John Wick e as Mulheres

O que torna John Wick: Um Novo Dia para Matar tão ou até mais divertido que seu antecessor é a escolha por uma construção dramática que lembra muito o cinema de ação dos 70 e 80

23/02/2017 15:03 Por Bianca Zasso
John Wick e as Mulheres

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John Wick e as Mulheres

O primeiro longa-metragem dedicado ao personagem John Wick, De volta ao jogo, lançado em 2014, tinha a proposta de apresentar ao público um matador que abandona a aposentadoria depois de perder a mulher e o cachorro. Seria mais uma trama de vingança e mais um nome para a lista de protagonistas do cinema de ação, mas as cenas bem coreografadas, a fotografia elegante e o fato de não perder tempo com diálogos bobos fez do filme um sucesso e garantiu uma sequência, que chegou aos cinemas neste ano. John Wick – Um novo dia para matar, o segundo capítulo da história, deu sequência aos pontos que garantiram a atenção do espectador na primeira parte e também injetou sangue novo. Ok, nem tão novo assim.

O que torna John Wick – Um novo dia para matar tão ou até mais divertido que seu antecessor é a escolha por uma construção dramática que lembra muito o cinema de ação produzido nos anos 70 e 80, mais interessada em fatos e mortes que em discussões filosóficas. Verborragia é uma palavra que não se encaixa no filme, ao ponto de uma das personagens femininas ser muda. À primeira vista parece uma escolha machista, mas bastam alguns segundos da presença da intérprete Ruby Rose na tela para entender que a não presença de diálogos é uma forma de suavizar o seu péssimo trabalho. Aliás, ela destoa do restante do elenco, que conta com boas atuações de Laurence Fishburne e John Leguizamo. Falando em atores, a coroação da homenagem de John Wick – Um novo dia para matar aos clássicos de tiro, porrada e bomba se dá quando entra em cena Franco Nero. A participação é discreta, mas garante nostalgia na plateia, em especial aos que lembram de maravilhas de ação como Tempo de Massacre, de Lucio Fulci, A Polícia Incrimina... A Lei Absolve, de Enzo G. Castellari e Ninja – A máquina assassina, de Menahem Golan (da produtora Cannon, lembram?!).

As cenas de luta e tiroteio mostram um Keanu Reeves em plena forma, abrindo mão de dublês na maioria dos momentos e focado em tornar John Wick um herói para ser lembrado. Apesar dos traços delicados, a caracterização do personagem, de barba, cabelo comprido e terno impecável, ajuda a dar ênfase a aura sombria que o cerca. Sabem os cowboys dos spaghettis, sujos de poeira, suados e de poucas palavras? John Wick é assim, só que mais limpinho. Entendem o Franco Nero lá do começo? Pois é.

Se os altos dos prédios e as ruas de Nova York eram o ringue do primeiro filme, aqui temos uma descida pelas catacumbas de construções antigas de Roma, iluminadas por fracas luzes verdes. O fogo dos disparos é quem ilumina o embate. Há momentos em que até o estilo giallo paira no ar, como na cena da morte da personagem Gianna. Sangue muito vermelho dentro de uma banheira com tons esverdeados cercada de estátuas, numa das cidades mais famosas da Itália. Dario Argento deve ter gostado ou, no mínimo, dado um sorrisinho. O flerte com as histórias em quadrinhos, em especial pelas frases que surgem nas cenas, e as perseguições mostrada de vários pontos de vista e, algumas vezes, em ordem aleatória, lembram de onde Wick veio, dos videogames. Agora no cinema, jogamos sem joystick, mas com o mesmo frio na barriga.

Se o leitor chegou até aqui, deve estar se perguntando o porquê deste texto ter como título “John Wick e as mulheres”. Eis a resposta: este texto, cercado de referência a outros filmes violentos e que se mostra simpático a um dos últimos lançamentos que as distribuidoras e produtoras endereçam ao público masculino, foi escrito por uma mulher. Um olhar feminino sobre um filme de homem, alguns dirão. Me permitam corrigir. Um olhar humano sobre um filme de ação feito para fãs do gênero. Sejam eles do gênero que forem. Fica o manifesto para que mais mulheres sejam convidadas a falar sobre violência, tiros, super-heróis, faroeste, terror, documentários. Cinéfilas dispostas e talentosas existem por toda parte. A letra A no final da nossa característica não significa mediocridade, mas coragem.

Beijos da Bia e até o próximo texto.

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Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.

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