Os 120 Anos de A Maquina do Tempo

Boa oportunidade para esses dias de isolamento social reencontrar um classico que mostra a ilimitada criatividade de um homem como H.G.Wells

04/04/2020 13:43 Por Adilson de Carvalho Santos
Os 120 Anos de A Maquina do Tempo

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“HÁ QUATRO DIMENSÕES CONHECIDAS PELO HOMEM, TRÊS DAS QUAIS DENOMINAMOS OS TRÊS PLANOS DIMENSIONAIS DE ESPAÇO, E UMA QUARTA É O TEMPO”

(WELLS, H.G – A MÁQUINA DO TEMPO)

 

O homem do final do século XIX estava em um momento de transição na forma de se relacionar com o mundo a sua volta. Com a criação do automóvel aprendera a se locomover mais rápido, com o telefone pôde se comunicar entre as distâncias, substituiu o vapor pela eletricidade e vivia todas as transformações advindas do progresso. O homem ampliava o horizonte à sua frente e descobria novas possibilidades graças a esse avanço da ciência. A literatura não demorou a incorporar o impacto de novas descobertas à fértil imaginação de autores que desbravavam novas fronteiras. Foi assim que Hebert George Wells publicou, aos 29 anos, “A Máquina do Tempo” (The Time Machine).

Era o ano de 1895 e embora existissem histórias que falavam em viagens no tempo como “Um Conto de Natal” (A Christmas Carol) de Charles Dickens, e “Um Yankee na Corte do Rei Arthur” (A Yankee at King Arthur’s Court” de Mark Twain; nelas o deslocamento temporal se dava por efeito de mágica ou algum poder sobrenatural, sem qualquer base científica. Foi Wells quem deu à viagem temporal um apuro mais racional ao descrever, ainda que sem grandes detalhes, uma ferramenta física capaz de transportar um homem através do corredor infinito das eras. Na história, um homem (cujo nome não sabemos) reúne seus amigos para anunciar sua invenção: uma máquina capaz de se deslocar não pelo espaço (através das três dimensões conhecidas), mas através do tempo. Claro que seus amigos o recebem com ceticismo, apesar do brilhantismo de suas teorias. Decidido a provar seu intento, o homem se senta na poltrona diante do aparentemente simples painel de sua máquina, composto de duas alavancas e um cronômetro, e desaparece por uma semana. Ao retornar diante do olhar preocupado de seus amigos, ele narra sua incrível jornada ao ano 802.701, um futuro longínquo em que a humanidade foi resumida a duas raças: Os Elois, de porte pequeno e feições belas e os Morlocks, criaturas disformes e de hábitos canibalescos que vivem nos subterrâneos e se alimentam dos Elois. Estes são completamente indefesos e levam uma vida contemplativa e passiva. O viajante se revolta com os descendentes da raça humana e a total falta de perspectiva de evolução seja natural ou social.

Apesar do impacto de tentar alertar os leitores do futuro sombrio ao qual a raça humana pode se condenar, H.G.Wells usou da ficção científica como metáfora para retratar as contradições da era vitoriana: O abismo entre burguesia e proletariado observado com a Revolução Industrial, a luta de classes preconizada pelas teorias marxistas, a evolução das espécies de Darwin formam um conteúdo de sub-leitura em “A Máquina do Tempo”, bem como em outras obras do autor, ecos de sua visão apurada capaz de questionar o presente falando do que está por vir. Wells usou do artifício da viagem ao futuro para tecer sua visão crítica de um processo de industrialização selvagem que ignora a condição humana.

Foi o diretor e produtor austríaco, naturalizado americano George Pal (1908-1980), um dos mestres da ficção cientifica nos primórdios do gênero, quem adaptou “A Máquina do Tempo” para o cinema, completando 60 anos. Pal já havia trazido “A Guerra dos Mundos”, outro romance de H.G Wells, para o cinema em 1952. Sua versão de “A Máquina do tempo” (The Time Machine) deu ao viajante um nome (coisa que no livro foi omitido pelo autor), curiosamente seu próprio nome George, e que também alude ao nome do meio do autor inglês, conforme mostrado na placa colocada no painel da máquina. O filme dá a data de 12 de Outubro como a chegada de George no futuro, uma metáfora para a chegada em um novo mundo, já que foi esta a data de chegada de Colombo na América. A princípio Pal pensou em David Niven ou James Mason para o papal do viajante, mas depois reconsiderou usar um ator mais jovem, capaz de imprimir uma ação mais física, contratando o jovem australiano Rod Taylor, de 30 anos. Este vinha de papeis coadjuvantes e teve em “A Máquina do Tempo” seu primeiro papel de protagonista, anterior mesmo à sua escalação para “Os Pássaros” por Alfred Hitchcock. Já Yvette Mimieux, intérprete de Weena, tinha 17 anos quando começou a filmar seu papel. Era sua estreia no cinema, e a bela atriz cativou direção e elenco praticamente aprendendo a atuar nos sets de filmagem de “A Máquina do Tempo”, completando 18 anos à medida que estas progrediam. Algumas de suas cenas chegaram a ser regravadas conforme a atriz melhorava sua postura diante das câmeras

Apesar do orçamento inferior a um milhão de dólares e da impossibilidade de gravar em Londres, Pal fez um excelente trabalho de transformar os estúdios de Culver City na California na Londres Vitoriana do início da história, e depois no mundo distópico de Elois e Morlocks, chegando a reaproveitar os sets de filmagens de filmes como “O Planeta Proibido” (1958). O filme fez uma bilheteria impressionante de US$1,610,000 só nos Estados Unidos, além de ter ganho o Oscar de melhores efeitos especiais no ano seguinte. George Pal alimentou durante muito tempo a vontade de fazer uma sequência para “A Máquina do Tempo”, mas morreu antes de conseguí-lo. Em 1993, o diretor Clyde Lucas realizou um documentário que mistura a ideia de sequência da história como pretendida por George Pal. “The Time Machine: The Journey Back” teve apresentação de Michael J.Fox de “De Volta Para o Futuro”. A história de Wells chegou a ser refilmada em 2003 pelo próprio neto do autor, Simon Wells, mas sem dúvida que o filme de Pal marcou uma geração, já disponível no formato DVD/Blu-ray pela Warner Home Video. Boa oportunidade para esses dias de isolamento social reencontrar um clássico que mostra a ilimitada criatividade de um homem como H.G.Wells cujo impacto ainda se faz sentir nas artes cinematográficas.

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Sobre o Colunista:

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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