O Cinema a Parte de Bob Rafelson

O Dia dos Loucos ainda merece visao nos dias de hoje

28/05/2023 04:34 Por Eron Duarte Fagundes
O Cinema a Parte de Bob Rafelson

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A encenação muitas vezes crítica e áspera do cineasta Bob Rafelson não lhe permitiu uma receptividade de plateia nem os calores da crítica, o que o torna um limbo no universo do cinema americano. O dia dos loucos (The King of Marvin Gardens; 1972) abre sobre um primeiro plano muito fechado no rosto do ator Jack Nicholson, que faz o relato duma lembrança de infância de sua personagem, quando ele e seu irmão teriam vivenciado, sozinhos em casa, a morte do avô; o que atinge agressivamente o olhar do espectador nesta cena é a boca de Nicholson, de onde saem, em forma teatral, as palavras que remontam à meninice; depois a câmara se afasta e descobrimos que Nicholson é ali um radialista e aquele texto em princípio pode parecer isto mesmo, um exercício teatral. O recurso desdramático de Rafelson remete às influências europeias, a nouvelle vague, especialmente o cinema de Jean-Luc Godard, algo exorcizado no primeiro e melhor filme de Rafelson, Head (1968). O dia dos loucos baixa mais a guarda em relação à invenção narrativa e propõe uma crônica de certos extratos da sociedade americana como já se dera em sua obra anterior, Cada um vive como quer (1970).

Aquela cena radiofônica inicial, com uma fala que parece reconstituição meio literária, tem, ao longo do filme, um holofote ambíguo. É encenação, certo, e todavia diz algo dos conflitos familiares de David, a criatura de Nicholson. Em todo o filme Rafelson executa sinuosamente este jogo: a encenação e a realidade das personagens. O elenco é característico: Nicholson é um habituado do cinema do diretor (Cada um vive como quer; O destino bate à sua porta, 1981; Sangue e vinho, 1996) e entrega sua habitual persona, que tem dividido os cinemaníacos ao longo das décadas; Ellen Burstyn, Bruce Dern e Julia Anne Robinson em composições belamente desglamurizadas.

Sem altos voos, talvez cheirando um tanto a seu tempo, O dia dos loucos ainda merece visão nos dias de hoje.

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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