Olhem para o Céu

O Homem do Planeta X usa a máscara da ficção científica para falar de intolerância

03/04/2018 17:18 Por Bianca Zasso
Olhem para o Céu

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Até o mais cético dos humanos já gastou alguns minutos de seu existência olhando para o céu e imaginando o que existe além das estrelas. O fato de haver poucas respostas sobre a possibilidade de vida em outros planetas permite que a imaginação esqueça os freios e centenas de histórias sejam criadas sem que se perca tempo com verossimilhança. A ficção científica, mais precisamente a produzida no cinema na década de 50, foi responsável por plantar no imaginário dos nossos avós e pais certos modelos de extraterrestres e discos voadores.

Como um tipo de tradição, aprendemos a ter referências de naves espaciais e trajes de desbravadores do espaço em nossa memória. Tudo culpa do cinema. Mas mais que servir de referência e possibilitar que brinquemos com as descobertas do futuro, a ficção científica também nos fez pensar sobre questões bem terrestres.

O Homem do Planeta X, lançado em 1951 e dirigido pelo austríaco radicado nos Estados Unidos Edgar G. Ulmer, é apenas um filme de invasão alienígena para os olhares mais pueris. Narrada pelo jornalista John Lawrence, interpretado por Robert Clarke, a produção se passa em um vilarejo inglês onde um cientista experiente pesquisa sobre um planeta desconhecido que está quase colidindo com a terra. Lawrence quer uma manchete, mas tem lá suas dúvidas sobre a veracidade do tal encontro. Eis que um objeto estranho aparece no meio do pântano e, de dentro dele, surge um humanoide assustador. Pelo menos é isso que os personagens transmitem.

Ulmer conseguiu buscar na interpretação a força de seu filme, já que a verba para os efeitos especiais só permitiam uma máscara de borracha que faria rir os integrantes da nova geração, acostumados com computação gráfica. Orçamentos limitados à parte, O Homem do Planeta X usa a máscara da ficção científica para falar de intolerância. Isso porque o medo dos humanos faz com que tomem atitudes agressivas com o tal homem do planeta X, não permitindo um diálogo para saber as reais intenções da criatura.

Quem ainda acredita na lenda que ficção científica deve ser apenas um conjunto de explosões, ataques alienígenas e muita correria num planeta beirando o caos, vai conferir uma nota baixa para O Homem do Planeta X em suas indefectíveis listinhas de filmes. Mas uma das dádivas do cinema é expandir olhares e percepções, permitindo que até a mais barata das produções traga algo de bom para nossa vida. O olhar melancólico do extraterrestre dirigido por Ulmer, bem distante das feições ameaçadoras de alguns clássicos da ficção científica, como o Alien gosmento de Ridley Scott, não foi uma escolhido à toa. Descobrimos quase no finalzinho do filme que ele sua terra natal está destinada ao fim e sua visita à terra tem como objetivo encontrar um novo lar.

Se a conquista da nova moradia se daria de maneira pacífica ou violenta, jamais saberemos. O homem do planeta X não teve direito à fala. Os homens do planeta terra falaram por ele e tiraram suas próprias conclusões. Pena que isso não aconteça apenas na ficção dos anos 50. Olhe para o lado, caro leitor...está acontecendo agora. Só nos resta olhar para o céu e rogar por uma salvação que chegue a tempo de ser compreendida.

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Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.

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