O Western Americano e o Western Europeu

Na estreia do novo colunista Paulo Telles, conheça a trajetória dos filmes de Faroeste

29/09/2014 16:05 Por Paulo Telles
O Western Americano e o Western Europeu

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Para todos os cinéfilos bons conhecedores e admiradores do cinema, principalmente do gênero WESTERN (ou faroeste, como chamamos aqui no Brasil), esta categoria é dividida em muitas etapas ao longo de décadas de produções. Gênero estritamente americano por excelência, mas que conseguiu adeptos de fãs em grande parte do mundo, o cinema norte americano levou para todos os costumes dos velhos pioneiros na conquista da terra bravia, caravanas, diligências, salons, homens da lei e bandidos (ou mocinhos e bandidos), e muitas vezes sobrepujando a realidade dos fatos, levando-os as lendas românticas e criando legendas áureas em seus mitos (afinal, o próprio cineasta John Ford, o Mestre dos Westerns norte-americanos, já dizia através de um de seus personagens do seu filme O Homem que Matou o Fascínora (The Man Who Shot Liberty Valance, de 1962): Quando a lenda é maior que o fato, imprime-se a lenda, mesmo se estes fossem personagens realisticamente famigerados, como Jesse James, Billy the Kid, ou até mesmo o “notável e honrado” homem da lei Wyatt Earp, cuja sua verdadeira história nada tem de honrado, muito menos de romântica.

A verdade, é que desde que o faroeste surgiu (o primeiro western da história foi O Grande Roubo do Trem (The Great Train Robbery, em 1903) o cinema norte-americano nunca mostrou a realidade de sua época sem lei, pelo menos como deveria ser. Mas o que isto importava para o público que pagava pelo bilhete para ver as emoções de boas brigas de punhos, o herói salvando a mocinha e beijando-a no final, e principalmente, a característica do herói, sempre limpinho, arrumadinho e barbeado, que nas brigas nunca caía o chapéu? Sim, isto era o contraste dos verdadeiros homens do oeste, que em sua grande parte eram sujos e desalinhados (é mister dizer que muitos só tomavam banho quase que duas vezes ao ano, e criticavam os homens do leste, estes mais civilizados, por tomarem banho todos os dias, intitulando-os de efeminados). Quando víamos cowboys alinhados como Gary Cooper, Randolph Scott, John Wayne, Audie Murphy, George Montgomery, Jock Mahoney, e tantos outros, analisamos o quanto é contrastante para com a realidade do que foi o Velho Oeste e seus contemporâneos.

Entretanto, com o passar dos anos, o western americano foi tomando formas, e apesar dos seus heróis e mocinhos ainda serem bem “limpinhos”, algumas histórias foram se adaptando de conteúdos trágicos, com dramática intensidade, como vemos principalmente nos westerns de Anthony Mann (1906-1967), como Um Certo Capitão Lockhart (The Man from Laramie, de 1955), e O Preço de um Homem (The Naked Spur, 1953),este quase que uma refilmagem de O Tesouro de Sierra Madre, de John Huston, cujo assunto aborda exatamente sobre a ambição do Homem, e ambos estrelados por James Stewart (1908-1997), mocinho classe A por excelência e um brilhante ator que trabalhou com diretores muitos difíceis. Mas para o Western Americano chegar a esta fase na década de 1950, o público ainda teve que conhecer outras leituras além da legenda romântica de seus personagens.

Os grandes produtores também viram uma oportunidade de trazer o Velho Oeste para o público infantil. Na década de 1930, John Wayne era um ídolo infantil. Pouco depois do fracasso de A Grande Jornada (The Big Trail, de 1932), cuja estreia coincidiu com a época da depressão americana, não restou ao futuro ídolo estrelar faroestes de baixo orçamento, quase que vestindo o mesmo figurino e cavalgar o mesmo cavalo em todos os seus filmes em histórias curtíssimas que não levavam em média 60 minutos. Como o próprio Wayne dizia, era sua época de “vacas magras”, que só acabaria a partir de 1939, quando John Ford o escalou para ser seu astro no épico western No Tempo das Diligências (Stagecoach), que o consagrou definitivamente como um astro de primeira grandeza.

Mas como Wayne, outros também embarcaram nos faroestes infantis, considerados classe B, entretanto sem chegar ao ápice do estrelato como chegou o Duke (como era conhecido Wayne). Entre muitos, estão Charles Starrett (que se tornou o Durango Kid), Allan Rocky Lane, Bill Elliot, Monte Hale (que durou mais que os outros astros de sua época, morreu em 2009 com quase 90 anos), Clayton Moore (o eterno e saudoso Lone Ranger/Zorro & Tonto da TV), Roy Rogers (o cantor cowboy, “Rei dos Cowboys”) William Boyd (o Hopalong Cassidy) e Johnny Mack Brown, este um outrora astro destinado a Primeira Grandeza da Metro Goldwyn Mayer, mas que ao se envolver romanticamente com a starlet Marion Davies, amante do Poderoso William Randolph Hearst, chefão do Quarto Poder e das maiores cadeias de jornais e imprensa dos Estados Unidos, foi boicotado graças (ou desgraças) a influência do poderoso Hearst, e os planos para uma carreira mais promissora foram a declínio, e não restou a Mack Brown senão embarcar nos faroestes Classe B (assim como são chamados os westerns de baixo orçamento), pois como bom atleta que era e bom na montaria, Mack Brown foi escalado para ser astro destes filmes, onde conseguiu popularidade e fortuna, o suficiente para que próximo ao fim de sua vida (Johnny Mack Brown faleceu em 1974) garantisse sua aposentadoria e abrisse um restaurante.

No entanto, na década de 1960, os westerns estavam atravessando uma nova linha, já que o formato americano de se ver as coisas já estava consumindo o público. Nesta época, muitas mudanças culturais estavam ingressando na sociedade. Pareciam que os westerns americanos já eram clichês passados, se não fosse a interferência da Itália em realizar também suas próprias produções. Mas por que um país da Europa se interessaria em realizar westerns se este é um gênero somente americano? Simples: somente um cineasta italiano, que era um fã dos westerns americanos, queria apresentar ao mundo o que os americanos nunca ousaram mostrar nas telas, e este cineasta era Sergio Leone (1929-1989). Leone queria mostrar ao público o que era, na realidade, o velho oeste americano, retratando seus “mocinhos e bandidos” sujos, suados, poeirentos, e com barba por fazer, e tramas nada românticas, afastando definitivamente toda legenda áurea que Hollywood mostrou ao longo de quase 50 anos. Doravante, surgia uma nova etapa no gênero, o “western spaghetti”, como era definido o gênero além mar, produzido por cineastas italianos e rodados em alguns lugares na própria Itália, mas precisamente também na Espanha, na região de Alméria, por esta além de ser a região mais pobre da Espanha (que sequer tinha energia elétrica em muitas localidades), lembrava também alguns lugares do deserto do Oeste dos Estados Unidos, como o Monument Valley, no Arizona (Estado de Utha), que é tida como a “Terra de John Ford”, pelo fato do grande Mestre ter dirigido muitas de suas películas westerns neste local

De uma forma ou de outra, o Diretor John Ford (1895-1973) dos clássicos westerns norte-americanos influenciou o Faroeste Spaghetti. Este se tornou um subgênero conhecido graças ao cineasta Sergio Leone (1929-1989), que imortalizou o western italiano através de sua trilogia (Por um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais, Três Homens em Conflito). Tais filmes são baseados nas vidas de caçadores de recompensas do velho oeste, e neles Leone atribuiu certos realismos que faltavam nos faroestes norte-americanos. Não havia a exaltação romântica e nem a legenda áurea dos foras da lei, e muito menos eram limpinhos e barbeados como os cowboys interpretados por John Wayne, Randolph Scott, Audie Murphy, Joel McCrea, entre outros. Agora os heróis (ou anti-heróis) eram interpretados por Clint Eastwood, Franco Nero, Giuliano Gemma, Anthony Stefen, Klaus Kinski, entre outros, embora o primeiro mencionado fosse um norte-americano (saído de uma série de TV norte americana intitulada Rawhide, aqui no Brasil Couro Cru, e Leone assistiu algum dos episódios e gostou do trabalho de Eastwood), ele foi o pioneiro dos “heróis” retratados pela nova visão realista deste gênero, sem noção de moral e escrúpulos, cujo o único objetivo era o dinheiro.

Em 1968, Sergio Leone lançou Era uma vez no Oeste, com Charles Bronson, Claudia Cardinale, e Henry Fonda (cowboy Hollywoodiano por excelência que já tinha mais de 30 anos de experiência, que aos 63 anos interpreta o único vilão de sua carreira. Leone era fã deste grande e saudoso astro falecido em 1982). Na época do lançamento, foi um fracasso de bilheteria, mas com o passar dos anos, elevou a obra prima do gênero. O mesmo se sucedeu com o clássico norte-americano Rastros de Ódio, de John Ford, que ao ser lançado em 1956 não teve boa repercussão de crítica e de público, mas foi reconhecido como obra magistral da Sétima Arte tempos depois. Retrocedendo um pouco, por volta de 1964 os faroestes italianos estavam ganhando espaço na mídia da época, sobrepujando os aparentemente batidos westerns americanos. Estes já estavam sendo levados a televisão, em séries como Paladino do Oeste, Bat Masterson, Rin Tin Tin, Bonanza, Homem do Rifle, Homem de Virgínia, entre outros. Não parecia haver novidades no gênero, mas isto parece ter empolgado alguns atores norte-americanos a irem para a Europa e trabalharem (assim como Eastwood) no gênero Western europeu emergente.

Além de Clint Eastwood, que como falamos saiu de uma das séries de televisão como Rawhide que era um tema western, saiu dos States em direção à Itália para protagonizar a obra triológica que o consagrou definitivamente, outros o seguiram, como Guy Madison, Lex Barker (ex-Tarzan), Van Heflin, Gordon Scott (ex-Tarzan também), Adam West (O Batman da TV), Jeffrey Hunter, Richard Harrison, George Hamilton, Richard Harris, Chuck Connors (astro da série televisiva O Homem do Rifle), Rod Steiger, Richard Boone (da série de TV Paladino do Oeste), Lee Van Cleef (o mais bem sucedido depois de Clint Eastwood), Rod Cameron, Sterling Hayden, Joseph Cotten, Van Johnson, Broderick Crawford, John Saxon, Clint Walker (da série Cheyenne), entre outros. Grande parte destes atores americanos seguiu o exemplo de Eastwood e migrou para a “terra prometida” do novo gênero de westerns, muitos deles com o objetivo de revitalizarem suas carreiras. Além de Lee Van Cleef (1925-1989), quem mais chegou perto do sucesso de Clint Eastwood foi Burt Reynolds, que como Clint havia começado sua carreira na TV em uma série televisiva. Sergio Corbucci, outro grande cineasta do gênero, viu algum de seus trabalhos na TV e ficou impressionado, e sem pestanejar, o convidou para estrelar Navajo Joe.

Além dos americanos, o Western europeu contou também com atores de outros países, como a Inglaterra (Stewart Granger); França (Philippe Leroy e Johnny Halliday); Alemanhã (Klaus Kinski); Espanha (Fernando Sancho, um dos bandidos mais feiosos requisitados nos Westerns Europeus); e o Brasil não estava menos representado sem a presença de Anthony Steffen, ou melhor, Antonio de Teffé (nascido em 1930, falecido no Rio de Janeiro em 2004), que fez muito sucesso em território europeu. Na Alemanha, o ex-Tarzan nos Estados Unidos Lex Barker (1919-1973, que havia substituído Johnny Weissmuller no papel do Rei das Selvas) atuou em sete filmes da série Winnetou, um índio herói criado nos romances do escritor alemão Karl May (1842-1912) interpretado pelo francês Pierre Brice (ainda vivo e na ativa), tendo Barker no papel de Old Shatterhand, personagem igualmente criado por May em seus romances. Norma Bengell, nossa atriz brasileira, também participou de um Spaghetti Western: Os Cruéis (I Crudelli), em 1966. O filme dirigido por Sergio Corbucci e estrelado pelo veterano Joseph Cotten (1905-1994).

Mas a margem das afinidades de diretores como Leone e Corbucci, surgiram outros diretores do gênero Spaghetti nos faroestes italianos, como Duccio Tessari, que dirigiu Uma Pistola Para Ringo, ou Giorgio Ferroni, com o Dólar Furado, ambos estrelados pelo galã Giuliano Gemma, outro herói dos faroestes europeus, talvez o menos "sujo" dentre eles.  Ainda temos Franco Nero, italiano legítimo (Nero havia sido ator de fotonovelas) estrelando Django, de Sergio Corbucci, em 1966, e Nero fez tanto sucesso que foi um dos atores mais requisitados para o gênero spaghetti nos 10 anos seguintes.

Todo aquele sucesso dos westerns europeus acabou de fato provocando uma nova onda de faroestes americanos, pois aparentemente enciumados, Hollywood voltou a dar atenção ao gênero, mas desta vez, todos os clichês e moldes mitológicos do tema, e a legenda áurea de seus cowboys, eram substituídos por assuntos mais sérios e polêmicos dentro do Velho Oeste. Nos Estados Unidos, a partir de 1964, foi feito faroestes quase que similares aos europeus, pois seus “mocinhos” já não eram os mocinhos dos áureos tempos, mas sim personagens perturbados, sofridos, e muitas vezes traumatizados, ou como outras vezes, pessoas frias que impunham o medo dentro de comunidades, como foi o caso de Yul Brynner (1915-1985) em Convite a um Pistoleiro (Invitation to a Gunfighter), que foi uma produção de Stanley Kramer. Já o diretor Martin Ritt resolveu seguir os passos de Sergio Leone, em Quatro Confissões (The Outrage), um western violento abordando estupro e assassinato, algo nada visto anteriormente nos faroestes americanos. No elenco, Paul Newman, Claire Bloom, Laurence Harvey e Edward G. Robinson. O outro, dos bons mas ignorado Rio Conchos (idem), dirigido por Gordon Douglas, de estrelado por Stuart Whitman e Richard Boone; e Crepúsculo de uma Raça (Cheyenne Autumm), último western dirigido pelo Mestre John Ford (1895-1973), onde ele defendeu a causa dos índios e procurava se redimir pela matança deles durante toda sua carreira. Como ele mesmo disse: “Matei mais índios no cinema do que o General Custer nos campos de batalha!”. O filme, com locações no Monument Valley - como grande parte dos westerns do diretor que faleceu em 1973 - resultou lento e cansativo em seus quase 160 minutos de projeção, e nem o elenco all-star, como Richard Widmark (grande mocinho dos faroestes americanos da década de 1950), Carroll Baker, Ricardo Montalban, Gilbert Roland, Edward G. Robinson, Dolores Del Rio, e numa participação, James Stewart.

Mas nem todos em Hollywood queriam aceitar estas mudanças. Os heróis dos faroestes Classe B americanos, ainda representados por Rory Calhoun, Audie Murphy, e Dale Robertson (este ainda vivo), ainda preferiram ser os mocinhos “limpinhos e barbeados”, muito embora Murphy (que morreu em maio de 1971 num acidente aéreo) foi o mais assíduo e aproveitou o embalo dos westerns spaghetti e protagonizou Bandoleiro Temerário (The Texican), dirigido por Sidney Salkow e rodado na Espanha, onde ainda tinha no elenco (e como vilão) um ator ganhador do Oscar (e com a carreira em declínio) – Broderick Crawford (1911-1986). Em 1969, Elvis Presley (1935-1977) também estrelou um western americano com moldes “Spaghetti”, Charro (idem). Elvis, cujo seu primeiro filme era um western (Ama-me com Ternura/Love-me Tender, 1956) e em 1960 foi o astro de Estrela de Fogo (Flaming Star), em papel reservado para Marlon Brando, não ficou nada mal como um pistoleiro a lá Django, com barba por fazer e tudo mais.

Ainda na década de 60, e em seus meados, a disputa continuava cada vez mais acirrada entre os americanos e europeus, e por isto, alguns diretores hollywoodianos deixaram o orgulho de lado e passaram a imitar os Spaghetti, como é o caso de A Marca do Vingador (Ride Beyond), estrelado pelo astro da série de TV O Homem do Rifle, Chuck Connors (1921-1992), e contando ainda com Michael Rennie, Bill Bixby (da série O Incrível Hulk), e Claude Akins, com quem tem com Connors uma sensacional cena de luta num saloon, onde é explícito a violência e o tema da vingança, muito comum nos faroestes italianos. Os Profissionais (The Professionals), de Richard Brooks, situou esta obra no México como a maioria dos concorrentes latinos, e estrelado por um elenco de primeira grandeza: Burt Lancaster, Lee Marvin, Robert Ryan, Jack Palance, e não por coincidência, uma atriz italiana, se não mais que a bella Claudia Cardinale. Sangue em Sonora (Appaloosa), em 1966, dirigido por Sidney J. Furie, também utilizou locações mexicanas. Western racista e muito violento, estrelado por Marlon Brando e John Saxon. E quem diria, o mais spaghetti western americano de todos: A Marca da Forca (Hang em High), em 1968, produzido e estrelado por Clint Eastwood, já consagrado, que tão logo voltou ao Estados Unidos resolveu projetar uma película aos moldes de seu grande Mestre, Sergio Leone. Para dirigi-lo, Clint chamou Ted Post, um velho conhecido dos tempos em que ele estrelava a série de TV Couro Cru (Rawhide). A boa acolhida da maioria desses filmes deixou claro que o público agora dava preferência a faroestes mais realistas, e que aqueles “cowboys imaculados” portando revólveres reluzentes de coronha de marfim, estavam com seus dias contados.

Apesar daquela nova tendência, John Wayne (1907-1979), com seus faroestes tradicionais, ainda continuava sendo sinônimo de bilheteria. Com o sucesso estrondoso de Meu Ódio Será sua Herança (The Wild Bunch), em 1969, de Sam Peckimpah (1928-1983), os produtores acharam que era o momento oportuno para o veterano ator de 62 anos voltar ao seu habitat e experimentar o novo estilo. Wayne concordou, mas com uma condição: teria que ser a sua maneira. O resultado foi Bravura Indômita (True Grit), dirigido por Henry Hathaway, não era propriamente um western desmistificador e nem muito violento, mas certamente, era diferente dos filmes que o velho Duke vinha fazendo por quase 40 anos. Seja como for, Wayne ficou perfeito no papel do delegado gordo, bêbado e falastrão, usando um tapa-olho, tão perfeito que acabou ganhando o Oscar® de melhor ator do ano (que mereceria muito mais por Rastros de Ódio/The Searchers, 1956 caso fosse indicado). Uma nova versão de Bravura Indômita em chegou aos nossos cinemas em 2010, com Jeff Bridges no papel que foi de Wayne.

A partir da década de 1970, Hollywood mergulhou de cabeça no Western violento e desmistificador (algo que não agradava John Wayne, este um tradicional e devoto admirador da legenda áurea do gênero), para competir com os europeus. Um bom exemplo disso é um western dirigido por Michael Winner (o mesmo de Desejo de Matar, com Charles Bronson), que escolheu a dedo dois dos maiores atores que o cinema já teve: Burt Lancaster (1913-1994) e Robert Ryan (1909-1973), amigos na vida real e que pela segunda vez voltavam a trabalhar juntos (a primeira foi também no Western Os Profissionais (1966), e a terceira e última no drama político O Assassinato de um Presidente (1973), que foi o último filme de Ryan, que morreu em julho de 1973), em Mato em Nome da Lei (Lawman) , em 1970. Lancaster ainda participaria em Quando os Bravos Se Encontram e A Vingança de Ulzana, que abusaram da violência ao extremo, temperando o filme com psicologia e racismo.

Enquanto isso, na Europa, os últimos cineastas a explorarem o estilo “tradicional” (que eles já consideravam violento), davam uma releitura em um estilo cômico (como nas séries de Trinity, com Terence Hill e Bud Spencer), mas depois de uma dúzia de filmes como estes, já mostravam sinais de extremo desgaste, e o tradicional Bang Bang à Italiana, apesar de ter durado bem, estava com seus dias contados como o gênero em geral (mesmo os americanos). Mas mesmo assim, os faroestes spaghetti poderiam contar com diretores como Sergio Corbucci, Sergio Leone, Duccio Tessari, entre outros, e mocinhos europeus como Franco Nero (que para quem não sabe, recentemente participou de uma minisérie sobre a vida de Santo Agostinho, interpretando o religioso na fase da velhice), Giuliano Gemma, Tomas Milian, Terence Hill, entre outros.

Entre 1963 a 1978, foram produzidos cerca de 600 westerns europeus. E foi nesse ano de 1978 que veio a acabar definitivamente a munição do Bang Bang à Italiana. Sella D’ Argento (Sela de Prata, de 1978), dirigido por Lucio Fulci, e estrelado por Giuliano Gemma e Ettore Manni, é considerado oficialmente o último faroeste europeu do cinema. Odiado pelos puristas e considerado trash pela crítica, mas queira ou não, os westerns spaghettis foram responsáveis pelo revigoramento dos faroestes de Hollywood, que não saíam dos mitos, e deram uma retomada. Se não fosse pelos europeus, teríamos sido privados de obras como Meu ódio Será sua Herança, Josey Wales, e O Pequeno Grande Homem.

Contudo, a retirada dos Westerns europeus não significou a vitória dos americanos. O premiado diretor Michael Cimino (5 Oscar® por Franco-Atirador, incluindo melhor diretor) tinha a plena convicção que o western em estilo épico que estava prestes a dirigir para a United Artist seria um dos grandes ápices de sua carreira. O Portal do Paraíso, entretanto, não conseguiu repercussão nos Estados Unidos, embora os franceses tenham gostado. Isto motivou a expulsão de Cimino em Hollywood e o início da falência da United Artist. A maioria dos estúdios evitavam o gênero, e com isto, o Western, gênero americano por excelência, parecia estar com seus dias contados. Em 1985, Clint Eastwood produziu e dirigiu O Cavaleiro Solitário (Pale Rider), onde estrelou como um “Pistoleiro sem nome e sobrenatural”, mas um pistoleiro do bem. O roteiro escolhido por Eastwood era uma mistura de Shane e Matar ou Morrer, dois clássicos por excelência do gênero, mas nem por isso, fez tanto sucesso.

Eastwood voltaria novamente ao gênero em 1992, dessa vez em um tema psicológico e desmistificador, em Os Imperdoáveis (Unforgiven), onde estrelou e dirigiu. No elenco, Gene Hackman como um bom vilão, Morgan Freeman, e o talentoso Richard Harris. Aqui, Eastwood fazia o papel de um ex-pistoleiro frio e sanguinário perseguido pelos fantasmas do passado, que embora regenerado, volta a empregar em armas para ajudar uma prostituta que foi estraçalhada. O filme foi um grande sucesso de crítica e público, e possibilitou uma pequena volta ao gênero na década de 1990 aos cinemas (Wyatt Earp, Tombstone - A Justiça esta Chegando, Quatro Mulheres e um Destino, Rápida e Mortal, este estrelado por Sharon Stone), principalmente, graças aos 4 (quatro) Oscar® conquistados, onde Clint Eastwood, então com mais de 30 anos em Hollywood, subiu ao palco para receber a estatueta de melhor diretor; Gene Hackman foi o melhor ator coadjuvante; Os Imperdoáveis ganhou o Oscar® de melhor filme de 1992, além de quebra, ter ganho também um Oscar® de melhor edição.

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Sobre o Colunista:

Paulo Telles

Paulo Telles

Paulo Telles é natural do Rio de Janeiro, onde nasceu em 1970. Mora na mesma cidade na região boêmia da Lapa. Curte cinema desde a adolescência, e através das matinês da TV, aprendeu a amar a Sétima Arte e os astros e estrelas do passado. Ele é o editor do blog FILMES ANTIGOS CLUB, acessível em: http://www.articlesfilmesantigosclub.blogspot.com.br/, espaço dedicado a matérias relacionadas ao cinema antigo, com biografias e resenhas de alguns filmes. Também é locutor da Escola de Rádio Web. Email: filmesantigosclub@hotmail.com ou paulotellescineradio@r7.com

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