A Paixao Sexual em Grau Absoluto

O Imperio dos Sentidos permanece como um imperio cinematografico ao qual, volta e meia, todos devemos aportar

12/05/2025 02:36 Por Eron Duarte Fagundes
A Paixao Sexual em Grau Absoluto

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O império dos sentidos (no original japonês, Ai no Korida; em sua distribuição internacional, no idioma francês, L’empire des sens; 1976) é a filmagem da paixão do sexo no instante mesmo em que parece acontecer. O japonês Nagisa Oshima filmou esta ousadia erótica um pouco como um documentário das relações sexuais: os atores Tatsuya Fuji e Eiko Matsuda não simulam, executam o sexo diante das câmaras. De uma certa maneira, eles parecem um pouco viver o sexo como demência íntima que é a base de suas personagens históricas, o casal de amantes que no Japão dos anos 30 do século passado leva o amor ao sexo e o sexo ao amor de forma tão perturbadora e instável que o trágico desenlace se encaixa na construção do rito edificado por Oshima. Em seu tempo, e talvez em toda a história do cinema, somente O último tango em Paris (1972), do italiano Bernardo Bertolucci, pode equiparar-se ao filme de Oshima na utilização de excertos documentais para recriar ficcionalmente uma história da tragédia sexual; e ambos, e cada um a seu modo, atingem profundas obscuridades do homem para se acercar do tema da paixão que lenta e indelevelmente perde o controle, aproximando vida e morte. Numa das cenas finais, Sada mata por asfixia a seu amante, assim como, em Bertolucci, Jeanne dispara contra Paul, matando-o; sim, em Bertolucci o sexo é encenado, mas a cena da cópula anal, soube-se depois, constrangeu a jovem atriz Maria Schneider, sim, em Oshima a morte não vem depois do sexo mas junto com o sexo. A radicalização de filmar de Oshima é um dado muitas vezes obscurecido em O império dos sentidos em face da epiderme sexual constante ao longo de suas imagens.

No início do filme, um velho vê uma prostituta de quem já foi cliente e quer tê-la, ali, na rua mesmo; instando com ela, tiritando diante da neve do inverno japonês, balbuciando-lhe que já fora cliente dela, ele a abraça, ela busca o órgão sexual do velho, o que ela vê e sente em suas mãos é um pau mole, falido já sexualmente. Nas cenas que se desenvolverão no filme, a virilidade do amante de Sada derrama o sêmen na boca da mulher num dos mais inquietantes primeiros planos da história do cinema, um autêntico império dos sentidos; Sada empresta seu amante a uma velha, que, após o ato sexual, perde os sentidos e morre, gozo e morte se juntam; o homem introduz na genitália de Sada um ovo, o espectador vê aquele ovo afundando na caverna escura da mulher e depois Sada de cócoras expele o ovo como se fosse uma galinha, assim que o ovo sai, Sada obriga o amante a comê-lo, o que ele o faz com debochado prazer. Mas talvez a sequência mais notável, em tensão plástica e trágica, é o sexo final: vemos no fundo do plano o pau entrando na mulher, subindo e descendo, no espaço de plano mais próximo as mãos de Sada manipulam um lenço para asfixiar aos poucos o pescoço do amante, aumentando o desejo carnal e mortal, dele e dela. Depois, vem a castração e o sangue. E os delirantes instantes finais em que Sada está num cemitério, louca e memorialista, cercada da zombaria das crianças. O império dos sentidos permanece como um império cinematográfico ao qual, volta e meia, todos devemos aportar.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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