Em Busca dos Filmes Perdidos 2
Volto a comentar alguns filmes antigos que por alguma razão nunca consegui assistir antes e curiosidades de lançamentos
Volto a comentar alguns filmes antigos que por alguma razão nunca consegui assistir antes e curiosidades de lançamentos. Sempre relembrando que uma de minhas manais é ir atrás de filmes que por alguma razão não consegui ver quando criança ou adolescente, em parte porque naquela época não se tinha dinheiro para comprar ingresso e muito menos tentar ver filmes B ou C. Só agora estou vendo como são divertidos... Vamos lá!
A Torre dos Monstros (The Black Sleep)
Agora com a marca MGM! Em 1956, uma firma chamada Bel Air com ajuda da United Artists, fez um clássico de terror kitsch passado na Inglaterra em 1872 e que marca o encontro de pelo menos seis grandes do gênero, todos eles já em plena decadência (provocada pela idade), mas ainda felizes por estarem em ação. O protagonista é Basil Rathbone,(1892-1967) famoso espadachim rival de Errol Flynn e astro de uma série de filmes como Sherlock Holmes, austero, de voz cristalina que faz o papel do medico louco e maldito, Sir Joel Cadman, que é literalmente um médico louco, que sequestra as vítimas, prende num castelo, e lhes abre o cérebro para tentar salvar a esposa que tem tumor no cérebro. Não é comédia, embora provoque varias vezes o riso devido a pobreza geral da direção de arte, mas curiosamente dois dos grandes do terror entram mudos e saem calados, Lon Chaney Jr (1906-73, filho do famoso homônimo do cinema mudo e que trabalharia ainda muito embora seja mais famoso por seu O Lobisomen, de 41). O outro caso é mais triste porque se trata do lendário Bela Lugosi, 1882-1956, criador de Drácula e que em seu último filme entra mudo e sai calado (passa-se por silencioso, porque já estava muito doente).
Mas não para por aí, temos ainda o chefe da família Carradine, John (1906-88), pai de David, Keith e Robert Carradine, fazendo aqui um pregador enlouquecido. Resta ainda a melhor participação de todas, com um famoso coadjuvante russo que foi Akim Tamiroff (1899-1972) indicado ao Oscar por Por Quem Os Sinos Dobram e O General Morreu ao Amanhecer e que está esplêndido como alivio cômico (o único deles que tem a coragem de cair na comédia!). É preciso não esquecer o diretor Reginald Le Borg, austro húngaro, 1902-89) especialista no gênero e filme B ou C. Certos filmes a gente não descreve mas os desfruta. Com risos e por que não muita alegria.
The Twilight People - Direção de Eddie Romero (1924-2013)
É um fato esquecido e muito divertido. Quando o cinema começou a fazer sucesso nas Filipinas, já estava por lá e chamava-se Enrique Romero, indo se tornar com a passagem do tempo, o diretor mais famoso daquele país, super celebrado com prêmios e tendo realizado cerca de 65 filmes, a maior parte deles inéditos no Brasil. Mas possivelmente é o pior cinema de sua época, amadorístico, pobre, sempre ridículo. E onde ele também escrevia os roteiros. Por curiosidade vim a descobrir este que foi co-produzido por uma já não tão jovem ator americano chamado John Ashley, 1934-97, que conseguiu trabalho na produtora de filmes de surf, American Internacional, de Monstros e Beach Parties, até quando virou produtor de séries e ficou amigo de Romero, se tornando astro e produtor de filmes de ação, guerra e monstros. Foi casado com a atriz já falecida Deborah Walley, que foi Gidget. Neste filme a única figura conhecida é justamente a atriz negra Pam Grier (que foi ressuscitada com o Jackie Brown, de Tarantino, Fuga de Los Angeles e antes disso pelo filmes Black, como Foxy Brown. Tem 102 créditos, sendo que aqui ela faz o papel de Ayesa, The Panther Woman.
Descrever o filme é difícil porque nem por um momento eles tÊm coragem de assumir o ridículo e a pobreza, com as piores maquiagens jamais feitas e as interpretações que nem Zé Mojica conseguiria imitar (ao menos ele sempre teve senso de humor!). O resumo seria mais ou menos assim: um cientista sequestra um rapaz e o transporta para uma ilha com a intenção de transformá-lo numa espécie de super homem. Este tenta fugir com a ajuda da filha do cientista e um grupo de criaturas meio humanas meio animais. Embora os negativos sejam restaurados nos dois filmes que comento, acredito que ele mereça um monumento dentro os “piores filmes de todos os tempos”. Uma delícia.
Melissa MacCarthy é (ou foi!) Alma da Festa (Life of the Party)
Certamente é injustiça misturar este filme que estaria previsto apenas para estrear aqui em 30 de agosto com os outros que mencionei que são autenticamente clássicos do kitsch, do humor, da paixão pelo cinema a qualquer custo. Porque é muito mais triste se ver uma comediante que estava fazendo uma bela carreira em cima da sua simpatia e de seu tipo de gorda adorável. Falo de Melissa McCarthy, que fez bem televisão (nas séries Gilmore Girls e Mike & Molly). Na verdade ela estourou mesmo com uma comédia excepcional, das melhores de sua época, Missão Madrinha de Casamento (2011) onde Melissa brilhou. Dali em diante foi tropeçando um pouco, mas teve outros bons filmes: Uma Ladra Sem Limites, As Bem Armadas, Se Beber não Case III, A Espiã Que Sabia de Menos...
Até o dia em que foi mordida pelo velho sintoma do show business. Quando uma estrela (ou astro) faz sucesso e tem um marido (ou esposa) que não deu certo nunca, é impossível controlar o ciúme. Para não acabar com o casamento o jeito é fazer com que ele seja co-produtor e logo depois também diretor! (no caso se chama Ben Falcone). Não importa se não tem nem tipo, nem talento. Marido manda se não o casamento acaba. E elas preferem perder o sucesso do que ficar sem ele. Essa é a lição do filme acima, que ainda assim certa bilheteria (61 milhões ate agora) apesar de ser massacrado pelos críticos.
O problema é que ele é redundante, imita diversos outros e não tem qualquer (Ok, não tem muita graça, apesar do marido sumir da tela logo no começo). Os críticos se divertiram lembrando que o filme se trata de um remake pouco disfarçado de outros sucessos como De Volta as Aulas (Back to school, 86), além de situações semelhantes outros filmes (tipo peixe fora da água, como outros dela, como Tammy, 14, Fora de Controle e A Chefa/The Boss, 16). Ou seja, está caminhando para o desastre.
Ou seja, é a velha história de uma mãe de família que leva a filha para seu último ano de escola secundária, quando o marido lhe da notícia que vai se casar com outra e tem todos os bens no nome dele (o que é mal aproveitado). Resolve então voltar para as classes e passa por vários vexames, mas como é simpática e divertida, supera as pretensiosas ao ponto de conseguir um show de Christina Aguillera. Mas não adianta muito porque já se foram as boas piadas (ainda que com a ajuda de algumas figuras competentes como Maya Rudolph e a australiana Jackie Weaver). E nossa estrela vai indo de mal a pior.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.