O Naturalismo e a Natureza Como Cinema

A evolucao do cinema do pernambucano Gabriel Mascaro em Ventos de agosto (2014) eh um dado exultante em termos de narrativa cinematografica

03/03/2020 14:26 Por Eron Duarte Fagundes
O Naturalismo e a Natureza Como Cinema

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Do que se conhecia de Doméstica (2013) a evolução do cinema do pernambucano Gabriel Mascaro em Ventos de agosto (2014) é um dado exultante em termos de narrativa cinematográfica. Um pouco da ingenuidade formal e temática de filmar do realizador que abundava naquele documentário de 2013 vai tornar à cena nestes ventos litorâneos nordestinos onde os físicos dos dois jovens atores centrais são expostos cruamente numa natureza igualmente crua; mas agora Mascaro sabe usar esta ingenuidade ou este desalinho dentro de um rigor plástico lento e preciso que vai muitas vezes apaixonar o espectador. Na primeira cena uma embarcação cruza lentamente as águas saindo de entre uma vegetação para a clareira aberta do mar; o filme como um todo age assim: sai sem pressa de seu casulo para dialogar com o observador.

Quando, no barco, a atriz Dandara de Morais, de biquíni, tomando sol, joga refrigerante sobre seu corpo, inclusive para debaixo do sutiã, como para refrescar-se ou por provocação erótica para a câmara, ou quando num plano-sequência a garota lá pelas tantas tira o biquíni, ficando nua, em seguida debruçando-se ou emborcando-se sobre o chão do navio, mostrando em primeiro plano suas nádegas pretas, ou ainda em outra cena em que a menina e o rapaz aparecem após um possível ato sexual, as genitálias à mostra, em todas estas amostragens cinematográficas ressalta-se a precisão com que Mascaro associa às personagens a selvageria da natureza. Mascaro interpreta em seu filme um pesquisador de ventos alísios. Não deixa de ser uma ponte metafórica entre a diegese e a  extradiegese do cinema de Mascaro: como cineasta, ele nunca deixa de ser um pesquisador de ventos; como sua personagem dentro do filme.

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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