OSCAR 2015 - RESENHA: Birdman (ou A Esperada Virtude da Ignorância)
Michael Keaton ajuda a tornar o filme único e ainda mais extraordinário
Birdman (ou A Esperada Virtude da Ignorância)
EUA, 14. 119 min. Direção de Alejandro Gonzage Iñarritu. Com Michael Keaton, Edward Norton, Naomi Watts, Emma Stone, Zach Galifianakis, Andrea Riseborough, Edward Norton, Amy Ryan, Lindsay Duncan.
Não sei se vai ganhar o Oscar® de melhor filme, porque a concorrência nos últimos tempos se exacerbou com o ingresso do americanista American Sniper, de Clint Eastwood (nunca desprezável), mas não há outra interpretação tão forte e carismática este ano do que a de Michael Keaton (além de tudo Hollywood adora um comeback, uma volta por cima, e é justamente o que ele esta fazendo). Sua história no filme é extremamente autobiográfica e por isso ousada. Ele faz um ator que já foi famoso ao fazer uma série de aventuras como o Homem Pássaro (como vocês lembram Michael Keaton, que não é parente de Diane, estrelou os dois primeiros filmes de Batman, em 89 e o Retorno em 92. Sempre dirigido pelo Tim Burton, em começo de carreira. Pena não terem continuado, é com outro herói o momento mais interessante da dupla, que foi justamente em Os Fantasmas se Divertem, 88, onde fazia Beetlejuice!)
De qualquer forma, Birdman, foi indicado para 9 Oscars: ator, filme, coadjuvante Norton, diretor, coadjuvante Emma Stone, roteiro, fotografia de Emmanuel Lubezki, o mesmo que ganhou ano passado por Gravidade, mixagem e edição de som. Ganhou Globo de Ouro de roteiro e ator (e teve mais 5 indicações, diretor, filme, trilha musical, coadjuvantes Norton e Emma, ganhou o prêmio SAG (do sindicato dos atores) pelo mais importante, que foi melhor elenco (teve 3 indicações como ator), prêmio Gotham (ator e melhor filme) e ainda teve 4 prêmios menores pelo Festival de Veneza (o Bafta ainda não foi votado mas tem 9 indicações). Nada mal para o que é um filme anormal, fora da rotina mas que talvez por causa disso teve um enorme impacto.
Basicamente é sobre esse ator “has been” decadente, Riggan, que tenta a sorte de voltar ao sucesso se arriscando muito uma peça de teatro na Broadway. É um retorno atormentado que provoca reações diferentes de sua filha rebelde e carente (Emma, que talvez seja a mais interessante de sua geração) e sócio Zach Galifianakis, já que colocaram todo o dinheiro que ainda tinham no Projeto. Os ensaios vão caminhando de forma conturbada e difícil um ator tem que ser mandado embora e entra outro ainda mais complicado, que saiu do estilo Actor´s Studio e bota tudo de pernas para o ar. É a melhor coisa que Edward Norton fez nos últimos tempos, sabendo ser irritante ou brilhante, ou ambas as coisas. Em volta deles temos as atrizes (uma delas diz estar grávida, mas parece sempre que esta mentindo).
O notável do filme é que ele foi rodado em Digital e com planos longos (às vezes ate de vinte minutos, se alguém errou tinham que recomeçar tudo de novo), sem luz artificial, isso quer dizer que a luz é a natural do ambiente, sem reforços ou truques, pode chamar de naturalista se preferir, mas hoje em dia com os recursos das câmeras a maior parte dos filmes tem sido feito assim. Ainda que não de forma tão radical. E bem sucedida.
Não sei se vai suceder com todo mundo, mas eu fiquei absolutamente envolvido na situação, que vai crescendo dramático (vou dar uma dica, o dito Birdman, o Homem Pássaro, aparece!) e chega ao clímax num par de sequências onde Riggan vai conversar com a critica do jornal New York Times (tão poderosos que com uma nota negativa fecham um espetáculo) feita brilhantemente por uma atriz britânica que ainda não tinha me marcado, Lindsay Duncan (Questão de Tempo, Sob o Sol da Toscana). A conversa entre eles não é realista (isso jamais aconteceria ao menos não dessa forma), mas tem um impacto inegável assim como a solução final (que não podemos entrar em detalhes!). Uma curiosidade: a Academia de Hollywood rejeitou a trilha musical dizendo que eram apenas ruídos de bateria. Realmente mas isso só mostra como são atrasados, é por ser de bateria que resulta tão forte e interessante.
De qualquer forma, Keaton é uma unanimidade. Inteiramente exposto, sem maquiagem, sem artifícios, ele da um show e uma lição de vida, não confundir papel/personagem com ator. Ele ajuda a tornar o filme único e ainda mais extraordinário.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.