Panteao das Estrelas: Adeus a Olivia de Havilland
Resumir sua vida em poucas palavras eh impossivel pois Olivia era maior que a pr?pria vida
Recentemente o clássico “E o Vento Levou” virou tema de discussão pelo racismo inerente à época que retrata e, agora, volta às notícias pela lamentável passagem da única atriz do elenco que ainda vivia entre nós, a eterna Melanie Wilkes, papel marcante entre tantos outros, incluindo dois Oscars que consagraram a brilhante carreira de Olívia DeHavilland.
Verdade que a atriz já estava afastada das telas há mais de 30 anos, quando atuou no telefilme “A Mulher que ele amou” (The Woman He Loved), de 1988. Morava em Paris, afastada das aparições em público, embora tenha retornado a Hollywood em 2003 para uma homenagem na 75ª cerimônia do Oscar. Era notório sua relação de amor e ódio com sua irmã, a também atriz Joan Fontaine (1917/2013), com quem disputou homens, prestígio e papéis no cinema, uma rivalidade que surgiu na infância e as acompanhou por toda a vida. Em 2017, a atriz perdeu o processo que movia contra os produtores do seriado “Feud”, sobre a inimizade entre as atrizes Joan Crawford e Bette Davis. Olivia foi vivida por Catherine Zeta Jones, mas ficou extremamente descontente com a forma como foi retratada na série. Foi vitoriosa, contudo, em 1944 quando venceu na justiça processo contra a Warner, que queria obrigá-la a seis meses de trabalho adicionais, mesmo já não tendo mais contrato com o estúdio. Foi a primeira atriz a obter uma vitória desse porte em plena era de poder absoluto do chamado “star system”.
Esses e tantos outros momentos fora das telas contratam com uma presença impactante em filmes como “Só Resta uma Lágrima” (To Each His Own) de 1946 , “Tarde Demais” (The Heiress) de 1949, que a tornou uma das poucas a ganhar mais de um prêmio da Academia de Hollywood como melhor atriz, sendo o primeiro seu retorno às telas pela Paramount depois do litigio com a Warner, estúdio para o qual trabalho por 8 anos, e que a lançou ao estrelato.
Confesso que a imagem de Olivia mais marcante de minha infância foi seu papel de Arabella Bishop no clássico “Capitão Blood” (Captain Blood) de 1935, ao lado de Errol Flynn, com quem dividiu a cena por 8 vezes, incluindo como a Maid Marian de “As Aventuras de Robin Hood” (The Adventures of Robin Hood” (1938). A popularidade alcançada no período fez de Flynn & De Havilland o casal 20 da década de 30. Reza a lenda que Flynn, mulherengo incurável, dizia obscenidades ao pé de seu ouvido durante as cenas para provocá-la, além de histórias de um love affair jamais consumado. A atriz teria tido romance com James Stewart, que a acompanhou à cerimônia do Oscar na ocasião do lançamento de “E o Vento Levou” (Gone With The Wind) de 1939, e anos depois com o lendário bilionário Howard Hughes.
Casou duas vezes, teve dois filhos, considerava cada aniversário completado uma vitória ao longo de seus 104 anos. Sua imagem de mulher vulnerável não apagou a percepção de sua beleza e do espírito determinado com a qual fez sua carreira triunfando por revezes. Seu último papel no cinema foi em 1979 como a Rainha Mãe em “O Quinto Mosqueteiro” (The Fifth Musketeer). Teve passagem memorável também pela Tv em séries e mini séries, incluindo a conquista de dois Golden Globes, sendo um por “Tarde Demais” (The Heiress) e outro pela produção televisiva “Anastacia – The Mystery of Anna” (1987).
Resumir sua vida em poucas palavras é impossível pois Olivia era “maior que a própria vida”, e mesmo que uma estrela, era humana, talvez nada vulnerável mas versátil, intensa, e dona de um sorriso meigo e um olhar sensível que fez sua Melaine Wilkes tão inesquecível, como aquele forte abraço com o qual recebeu a chegada de seu amado Ashley (Leslie Howard) voltando do front. Que faça sua passagem com luz, como viveu, a luz de uma estrela.
Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com