuras que se movem na estranheza do livro de Emily Bronte

09/08/2020 03:43 Por Eron Duarte Fagundes
Os Gritos do Amor Irrealizado em Charnecas Inglesas

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Emily Brontë é a mais conhecida das irmãs britânicas que, no coração do século XIX, construíram uma obra literária que tinha entre suas peças semelhanças e diferenças mas apresentava grande unidade de temas e estilos e uma sensibilidade aguda que o tempo acabou por apresentar como revolucionária em termos estilísticos. Emily é o nome mais conhecido daquelas manas geniais e cometeu um único romance: O morro dos ventos uivantes (Wuthering Heights; 1847). É um marco de toda a literatura; a narrativa tem uma vasta gama de personagens que se entrecruzam sinuosamente em seus sentimentos e ações e dois moradores, o primeiro narrador é Lockwood, um inquilino da personagem central, que no começo da história conta que viera duma visita ao proprietário, o sr. Heatchcliff, e passa a narrá-la, esta visita, mas logo adiante vai passar a voz que conta a ação à personagem de Nelly, uma criada de Heatchcliff em “Thrushcross Grange”, que vira muitas coisas e que entra a relatar estas coisas vistas, começando assim, “antes de eu vir morar aqui”.

Emily, com o senso de romancista agudíssimo, estrutura as simetrias temporais e psicológicas de seu notável enredo. Mas o que sobressai mesmo é sua transcendência espiritual como a mulher que conta histórias valendo-se das palavras. Há som e música como raro se vê num romance: a beleza dos cenários também ruge ao compasso das tempestades nas charnecas. Sobre o livro escreveu o crítico e romancista inglês E.M. Forster: “Wutthering Heights é repleto de som —tempestade e ventos impetuosos— um som mais importante do que palavras e pensamentos”. Divagando por várias anfractuosidades, pode-se dizer que O morro dos ventos uivantes é uma história de amor irrealizado: a amargura do agora rico Heatchcliff, por toda a vida, é a frustração de não ter casado com Catherine Earnshaw, que outrora se casou com outro porque Heatchcliff era pobre, e depois ela iria a morrer de parto ao dar à luz à sua filha, também Catherine, chamada Cathy. O peso da irrealização amorosa carrega-se no peso da narrativa tensa e tempestuosa. Mas não é disto que se trata. O amor de Heatchcliff e de Catherine é uma música do além, uma outra instância da realidade literária que se propõe profundamente espiritual. Simples e primitivo como os romances ingleses da época, O morro dos ventos uivantes monta sua complexidade não somente na entrecruzada trama mas ainda e fundamentalmente em seu processo de topar, na alma de sua realizadora, uma visão do espírito literário único. Morte e amor são a mitologia que envolve o ser nas figuras que se movem na estranheza do livro de Emily Brontë.

 

(Eron Duarte Fagundes —eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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