RESENHA CRTICA: Que Mal Fiz Eu a Deus? (Quest-ce queon a Fait au Bon Dieu?)
raro o cinema Francs enveredar pela auto critica. Com um resultado bem divertido
Que Mal Fiz Eu a Deus? (Qu´est-ce que´on a Fait au Bon Dieu?)
França,14. 97 min. Direção de Philippe De Chauveron. Com Christian Clavier, Chantal Lauby, Ary Abittain, Medi Saddoun, Frédéric Chau, Noom Diawara, Fréderique Bel, Julia Platon, Emilie Caen.
Foi um espetacular sucesso de bilheteria na sua França natal esta comédia que se saiu mais ou menos no Brasil. Só agora tive a chance de assistir e dá para entender o motivo do sucesso. É uma comédia de costumes, como era comum antigamente, em que o francês que não era dado a isso, faz uma crítica bem humorada às mudanças sociais que o país tem sofrido ultimamente. A França é uma sociedade conservadora até demais e por isso mesmo frequentemente acusada de racista. Já que no passado foram colonialistas e exploraram durante muito tempo suas colônias na África ou espalhadas pelo mundo, agora reclamam que os povos de que abusaram tenha emigrado para seus país, que hoje é uma curiosa mistura de diferentes origens, negros da África e Antilhas, judeus, árabes em profusão e mais recentemente orientais.
A Comédia de Chauveron, antes roteirista (não vi outros filmes dele como O Aluno Ducobu e L´Amour aux Trousses,Les Parasites), é justamente um golpe na orgulhoso e prepotência francesa, na história de um homem rico católico que vive no interior com a esposa, numa bela casa (o astro é Chistian Clavier, pouco conhecido aqui mas super astro popular por lá, alguns filmes dele passaram aqui como Os Visitantes, Asterix e Obelix contra Cesar e Cleópatra, onde era justamente Asteríx). É um bom exemplo para os humoristas nacionais que ele em momento nenhum exagera ou cai na caricatura,ou seja, não resvala na Chanchada e nem por isso é menos engraçado. Ou seja, no fundo o filme é bem ousado e necessariamente fantasioso. Obviamente o que sucede no filme é uma fantasia e jamais poderia acontecer na vida real, mas a intenção é justamente essa, a aceitação de diferentes raças e culturas.
Só assim mesmo fica mais fácil rir dos problemas do velho casal que tem quatro filhas que escolhem casar com representantes de outros países, um judeu, um árabe, um chinês e finalmente o que acompanhamos melhor, com todas as atribulações de uma festa de casamento, um negro africano que tem problemas também com sua família. Enfim, a farsa acaba sendo divertida e pode servir também para atingir o espectador com algumas farpas. É raro o cinema Francês enveredar pela auto critica como sucede tão frequentemente com o italiano. Com um resultado bem divertido.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.