O Amor Internacional em Karim

Praia do futuro aponta para um cinema brasileiro que ainda está por vir

06/06/2014 17:20 Por Eron Fagundes
O Amor Internacional em Karim

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O cearense Karim Aïnouz é um dos cineastas brasileiros que mais parecem ir para a frente hoje em dia. Quero dizer com ir para a frente que ele está sempre atrás de coisas novas, mesmo que neste andar para a frente seu jeito de filmar se assemelhe constantemente a si mesmo. O signo de seu cinema é a viagem: personagem que se desloca. E viagem é um dos processos de descobrir coisas novas. A matriz da estética de Karim é certamente o cinema do alemão Wim Wenders, especialmente o tipo de filme que Wenders fez nos anos 70. E por Wenders chegamos à matriz da matriz: o japonês Yasujiro Ozu e seu realismo criativo.

Penso que Aïnouz chega a uma depuração em seu novo filme, Praia do futuro (2014). Nos dois filmes anteriores do diretor duas atrizes conduziam o diapasão narrativo: em O céu de Suely (2006) era Hermila Guedes  e em O abismo prateado (2011) víamos circular de cá para lá, inclusive com sequência em aeroporto, Alessandra Negrini. Estas intérpretes apresentavam desempenhos muito característicos e também ajudavam a caracterizar os aspectos em trânsito do cinema de Karim. Estes aspectos em trânsito são exacerbados em Praia do futuro. Wagner Moura, despido o quanto possível de suas pavonices de estrela, faz a guinada da sensualidade das narrativas de Aïnouz da mulher para o homem; após uma tentativa frustrada de salvar alguém de afogamento na praia do Futuro, em Fortaleza, Donato, a personagem de Wagner, se vê atraído pelo irmão da vítima, o alemão Konrad; inevitavelmente, Donato segue Konrad até Berlim, onde o amor internacional de ambos se estabelece; abandonando a mãe e o irmão menor no Nordeste brasileiro, Donato vai ter novamente de enfrentar as difíceis relações familiares quando seu irmão, já crescido e morta a mãe, ruma para Berlim —então, passado e presente, nacional e internacional se tornam uma coisa só.

À parte as discussões preconceituosas de sempre sobre o homossexualismo em cena (as sequências de sexo entre Wagner e o ator alemão Clemens Schick são de fato cruas, assim como são as de Adèle Exarhopoulos e Léa Seydoux no filme francês Azul é a cor mais quente, 2013, de Abdelatif Kechiche), Praia do futuro é uma narrativa sobre um amor internacional circulante; as dificuldades de exposição da personagem passam pelas próprias dificuldades dos atores, que falam línguas diferentes e não entendem um a língua do outro, dali Karim extraindo, com sua sensibilidade exuberante de realizador (que bem conhecemos de sua obra anterior), uma força selvagem e inóspita para seu filme. Entre uma praia de Fortaleza, aberta e plural, e as  sofisticadas estações de Berlim, concentradas e frias, Praia do futuro aponta para um cinema brasileiro que ainda está por vir. Antes, Karim dividira com o pernambucano Marcelo Gomes outro filme que trazia estes apontamentos de como circular no devir: Viajo porque preciso volto porque te amo (2009).

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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