NA NETFLIX: Enola Holmes
Fabuloso quando um personagem literario ganha vida propria, atravessando geracoes


Fabuloso quando um personagem literário ganha vida própria, atravessando gerações como o detetive da Rua Baker, criado há mais de 130 anos, por Sir Arthur Conan Doyle. Holmes já passou por incontáveis reinterpretações e adaptações, nos levando agora a descobrir sua irmã adolescente apresentada em “Enola Holmes”, aguardado lançamento da Netflix que chegou à plataforma já carregando uma grande expectativa e reunindo elenco e equipe talentosos.
Millie Bobby Brown deixa o olhar dramático de Eleven em “Stranger Things” e mostra versatilidade para fazer de Enola uma personagem divertida para desvendar mistérios e inteligência fazendo jus ao sobrenome do icônico detetive. Enola, anagrama para “alone” (sozinha em inglês), está no centro da ação e nunca à sombra de seus irmãos detetives Shelock e Mycroft. Inicialmente à procura de sua mãe desaparecida, Enola acaba se envolvendo na fuga do Visconte de Tewksbury, jovem nobre fugitivo, tal qual a própria Enola, em um mundo prestes a sofrer mudanças, como a própria heroína prenuncia ao dizer “Talvez o mundo precise mudar”. A jovem parece ter o mesmo talento que Sherlock pois se disfarça, briga, observa pistas e demonstra admirável capacidade dedutiva. Grande decisão do diretor Harry Bradbear foi usar o mesmo artifício por ele empregado em “Fleabag”, série da Amazon, Enola quebra a chamada quarta parede desde o início do filme, dialogando com a câmera, sempre fazendo do telespectador um cúmplice de sua aventura com um ar de esperteza digno de Ferris Bueler em “Curtindo a Vida Adoidado”. Assim, saltamos junto de Enola na sequência do trem, corremos de uma explosão em uma viela vitoriana e torcemos para que suas habilidades físicas a ajudem frente a assassinos frios e misteriosos perseguidores.
Recentemente os proprietários dos direitos autorais de Conan Doyle processaram a Netflix e a autora Nancy Springer alegando que, apesar do Holmes já estar em domínio público, vários elementos da história se baseiam em histórias do personagem que ainda estão protegidas pelos direitos autorais. A base do processo é a personalidade de Holmes, vivido pelo Superman Henry Cavill, demonstrando mais sentimentos, distante da imagem arrogante e fria de Benedict Cumberbacth, o Holmes cinematográfico mais próximo do personagem literário. De fato, seu Holmes parece mais à vontade com suas emoções apesar de um auto-controle que não esconde o desejo de proteger Enola, e até mesmo de admirar sua sagacidade e independência. Já o irmão mais velho, Mycroft Holmes ( Sam Cafflin, de “Como Eu Era Antes de Você”) é severo e o oposto do que Enola acredita, nunca deixando de criticar seus modos e jeito de se vestir.
Certamente que o filme da Netflix chega como uma franquia jovial apesar de ser uma releitura do Doyleverso para atrair a atenção das plateias atuais, principalmente os que nunca leram um mistério de Holmes. Mantém o interesse respeitoso, contudo, apontando novas formas de abordar um tema já conhecido, o da aventura de mistérios que faz multidões, entre estes eu próprio, aguardar uma nova temporada com Benedict Cumberbatch na Tv ou uma terceira aventura com Robert Downey Jr no cinema, mostrando que o mito de Holmes sobrevive a múltiplas interpretações, no caso da criação de Nancy Springer uma capaz de reunir pais e filhos para duas horas divertidas assistindo a um mistério nada elementar, pois o jogo ainda continua.


Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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