A Excelncia dos Dilogos
Em O Amigo de Infncia de Maigret a excelncia da naturalidade e acuidade das conversas entre as personagens de Georges Simenon est plena


São os diálogos que movem as narrativas do romancista belga Georges Simenon. Em O amigo de infância de Maigret (L’ami d’enfance de Maigret; 1968) a excelência da naturalidade e acuidade das conversas entre as personagens de Simenon está plena; despojado, capaz de fazer evoluir as situações da trama por diálogos precisos e construídos sem maiores frescuras verbais, o texto de Simenon é agudamente simples e também simplesmente agudo, e nele se revela como certos tiques dos escritores policiais que vieram depois foram na verdade inventados por Simenon —como escritores policias estão os ficcionistas e também os roteiristas de filmes policiais, pois já no nervo da ficção de Simenon alguma coisa do tom direto do cinema, especialmente de um certo cinema americano (mais que o francês, apesar da etnia do nosso escritor).
Jules Maigret, o protagonista de O amigo de infância de maigret, é uma personagem seriada básica da literatura do século XX, lembrando um pouco em Simenon aquela mania que tinha o francês Honoré de Balzac de retomar suas criaturas de uma obra para outra. Seu senso de investigação criminal conduz com mestria a história de O amigo de infância de Maigret; os parágrafos iniciais, com os movimentos cotidianos do comissário em seu escritório e aquela mosca em torno da cabeça dele, tem um notável senso de tempo e espaço. Até que alguém anuncia a chegada de um cliente. Este cliente, se verá depois, é um seu amigo de infância; este cliente vem relatar-lhe um crime, o assassinato duma mulher de vários amantes; um destes amantes é o amigo de infância de Maigret, que vem dar o caso ao inspetor; a investigação aponta para o colega de infância de Maigret como forte suspeita.
Enfim, um prato saboroso. Uma obra-prima do rigor e do despojamento da construção narrativa.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)


Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a dcada de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicaes de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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