As Sutilezas Esteticas de Henry James

Talvez Henry James tenha sido o primeiro romancista autenticamente moderno

14/10/2022 02:07 Por Eron Duarte Fagundes
As Sutilezas Esteticas de Henry James

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Talvez Henry James tenha sido o primeiro romancista autenticamente moderno. Outros grandes do século XIX (o russo Fiódor Dostoievski e o francês Honoré de Balzac) tinham muitos olhos no pré-moderno; a consciência narrativa que geraria o francês Marcel Proust ou o irlandês James Joyce está mais em James que em qualquer outro. Nascido em Nova Iorque, James transitou, desde criança, entre os Estados Unidos e a Europa; naturalmente britânico no fim da vida, James é uma ponte entre os dois lados do Atlântico, objetivo e sutil no mesmo espaço.

A volta do parafuso (The turn of the screw; 1898) é uma das obras mais referidas por aqui, de sua novelística. No entanto, por tratar de fantasias, aproximando sua atmosfera das tensões góticas dum autor americano muito diferente dele, Edgar Alan Poe, é um romance muitas vezes esnobado por setores de leitores habituais de James. Indevidamente. Se James utiliza fantasias fantasmagóricas ausentes do universo literário sutil e agudo de suas páginas costumeiras, temos aqui a mesma minúcia estilística e a criatividade romanesca do escritor de Os europeus (1878) e Os embaixadores (1903).

Levado algumas vezes ao cinema (onde o que mais interessava era seu lado fantástico que estético; basta ver o clássico Os inocentes, 1961, feito na Inglaterra por Jack Clayton), A volta do parafuso traz um prólogo solto onde um narrador (em primeira pessoa) evoca a descoberta dum manuscrito duma estranha história; quem descobre o escrito não é narrador, é outra personagem presente na roda. Desde a frase inicial, se evidencia a escolha de palavras de James  para expor um ritmo e uma atmosfera. “The story had held us, round the fire, sufficiently breathless, but except the obvious remark that it was gruesome, as, on Christmas Eve in an old house, a strange tale should essentially be, I remember no comment uttered till somebody happened to say that it was the only case he had met in which such a visitation had fallen on a child.” Um pouco da velha técnica de contar uma história para uma plateia, à maneira do italiano Giovanni Boccaccio, sofisticada pelos recursos modernos de James.

Ao introduzir o início do manuscrito ficcional, James não decai da continuidade estilística e atmosférica. Segue o rumo das evocações; o narrador do manuscrito é agora a preceptora das estranhas crianças que preencherão boa parte das imagens em que vão surgindo. “I remember the whole beginning as a succession of flights and drops, a little seesaw of the right throbs and the wrong.” A partir daí, serão as subterrâneas relações entre esta nova preceptora, as crianças e alguns fantasmas (a antiga preceptora, outro empregado da casa, já mortos) que criarão os elementos capazes de conduzir a imaginação verbal de James por conflitos surdos e profundos como o escritor fez ao longo de toda a sua vida literária. “It was the dead silence of our long gaze at such close quarters that gave the whole horror, huge as it was, its only note of the unnatural.”

Diante da escrita de James, a percepção do leitor é bastante clara: dificilmente algum horror físico extraído do conteúdo narrativo que o cinema pudesse produzir em imagens reproduziria a capacidade estética elevada que se encontra no texto de A volta do parafuso.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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