Uma Longa Jornada

Jan Troell conquistou admiradores com seus curtas-metragens e se tornou um dos maiores cineastas suecos

04/02/2017 20:57 Por Bianca Zasso
Uma Longa Jornada

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Ao deparar-se com a categoria cinema sueco em um site, uma programação de festival ou mesmo na descrição de um filme na TV, qual o primeiro nome que lhe vem à cabeça, prezado leitor? Aposto uma sessão com direito a pipoca (apesar de não gostar da combinação) que Ingmar Bergman foi um dos primeiros que sua memória recuperou. Compreensível, já que seus trabalhos são impecáveis e fica complicado escolher apenas um deles para chamar de obra-prima. Mas vamos pedir licença para o mestre e falar de outro sueco que também fez história na Sétima Arte, com direito a uma passagem pelo mais comentado, criticado e suspeito prêmio da indústria hollywoodiana, o Oscar. Jan Troell conquistou admiradores com seus curtas-metragens, o que lhe deu a oportunidade que muitos cineastas cobiçavam naquele final dos anos 60: adaptar a série de quatro livros do conterrâneo Vilhelm Moberg sobre a saga dos lavradores suecos que foram tentar uma nova vida nos Estados Unidos. O desafio resultou em dois filmes onde a natureza deixa de ser cenário e passa a ser personagem.

Os emigrantes, de 1971, e O preço do Triunfo, lançado no ano seguinte, abrange os trechos mais intensos da obra de Moberg, que inicia com a crise da terra, que já não garante o alimento da família de Karl Oscar e Kristina, interpretados por Max Von Sydow e Liv Ullmann que, pelas mãos de Troell, passam por uma metamorfose única em suas carreiras. O solo repleto de pedregulhos da região de Smalanda serve de metáfora para os corpos cansados e tensos de seus moradores. O plantio é trabalhoso e a colheita nem sempre é o destino. A fotografia, que no primeiro filme vai ser quase que exclusivamente nos tons de marrom e verde, se intensifica após a tomada de decisão de Karl Oscar e outros habitantes de deixarem para trás a Suécia e buscarem o “Novo Mundo”. As sequências no navio trazem uma câmera próxima e até mareada em certos momentos, refletindo o ambiente medieval que se constrói oceanos a dentro. Doenças, comida escassa e morte entram para a ordem do dia, colocando a dúvida na alma dos personagens e do público, que teme não encontrar a nova terra ao fim do filme.

Já a segunda etapa da aventura é mais solar. O calor americano traz junto com a esperança a garantia de uma safra forte. Um dos medos que assolavam os suecos, a fome, já não está mais presente. O trabalho é duro, mas a recompensa mantem firme a ideia de que “todos serão ricos na América”. No entanto, o mesmo sol que faz brotar as sementes também queima os que rumam para a Califórnia em busca do ouro. O irmão de Karl Oscar, Robert, acompanhado do amigo Arvid, delira pelos caminhos secos na fantasia de enriquecer longe das plantações. Jan Troell realiza alguns dos mais belos planos de O preço do triunfo neste percurso, sempre atento aos detalhes da natureza e as mãos dos atores. Gestos falam mais que olhares, segundo ele.

Os emigrantes e O preço do triunfo chegaram ao mercado brasileiro em 2016, pela distribuidora Obras-Primas do Cinema, reunidos em um DVD duplo, tendo como extras entrevistas com o diretor e a atriz Liv Ullmann. Para quem, como esta que vos escreve, só tinha ouvido falar de Jan Troell por meio de livros de cinema, foi a oportunidade de entender os motivos pelo qual seus trabalhos encantaram Hollywood e renderam 5 indicações ao Oscar para Os emigrantes. E, como era de se esperar, saiu de mãos abanando da premiação. O homem dourado até reconhece talentos, mas sempre faz questão de manter seus troféus em solo americano, o mesmo cultivado com garra e sonho pelos suecos.

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Sobre o Colunista:

Bianca Zasso

Bianca Zasso

Bianca Zasso é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Durante cinco anos foi figura ativa do projeto Cineclube Unifra. Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Ama cinema desde que se entende por gente, mas foi a partir do final de 2008 que transformou essa paixão em tema de suas pesquisas. Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands. Como crítica de cinema seu trabalho se expande sobre boa parte da Sétima Arte.

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