Sonho e Pensamento no Cinema na Decada de 70

Quem eh Jonas, onde esta o cora??o duma obra multifacetada como Jonas que Tera 25 Anos no Ano 2000?

18/05/2025 03:34 Por Eron Duarte Fagundes
Sonho e Pensamento no Cinema na Decada de 70

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Talvez o momento central de Jonas que terá 25 anos no ano 2000 (Jonas qui aura 25 ans en l’an 2000; 1976), realizado pelo suíço Alaina Tanner com capitais franceses e suíços, seja aquele em que o roteiro reúne a uma mesa de refeições sete das oito personagens principais do filme, para que uma delas, Mathilde, casada com Mathieu, o operário, anuncie sua gravidez: seu filho nascerá em breve e é posta em questão para aquela reunião de amigos a escolha do nome da criança, não se sabe bem se menino ou menina. A câmara começa sobre Mathilde quando faz a introdução antes de dizer a novidade, no momento em que alguém intervém, antecipando que já advinha, Mathilde está grávida, a câmara corta da perplexidade de Mathilde para esta personagem que cortou a palavra da futura mãe; é o único corte da sequência; o mais segue numa cena ininterrupta, pequenos movimentos de câmara que circulam na mesa, passando dum enquadramento duma personagem para o enquadramento de outra, um plano-sequência simples e agudo, longe de quaisquer coisas mais rebuscadas como no italiano Michelangelo Antonioni ou no húngaro Béla Tarr. O sentido de ausência de corte de Tanner obedece a uma ideia: a ideia do coletivo, como se o filho que sairia do ventre de Mathilde fosse o filho-símbolo dos sonhos e dos pensamentos das oito personagens básicas do filme.; plano-sequência, unir as emoções daquelas criaturas como uma emoção única. Jonas, o nome, é sugerido, após as outras sugestões, por Mathieu, o operário, o marido de Mathilde, a quem chama de baleia porque dará à luz a Jonas, o que sai de dentro da baleia. Seria esta mesmo a sequência-chave de Jonas que terá 25 anos no ano 2000, a cena que encerra o aforismo de seu conjunto de ideias? Nesta cena, estão sete dos oito seres, pois Marie está na prisão por desviar produtos para clientes ao atender no caixa do supermercado em que trabalha.

Talvez o momento central do filme de Tanner possa estar em certas ações, que precisamos de juntar, de Marco, o professor de História. Marco é, em sala de aula, um iconoclasta: cria uma outra dinâmica. Em determinado instante ele leva sua namorada Marie para ser interrogada por seus alunos: caixa de supermercado, ela mora na França e trabalha na Suíça, uma fronteira europeia; ela tem medo de usar a carona dos homens, em face do abuso machista, o que leva certo estudante a juntar jocosamente duas histórias, a história econômica (o trabalho de Marie, que é na Suíça, embora a obriguem a morar na França) e a história da sexualidade (determinada pelos machos de sempre). Marco também, em outro momento, dá a palavra de mestre a Mathieu, o operário.

Ou, quem sabe, o centro da narrativa esteja nas cenas em que as crianças, orientadas por Mathieu, desenham sobre um muro as oito personagens de Jonas que terá 25 anos 2000, centralizando em Max, o sombrio anarquista, o mais visionário, o mais sonhador. Estas cenas de desenho, esparsas, vão ter àquela sequência final em que Jonas, já um pouco mais crescido, rabisca sobre as oito pessoas que de certa maneira o projetaram. Pode ser estar ali o nó do pensamento do filme.

Ou, sabe-se lá, ligar a cena que abre (Max vai comprar cigarro numa tenda e reclama do preço, que subiu, a caixa diz que o preço de que ele fala é de ontem) a uma cena do fim (novamente Max repete sua entrada num local para comprar algo, queixa-se da subida do preço, a moça atendente aduz a inflação). Este espaço de tempo entre um Max que entra num armazém e o mesmo Max, um ano já passara, repetindo o gesto e o diálogo, este espaço de tempo entre o Jonas que nasce em 1975 e o homem que deverá aparecer no ano 2000 sabe-se lá em que condições, foi definido por Marco, o professor, ao repartir os pedaços (ou frações) de tempo em pedaços de chouriço em sala de aula; entre um momento e outro, uma só batida. Que tempo é este em que existimos, o espectador duma sala de cinema do fim da década de 70 em Porto Alegre e o espectador que ressurge diante das mesmas imagens na segunda década do terceiro milênio?

Quem é Jonas, onde está o coração duma obra multifacetada como Jonas que terá 25 anos no ano 2000? Em que cena-marco, se tantas marcaram a estrutura ideológica do filme?

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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