O Filme da Brasileira Que Luta Contra o Estupro

Fico contente que tenha sido justamente uma brasileira que esteja participando dessa revolta

20/11/2017 13:06 Por Rubens Ewald Filho
O Filme da Brasileira Que Luta Contra o Estupro

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A vida é muito curiosa. Justamente no momento em que estourava o escândalo com o produtor Harvey Weinstein e começava a desmoronar seu Império (e a decisão da Academia do Oscar em dispensá-lo), uma diretora brasileira Natalia Leite, praticamente desconhecida, estreava em Nova York com um filme modesto que ganhou espaço na imprensa norte-americana justamente por tocar num assunto muito semelhante e da mesma forma escandaloso e injustificável. Um filme chamado M.F.A. dirigido por Natalia que conta a história de uma estudante de arte que ao ser violentada por um colega não consegue suportar a situação e começa a se vingar de outros rapazes, em geral atletas da Universidade que novamente se aproveitam sexualmente dela. Um incidente inspirado em fatos reais, que chegaram a ser discutidos na própria festa do Oscar numa canção interpretada por Lady Gaga (mas não ganhou, talvez justamente pelo fato das mulheres serem sempre o lado mais fraco). Quem ainda se lembra ficou impressionado com a intervenção do então vice-presidente americano Joe Biden. E a ausência de consequências.

Não sei se este filme aqui irá mudar alguma coisa, é provável que não. Mas ao menos foi feita por uma brasileira desconhecida até para nós. Segundo o IMDB, Natalia Leite, nasceu em São Paulo, é diretora e roteirista, de filmes como vários curtas (Dash, Baby Steps, The Game), documentário (Life as a Struck Stop Stripper, 14), o longa Bare (com Paz de la Huerta, 15), o documentário Serrano Shoots Cuba, Jo Cool (codiretora, Curta), 6 episódios da série Be Here Nowish (14-16).

Em M.F.A. (ou seja, o título escolar “Master of Fine Arts”) Natalia teve a sorte de contar como protagonista Francesa Eastwood (1993-), que é filha do astro Clint Eastwood e da atriz Frances Fisher (esteve casada com Clint e teve papel importante em Titanic e Os Imperdoáveis). O curioso é que conversando com ela em Sundance, Frances, muito simpática, me contou que nasceu na Inglaterra, mas morou um certo tempo no Brasil, onde o pai cuidava de petróleo e tinha boas lembranças do Rio de Janeiro! Talvez daí tenha surgido a ligação com Natalia.

Francesca Eastwood é uma daquelas raras mulheres de olhos esbugalhados, muito azuis e extremamente marcantes. Sozinha já tem uma presença marcante. Por mais que a gente queira elogiar o filme da brasileira, ele tem um orçamento baixo e poucos recursos. Relata os fatos com a intenção de buscar justiça e revelar com franqueza de que outros filmes têm medo. E espera-se que isso venha provocar uma reação importante nos cinemas de arte especialmente em Nova York. Ela interpreta Noelle, que estuda pintura na Califórnia, mas os colegas artistas sentem sua fraqueza e timidez. Seu instrutor (Marlon Young) debocha de sua timidez, mas mesmo assim ela se interessa por um colega chamado Luke (Peter Vack) que se aproveita dela, sentindo sua fraqueza. Ela procurar resistir, mas é estuprada e acaba se defendendo provocando a morte do rapaz. Naturalmente a polícia se interessa pouco em investigar o caso assim como os colegas (uma vizinha é Skye, interpretada por Leah McKendrick que co-escreveu o roteiro). Bom, daí em diante não há surpresas. Cada vez mais segura e determinada, Noelle não quer parar e volta em busca de vingança. Como já disse, o filme está longe de ser uma obra-prima, mas é uma obra feminista (também duas mulheres fizeram a forte trilha musical, Sonia Belousova e Giona Ostinelli) que não tem medo de levar a situação as últimas consequências. Sem medo de denunciar homens que destroem a vida de mulheres sem qualquer repercussão, mais que isso desprezo. O que vemos em Weinstein e centenas de outros, não é uma brincadeira que pode ficar sem consequências. São crimes que não podem continuar assim. E fico contente que tenha sido justamente uma brasileira que esteja participando dessa revolta.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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